Novos caminhos para o trabalho da Igreja

Encontro Nacional das Migrações, em Braga, destaca importância do trabalho com os media e das mudanças em curso A importância das comunicações sociais na construção de preconceitos e as origens bíblicas das migrações estiveram em análise no Encontro Nacional da Pastoral das Migrações, que esta semana decorre em Braga. A comunicação “Quando os imigrantes não são notícia” lançou um olhar sobre a importância que os media têm na formação da sociedade. Eugénia Quaresma, da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), dá conta que muitos órgãos de informação têm “o cuidado de para não discriminar, excluir informação que em nada acrescenta à noticia”. A colaboradora da OCPM aponta que “alguns pormenores são fundamentais para a forma como a notícia é recebida”, indicando a raça como um exemplo. O rigor e a verdade são determinantes para a construção jornalística e para “veicular a ideia de pessoa humana”, refere Eugénia Quaresma à Agência ECCLESIA. A reflexão em torno da comunicação social pretendia “apelar para a consciência enquanto leitores e ouvintes, percebendo preconceitos que temos”. Um «proactivismo» foi solicitado aos agentes sociais e eclesiais, no sentido de dar atempadamente conta das diversas actividades que vão realizando, foi outra ideia sublinhada neste painel. Sobre a importância da comunicação social, Frei Francisco Sales, director da OCPM, lembra o contributo positivo que alguns programas da RTP Internacional, transmitidos ou gravados além fronteiras, prestam no “conhecimento das comunidades portuguesas”. Este reponsável lamenta apenas que estes conteúdos não sejam transmitidos a horas acessíveis do público em geral, pois, evidencia, “seriam um grande contributo para a sensibilização e para o acolhimento dos imigrantes”. Rosa Cabecinhas, autora de “Preto e Branco – A naturalização da discriminação social” (resultado da tese de doutoramento) participou no Encontro Nacional explicando que Portugal tem assistido, na última década, a algumas “mudanças significativas” no modo como os imigrantes são vistos pelos media. A criação do Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI, antes ACIME), em 1996, a campanha “Todos diferentes, todos iguais, o Ano Europeu contra o Racismo, em 1997, a criação da Comissão contra a Discriminação, em 1999, o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidade para Todos, em 2007, e, em 2008, o Ano Europeu do Diálogo Intercultural, foram algumas das mudanças positivas ocorridas na última década. Frei Francisco Sales reconhece as boas práticas que os últimos anos têm desencadeado e que, apesar de “correr o risco de criar reacções negativas” e poderem ter um «reverso da medalha» “o positivo desencadeado é sempre mais benéfico e visível”. O Director da OCPM acredita que neste Encontro Nacional, com o contributo dos oradores convidados, “estamos abrir horizonte em toda a problemática das migrações”. A expectativa no dia de hoje recai sobre a análise que Rosário Farmhouse, Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Inter-Cultural fará do Plano para a Integração dos Imigrantes. “Esta análise vai dotar os vários secretariados de um olhar político sobre as migrações, nomeadamente cruzar a acção local com as políticas nacionais”, finaliza Frei Sales. Assistencialismo versus anúncio A perspectiva bíblica do fenómeno migratório foi outro dos pontos analisados. Eugénia Quaresma, sublinha que perceber a herança migratória é essencial para fundamentar o trabalho que a Obra Católica Portuguesa das Migrações desenvolve. “Mais do que um serviço social, queremos ser sinal para a população migrante, dando testemunho”, indica. “O imigrante tem história, tem família e é esta que não poucas vezes está na base da decisão de emigrar”, explica Eugénia Quaresma, apontando a necessidade de se trabalhar pela concretização do reagrupamento familiar e indicando “ser uma aspiração legítima e humana”. Nova realidade juvenil Abordando as trajectórias sociais e culturais dos jovens portugueses no espaço europeu, este responsável explica que este painel “ajuda a perceber que contexto e expectativas encontram também os imigrantes no nosso país”. Duas realidades despontam – jovens que emigram e os emigrantes de segunda geração. Os jovens que “têm uma dupla pertença – a cultura de origem dos pais mas também a do país que os acolhe”, aponta o Director da OCPM. A emigração juvenil actual ganha contornos diferentes dos fluxos migratórios das gerações anteriores. A organização das próprias comunidades portuguesas nos países considerados de destino dos portugueses, mudou e “talvez não corresponda àquilo que os jovens procuram”. Frei Francisco Sales indica esta mudança como desafiante para o trabalho que a Igreja desenvolve junto das comunidades portuguesas emigrantes. O trabalho português desenvolvido em comunidades estrangeiras “pode já não ser resposta para os jovens”, adianta, ao mesmo tempo que “perdura o distanciamento face à Igreja do país de acolhimento”. Há por isso de traçar caminhos “para uma ponte entre as duas culturas”. No trabalho das missões na Europa “uma reflexão séria sobre os jovens terá de ser feita para encontrar respostas verdadeiramente adequadas às suas necessidades”, indica o Frei Sales. A criação do Observatório da emigração “pode ajudar, pois a nível oficial não há dados disponíveis que ajudem a compreender a abrangência do problema”.

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