Sónia Neves, Agência ECCLESIA
Este artigo não é de opinião.
Assumidamente é um artigo de observação.
Numa das primeiras idas à praia, neste quase verão que já espreita, dei comigo sentada na toalha, embalada pelo som das ondas e as conversas imaginárias de uma criança de seis anos.
“Anda mar, chega cá aos pés”… “Mais um bolo peixinho, mais um bolinho regado”… eram as frases proferidas pela minha filha no deslumbramento de quem tem a praia só para ela, um mundo de portas abertas, onde a imaginação flui livremente, entre o bater das ondas e areia que faz cócegas nos pés.
Da minha observação atenta deparo-me num pai e filho, adultos.
A bola é o objeto de arremesso entre os dois, de cá para lá, de lá para cá, como se ali houvesse o encanto de dar e receber. Fui seguindo atentamente o simples jogo de atirar a bola um ao outro, quando reparo que o filho, coloca o dedo indicador a apontar a mão.
“Essa é a direita ou esquerda?”, perguntou o pai. Com a questão percebi que o simples jogo de entretenimento é mais do que isso. O pai, com toda a paciência e tempo do mundo, repete várias vezes: “esta é a mão direita, aquela a esquerda”. E o filho, de postura adulta mas com risos de criança, vai repetindo: “direita e esquerda”.
A paciência e amor que aquele pai carregava nos olhos a contemplar o seu filho.
O tempo e as repetições que ali fizeram sentido e faziam sorrir quem passava.
A dedicação do pai e o foco único do filho apontando ao pai, podiam estar ali só os dois, a praia era toda deles.
E, eu, no meu silêncio espantado, senti-me pequena.
Na segunda-feira de Pentecostes, aquele dia “em que foi lançada uma pedra num lago, as ondas não pararam e chegaram até nós”, trago este episódio de observação que nos dá a lição de tempo, de olhar o outro com compaixão e de paciência perante a diferença.
Que o tempo não nos falte para observar, saibamos desligar as tecnologias em momentos de família e “escutar com o coração” o que se passa no mundo que nos rodeia.