«Novas Conversas»: A fé e a música no canto lírico de Cecília Rodrigues (c/vídeo)

Jovem de 28 anos espera pela abertura dos espaços culturais para «partilhar a música com colegas e público»

Lisboa, 28 jan 2021 (Ecclesia) – A cantora lírica Cecília Rodrigues assume a arte como a “melhor forma de descrever o divino no humano”, numa clara experiência de “transcendência” que, enquanto jovem cantora, quer assumir na sua vida.

“Se eu não tivesse fé, metade do que consigo transmitir quando canto, não existia. Desde os momentos de estudo aos momentos de palco, procuro estar em oração e aberta à fé. Sei que isso faz parte do meu bom canto. Faz parte do fruto do que apresento. Não arrumo a fé quando vou à missa, manifesta-se no meu canto”, explica à Agência ECCLESIA.

Com 28 anos e uma carreira que já a fez atuar em vários palcos nacionais e internacionais acompanhada de orquestras clássicas, Cecília Rodrigues cresceu com música em casa – o seu pai é cantor lírico – daí que a sua forma de “olhar o mundo” seja marcada pela arte musical.

“Não consigo separar a fé e a música e cada vez encontro essa junção mais clara. Comecei a cantar na igreja. Das coisas mais antigas que me lembro é ir para a igreja cantar, o meu pai com a viola e nós na missa a cantar”, recorda.

Cantora lírica, soprano do Coro Gunbenkian, Cecília Rodrigues manifesta-se compreensiva com as circunstâncias didatas pela pandemia, mas reconhece ter saudades de “partilhar a música com outros”.

“Tenho saudades de partilhar a música com os outros, não só com o público mas com os colegas músicos, do fruto que essa partilha faz surgir. Tenho saudades das palmas enquanto saudades das pessoas e dessa partilha que se realiza”, destaca.

Enquanto os palcos não abrem, importa não perder o “treino físico” e continuar a trabalhar o instrumento.

“Encerrar a cultura não se trata apenas de cancelar algo bonito que se faz, isto é o nosso ganha-pão e tem consequências práticas na vida dos artistas. Mas todos os setores, não apenas a cultura, estão na mesma situação. Há que ter alguma caridade com o que se está a passar e tentar manter a nossa atividade, em gravações, por exemplo. Fiz uma gravação de um colega do Coro Gulbenkian, Miguel Jesus, que se chama «Liberdade» e caracteriza o trabalho que se pode fazer enquanto artistas, juntos mas separados, cada um em sua casa”, recorda.

Cecília Rodrigues está a “montar reportório” para uma apresentação inicialmente prevista para fevereiro, mas o investimento não para uma vez que, explica, “o grande trabalho é feito nos bastidores”.

“Pode ter-se a ideia que um artista só o é quando partilha o seu trabalho, mas há muito trabalho feito nos bastidores e é interessante que neste tempo isso pode ser feito na mesma com bastante rigor e é importante manter o foco”, explica.

Com as dificuldades que uma carreira traz, o desafio de ser freelancer e pertencer a um mercado nacional ou internacional, a jovem reconhece ser “difícil manter o foco” se a procura se basear no sucesso ou no que falta tecnicamente.

“Há muitos motivos para desorientação. O foco tem de ser a arte em si, sentimo-nos um veiculo transmissor da arte, de uma mensagem específica, de forma positiva. A vida nunca será ideal e para um artista nunca será. Aproveitar ao máximo os momentos musicais a partilhar, e lembrar que a música tem de ser o maior objetivo sempre, vivê-lo e passá-lo aos outros”, destaca.

No trabalho enquanto cantora, Cecília procura aliar à música um maior conhecimento da palavra, procurando nela “motivação e resposta”.

“Em tempo de pandemia em que não posso estar a cantar, procuro investir na minha formação artística e de crescimento pessoal. Pode ser um tempo aparentemente seco e desamparado, mas o caminho é uma forma de arte e a arte não está apenas no fim”, afirma.

Para o final do ano Cecília Rodrigues tem casamento marcado, um projeto que se desenhava e foi confirmado com um pedido do noivo durante a pandemia em 2020, e que se vai concretizar nos meses finais de 2021.

“No deserto a vida manifesta-se e cresce. Ir ao encontro disso com o coração aberto, faz com que se possa viver, no momento mais improvável, algo de muito feliz e renovador”, resume.

‘Novas conversas’ é o mote das ‘Conversas na Ecclesia’ desde o início do ano, com o propósito de partilhar objetivos e desejos para 2021 de jovens de diversas regiões e latitudes, de segunda a sexta-feira, no sítio online da Agência ECCLESIA e na sua página na rede social Facebook.

LS

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