O lugar dos Museus na salvaguarda e valorização do património da Igreja

Maria de Fátima Eusébio, Departamento dos Bens Culturais, Diocese de Viseu

Nesta área das exposições As peças de arte sacra, de diversas tipologias, que compõem o vasto património da Igreja Católica foram maioritariamente executadas para integrar espaços religiosos, com um enquadramento funcional ou/e devocional específicos. A preservação dos objectos nos espaços para os quais foram executados constitui a orientação preferencial, desde que salvaguardadas as necessárias condições de conservação e de segurança. Esta permanência in situ dos objectos reivindica que se adoptem procedimentos de conhecimento, de inventariação, de conservação e de restauro apropriadas, e se criem as condições para que possam ser fruídos não só pelas comunidades religiosas locais, mas também por outros potenciais públicos.

Contudo, as dinâmicas evolutivas próprias dos diferentes períodos determinaram que muitos objectos fossem retirados dos espaços de origem e remetidos para sacristias, casas paroquiais e particulares, arrumos, etc., aumentando os factores de vulnerabilidade e perdendo o seu enquadramento original. Estas peças admitem um novo enquadramento, de cariz museológico. A sua integração numa colecção museológica pode constituir um recurso estratégico para a sua preservação e valoração em diversas perspectivas. Os projectos expositivos têm favorecido um acréscimo do conhecimento do património religioso, promovendo a sua inventariação e a realização de acções de investigação, e têm possibilitado a execução de intervenções de conservação e restauro, mais exigentes, criteriosas e responsáveis, fundamentais para a sua preservação. Simultaneamente, ainda que as peças não se encontrem expostas, a sua integração num Museu possibilitará o seu acondicionamento em condições materiais, ambientais e de segurança adequadas.

Esta incorporação dos objectos de arte sacra em museus ou colecções visitáveis deve ser assumida como fundamental para a salvaguarda e valorização do património da Igreja, mas exige uma reflexão alargada sobre as realidades museológicas específicas a implementar, a sua adequação à diversidade de patrimónios a salvaguardar e aos territórios que lhe estão associados. Os contributos válidos destas estruturas podem diluir-se em situações de excessiva proliferação de espaços erradamente denominados de museus.   

Neste âmbito, é fundamental sensibilizar as comunidades paroquiais para a impossibilidade de existir um “museu” em cada paróquia, tanto na perspectiva da sua sustentabilidade como no horizonte de interesse cultural. Os espaços museológicos devem apresentar-se qualificados e não um mero amontoado de peças, sem um discurso expositivo coerente e articulado, visitados pontualmente. A instalação de colecções de obras de arte religiosas só se justifica em situações em que se verifique a existência de um espólio com interesse histórico e artístico significativos, instalações adequadas, recursos humanos e técnicos, uma programação atractiva, diversificada e inovadora. Torna-se premente que várias paróquias se associem e congreguem esforços para a instalação de núcleos museológicos em espaços qualificados, com os meios técnicos e humanos necessários. Na escolha do espaço para exposição podem ser equacionados os edifícios religiosos que já não se encontrem ao culto.

Os Museus da Igreja, destinados a acolher as colecções de arte sacra, constituem espaços de memória e identitários, que contribuem para o incentivo à fruição de um património com características particulares, que para além do seu valor histórico e estético possui também um valor religioso que não deve ser esquecido na construção do percurso museológico, na concepção dos materiais de informação e de divulgação e na comunicação a desenvolver. Ainda que remetidas para a condição de objecto de museu, as peças de arte sacra devem ser apresentadas e valoradas também pelas suas potencialidades de evangelização. Nesta perspectiva, são fundamentais os serviços de extensão cultural para a preparação de visitas orientadas e de actividades adequadas aos diferentes públicos e a objectivos diferenciados. A abordagem das peças deve ser entendida numa perspectiva global e integradora das vertentes cultural e religiosa. Só assim estes equipamentos se podem assumir como projectos culturais e pastorais sólidos, ao serviço de públicos diversos, entre os quais as comunidades cristãs, onde as colecções reflectem a identidade própria da Igreja.

 

Maria de Fátima Eusébio,

Departamento dos Bens Culturais, Diocese de Viseu

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