O Espírito Santo e nós

João Aguiar Campos

Disse há dias que posso ter um cardeal preferido para Papa; mas acrescentei que após a declaração de Jean-Louis Tauran, a quem caberá anunciar o nome do novo eleito, conhecerei o meu Papa preferido.

Afirmo-o convictamente, pois inscrevo-me no número dos que acreditam que o Espírito Santo é a alma da Igreja e que Ele inspira os cardeais eleitores na sua reflexão crente.

Envolve-me, por isso e apenas, um mero manto de curiosidade e de expectativa — sem o mínimo receio de quem virá tomar conta da vinha, como fiel administrador e nunca como dono. Ou, se quisermos utilizar a metáfora da barca, estou seguro de que o escolhido terá a força e a sabedoria de pescador ciente dos hábitos dos cardumes e da força das correntes ou marés.

Dito isto, confesso também que não me escandaliza a azáfama dos meios de comunicação social tentando adivinhar resultados, pois compreendo (e vivo) a necessidade de preparar dossiês que permitam, no minuto seguinte ao fumo branco, dizer quem é quem e algo mais que isso. Simultaneamente, não deixo de registar o cuidado de muitos que, embora absolutamente alheios à Igreja e íntima ou publicamente críticos do seu passado e desinteressados do seu futuro, se esfalfam em debater perfis ou sugerir escolhas. Possivelmente tendo já ensaiado ou escrito o discurso da desilusão…

Uns e outros têm em conta as mais comuns chaves de leitura. Os crentes sabem, contudo, que estas não são de todo aplicáveis no caso em apreço; porque sabem que, independentemente dos homens que servem a Igreja, ela não lhes pertence, definitivamente; nem os seus pecados têm, apesar de escandalosos, suficiente força destrutiva!…

Antes de se recolher ao silêncio em Castel Gandolfo, Bento XVI exortou-nos a viver esta segurança: «a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida. (…) Deus guia a sua Igreja, sustenta-a sempre e sobretudo nos momentos difíceis».

Esperemos, pois, em atitude orante, sabendo que, como diz Paulo (Rom 8,26), «o Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza» e «intercede por nós com gemidos inefáveis».

Admitiria, por isso, de bom grado, que o cardeal Tauran introduzisse uma ligeira inovação no anúncio que há-de fazer à Praça de S. Pedro e ao mundo: depois do alegre «Habemus Papam», bem poderia declarar: «o Espírito Santo e nós escolhemos o eminentíssimo e reverendíssimo Senhor, Cardeal da Santa Igreja F…., que se impôs o nome de…»

Não vai ser assim; mas, para mim, é como se fosse!

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