Ana Margarida Chagas, Chefe Regional de Setúbal do CNE
Podia começar este artigo com um “Era uma vez…”, já que era o tema que nos inspirava parte do ano. Um ano de Acampamento Regional, com cerca de 2500 jovens inscritos, sonhando já com grandes aventuras!
Era noite de 10 de março, estávamos em reunião de Executivo da Junta Regional, tudo normal, não fosse um tema diferente em “cima da mesa”: um VÍRUS! Ainda tivemos tempo de brincar com isso, distribuindo abraços, entre chalaças…
A questão era a “suspensão de atividades”, o que fazer e o que recomendar aos agrupamentos, face às notícias. Prontamente, deliberamos encerrar, adiar, cancelar. Soava a estranho, mas a prudente.
Quando tudo era novo, o CNE, emitindo orientações, não se hesitou por um minuto, dando um belíssimo exemplo de responsabilidade social! Afinal, ninguém sabia “andar nisto”.
Era hora de “ficar em casa”, mas também de AGIR!
Havia que contactar os dirigentes, pedir recato, mas Alerta máximo, manter a chama acesa, continuar a fazer Escutismo e, sobretudo, não suspender a Promessa de Escuteiro.
E como fez tanto sentido a divisa “Sempre Alerta para Servir”?!
Alinhando-nos com a Diocese e com os Chefes de Agrupamento, não quisemos defraudar. Há um papel que é nosso na Igreja de Setúbal!
Transformámos a sede regional num quase “hospital de campanha”, fizemos serviço e, pelo exemplo, promovemos que outros o fizessem.
No meio do caos decisório, soam pistas, das vozes dos mais próximos, que nos ficam nas horas mais difíceis. É Jesus a fazer-se presente nas horas de caos!
Registo alguns ecos que foram determinantes: Desde logo, do meu antecessor, que lembra que “a Promessa Escutista não está suspensa”, ou do meu adjunto que se impele com um “vamos lá e que a necessidade não seja maior que a caridade”, ou da provocação do nosso Bispo, com um “É preciso sair do sofá e trazer o lenço bem gasto ao pescoço!”. É Setúbal a ser Setúbal!
Mas o tempo passou e a esperança de que fosse rápido esvaiu-se.
A possibilidade de manutenção do Acareg, que tinha ficado em aberto, foi a “facada” do ano – “CANCELADO!” – talvez tenha sido a decisão mais difícil, mas era preciso sossegar os dirigentes, as famílias, tirar pressão.
Fomos vivendo um Escutismo diferente e, chegados a junho, apareceu o “desconfinamento”. Depois de algumas medidas de alívio, vem o CNE levantar a suspensão, com um “Plano de Desconfinamento”, preparado cuidadosamente, com emissão de orientações para os agrupamentos e com muita vontade de AGIR. É a necessidade de aprender a fazer “Escutismo com Covid”, já que podemos ajudar a educar para ações coordenadas, acompanhadas e mais conscientes, mas é também deixar nas mãos das nossas Direções e Juntas Regionais e de Núcleo a reflexão séria das condições para a prática do Escutismo nestes tempos.
E aqui mudamos de registo.
Quando é chegada a hora de AGIR, devemos lembrar o aumento da responsabilidade de PROTEGER! Até aqui, foi fácil, com “todos” em casa. Mas, agora, queremo-los em ação e, aí sim, temos a grande obrigação de os proteger, sobretudo, deles mesmos!
Os impulsos, as saudades, as esplanadas, a necessidade de campo, tudo potenciará baixar a guarda!
É verdade que, em ambiente Escutista, é possível controlar, mas existe também a responsabilidade institucional de proteger o CNE e a Igreja de excessos de confiança.
É tempo de perder o tempo que for necessário, preparar o que aí vem, preparar o arranque de ano, com extremo cuidado, sabendo que vamos viver com isto.
É preciso, antes de mais, sentar os adultos em volta das orientações, que podem mudar consoante a evolução da pandemia, preparar as sedes, ouvir os pais, ouvir os guias, trabalhar com os Assistentes e, só depois, abrir “as portas”, ainda que sejam para as atividades de exterior.
Queremos muito! Não queremos parar! Nem podemos imaginar-nos de novo em casa!
Mas, é preciso trabalhar já, de forma prudente, lúcida e responsável. É preciso passar a traço fino o Sistema de Patrulhas e aplicar, com rigor, o Método Projeto.
É preciso rigor! O CNE sabe fazer isto como ninguém, apenas tem de fazer o que é certo, com tempo, para poder cumprir a sua Missão em pleno e poder orgulhar-se disso!
Da responsabilidade de AGIR, temos hoje a responsabilidade acrescida de PROTEGER…, porque, quando deixa de estar “regulado”, está nas nossas mãos!
Passamos a “estado de Alerta” e agora é connosco! Nem é novidade! Em “Alerta” estamos sempre!
Tomemos consciência que isto não é uma “coisa” só nossa. Trata-se do cuidado com a comunidade. O cuidado com o outro, que tanto nos é querido!
É para sair, viver com todas as cautelas, para não nos sujeitarmos a ter de voltar a sobreviver, como até aqui, porque assim não sabe a nada!
Ana Margarida Chagas
Chefe Regional de Setúbal do CNE