Nota Pastoral do Bispo de Angra sobre o Ano Paulino

Um ano a caminhar com S. Paulo Em comunhão com a Igreja Universal, vamos celebrar o Ano Paulino, entre 28 de Junho de 2008, Vigília da Solenidade de S. Pedro e de S. Paulo, até 29 de Junho de 2009. Para comemorar os 2.000 anos do nascimento do Apóstolo das Gentes. Assim o promulgou Bento XVI, que, ao mesmo tempo, convocou para Outubro de 2008, o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja. Apóstolo da Palavra S. Paulo é o grande Apóstolo da Palavra. O Ano Paulino será uma oportunidade, para sublinhar de novo o Primado da Palavra na vida cristã e na missão da Igreja. Aprofundando o conhecimento das Cartas de S. Paulo. Após a Celebração do Grande Jubileu da Encarnação, a Diocese promoveu um Triénio Pastoral sobre a Palavra. Nos últimos anos, a nossa atenção incidiu na Pastoral do Domingo, centrado na Eucaristia. Não são alternativa uma à outra, mas complementares. Convocada pela Palavra, a comunidade cristã tem o seu centro e vértice na Eucaristia. «Mistério da Fé», a Eucaristia só pode ser celebrada e vivida à luz da fé. E, como adverte S. Paulo, «a fé nasce da pregação e o instrumento da pregação é a Palavra de Cristo» (Rm 10, 17). Foi a perspectiva do Concílio Vaticano II, que valorizou sobremaneira a Liturgia da Palavra. O episódio dos discípulos de Emaús ilustra bem esta complementariedade entre Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística. «Reconheram-No, ao partir do pão» (Lc 24, 25), porque antes a sua inteligência fora iluminada pelas Escrituras e o seu coração abrasado pela Palavra do Senhor. O Ano Paulino constitui, pois, um forte apelo a dar o devido lugar à Palavra. Desta feita, redescobrindo a riqueza dos escritos do Apóstolo das Gentes. Para propor e transmitir a fé na sociedade actual. Com Paulo e como Paulo. As suas Cartas são continuamente proclamadas na Liturgia. Mas, pouco comentadas nas homilias, que normalmente privilegiam o tema unificado da 1ª leitura e do texto evangélico, descurando a aplicação paulina da 2ª leitura. «Neste Ano Paulino, temos de pressentir por que caminhos nos conduziria Paulo, se partilhasse hoje, connosco, a missão evangelizadora da Igreja… Paulo foi o maior evangelizador de todos os tempos. Ele continua a ser exemplo inspirador do ardor da evangelização e da natureza específica do anúncio querigmático» (Nota Pastoral da CEP, Ano Paulino: Uma Proposta Pastoral, 2008, nº 4). Anúncio querigmático Tanto para os que estão longe ou se afastaram da Igreja, como para os praticantes regulares e irregulares. Urge anunciar de novo e de maneira renovada Cristo Jesus. Oportunamente e inoportunamente. Na preparação e celebração dos Sacramentos, nas festas da Catequese e dos Padroeiros. Com a frescura e o ardor do 1º anúncio. Como Paulo. Ele é o grande guia da «Nova Evangelização» ou re-evangelização. A Paróquia não é uma espécie de «clube de perfeitos». Nem um «gabinete de controle» da fé, no seio da comunidade. Também não é «estação de serviço», para satisfazer usos e costumes sociais. É sinal e instrumento de salvação, trazida por Cristo. É preciso acolher as pessoas assim como são. Sem fingir que tenham motivações de fé, que tantas vezes não têm. Ou está esmorecida. Trata-se de anunciar o Kerygma, todas as vezes que aparecem e trazem os filhos à catequese, pedem os sacramentos ou o funeral religioso para um ente querido. Mas, atenção! O Kerygma não é como uma «pastilha elástica», que, quanto mais se mastiga, mais perde o sabor. Não é para repetir mecanicamente. O anúncio deve ter presente a sensibilidade e a linguagem das pessoas, os seus problemas e interesses. Sem querer impor o Evangelho. A evangelização é proposta. Nós, pastores, não somos meros gestores de uma empresa. Como Paulo, somos missionários, que anunciam Jesus Cristo, em todas as circunstâncias. Não temos, pois, que ficar amargurados com a indiferença religiosa. Nem sentirmo-nos incomodados, quando as pessoas aparecem. Nós é que devíamos procurá-las. Se vêm, melhor. «Paulo protagonizou, na sua experiência de Apóstolo, o alargamento do horizonte dos destinatários do Evangelho, problema actual, na relação da Igreja com a sociedade… A Igreja também hoje corre o risco de limitar o anúncio de Jesus Cristo àqueles, que continuam no seu redil, compreendem a sua linguagem e conhecem as suas leis e tem dificuldade em anunciar Jesus Cristo a uma sociedade cada vez mais secularizada» (Ibid.). S. Paulo interpela-nos, no sentido de reconduzir toda a acção pastoral ao seu núcleo central, que é a Pessoa de Cristo, sem o que não há verdadeira evangelização. A urgência da evangelização em Paulo brota do seu amor apaixonado por Cristo. Converteu-se, não por ter descoberto uma doutrina, fruto de mera reflexão humana, mas por ter encontrado Cristo, na estrada de Damasco. A partir daí, uma nova luz inundou a sua vida, que mudou. Ter fé não é apenas acreditar em verdades, mas aceitar Cristo como norma decisiva da própria existência. Foi o que viveu e ensinou Paulo. Nas suas Cartas, ele refere a dimensão da fé como conhecimento, mas insiste muito sobre a pessoa de Cristo, como objecto concreto da fé. O complemento normal do verbo «crer» é Jesus Cristo. Catequese catecumenal A «obediência da fé» (Rom 1, 5), que «actua pela caridade» (Gal 5, 6) e nos abre ao horizonte da esperança (cf. Rom 8, 24), é processo progressivo de identificação com Cristo, na Sua Morte e Ressurreição. Somos baptizados com Cristo, na Sua morte, para ressuscitarmos com Ele, para uma vida nova (cf. Rom 6, 4). «Paulo distingue a pregação querigmática – em que faz o anúncio de Jesus Cristo – da catequese às Igrejas, para o aprofundamento da identificação com Cristo…» (Ibid.). As Cartas, dirigidas às comunidades cristãs, são o seu principal instrumento catequético. Aprofundando o seu conhecimento, neste Ano Paulino, poderemos aperfeiçoar a nossa catequese, como processo contínuo de iniciação cristã, em estilo catecumenal, que vai concretizando a semente de vida nova, recebida no Baptismo. Tanto a Catequese da Infância e da Adolescência, como dos Jovens e dos Adultos. Sem deixar de ser doutrina, a Catequese, a todos os níveis, é sobretudo iniciação à prática da vida cristã. Por isso, neste Ano Paulino, não se trata apenas de promover Cursos e Jornadas, para saber mais coisas sobre os escritos do Apóstolo. Trata-se, sobretudo, de deixar-se guiar por Paulo, na progressiva configuração da própria vida com Cristo, para chegar a afirmar com ele e como ele: «Para mim, viver é Cristo» (Fil 1, 21). «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Daqui a utilidade do subsídio catequético – «Um ano a caminhar com S. Paulo» – proporcionado à CEP pelo Patriarcado de Lisboa e a Diocese de Coimbra. Para cada semana do ano. Destinado a todos os que desejarem reviver, catecumenalmente, o próprio Baptismo, a nível individual ou em grupo (famílias e movimentos, pastoral juvenil e grupos paroquiais…). Na Diocese, este subsídio catequético estará disponível nas Livrarias Católicas de Angra, de Ponta Delgada e da Horta. Outros subsídios serão proporcionados pela Família Paulista (Padres, Irmãs e Pias Discípulas). Experiência comunitária «Na sua catequese, Paulo não separa a vida pessoal do cristão da vida da Igreja: o cristão caminha em Igreja… Catequizando as Igrejas, faz uma catequese sobre a Igreja. Paulo acentua, antes de mais, a identificação da Igreja com o próprio Cristo… A Igreja é a nova dimensão do Corpo de Cristo, a nova fase do Mistério da Encarnação (cf. 1 Cor 12, 27; Rom 12, 5)… «O facto de as Igrejas serem a expressão da Igreja que Jesus Cristo quer e ama, faz da comunhão, na fé e na caridade, a grande exigência da unidade. Esta unidade não é uniformidade humana, mas a participação da unidade de Cristo com o Pai, no Espírito. Paulo exprime quase sempre esta dimensão transcendente da comunhão e da unidade, nas saudações com que inicia as suas Cartas às Igrejas (cf. Rom 1, 7; 1 Cor 1, 3). «A unidade das Igrejas é preocupação contínua de Paulo…A efervescência carismática, em algumas Igrejas daquele tempo é um problema real para esta construção da unidade. Os princípios que o orientam são de uma actualidade flagrante: não há dons do Espírito para benefício individual, mas são dons para toda a Igreja e só esta é o juiz do seu discernimento (cf. 1 Cor 12-14; Rom 12, 3-8; Ef 4, 1-16). O Ano Paulino é, pois, ocasião propícia para «uma reflexão pastoral sobre a verdade da Igreja e a maneira de construir a unidade da comunhão, na imensa variedade de carismas, que voltaram a enriquecer a Igreja do nosso tempo» (Ibid, nn 5-6). «Um ano a caminhar com S. Paulo» O próximo ano pastoral vai, ser, portanto, marcado pela celebração do Ano Paulino, que teremos presente nas Orientações Diocesanas para 2008/09. Entretanto, recomendo que, nas Paróquias, se assinale devidamente a abertura do Ano Paulino, na Solenidade de S. Pedro e S. Paulo. Eu presidirei à Missa da Vigília, na Paróquia dos Mosteiros e à liturgia da Solenidade, na Matriz de Ponta Delgada. Tenciono também presidir ao encerramento do Ano Paulino, na Ribeira Quente, única paróquia da Diocese, dedicada a S. Paulo. Nesta conformidade, aplicando à Diocese o Decreto da Penitenciária Apostólica sobre o Ano Paulino (10 de Maio de 2008), determino que, cumpridas as habituais condições, podem lucrar Indulgência Plenária os fiéis que participarem: * Na solene abertura e encerramento do Ano Paulino, em qualquer igreja. * Em celebrações evocativas do Apóstolo, realizadas na Paróquia de S. Paulo, Ribeira Quente. * Nas festas cristológicas, seja dos Santuários Diocesanos de S. Miguel, Pico e S. Jorge, como das paróquias da Praia do Almoxarife (Faial) e da Fazenda das Flores e bem assim da igreja de Santo Cristo em Santa Cruz da Graciosa. * Nas festas marianas, seja dos Santuários da Conceição e da Serreta (Terceira), como das capelas de Nossa Senhora de Fátima em Santa Maria, de Nossa Senhora da Paz em Vila Franca, de Nossa Senhora do Pranto no Nordeste, de Nossa Senhora das Mercês no Convento das Clarissas e bem assim da paróquia de Vila Nova do Corvo. Contanto que haja referência celebrativa à figura apostólica de S. Paulo. * Na Semana das Romarias Quaresmais, com igual evocação de S. Paulo, lendo e meditando, cada dia, extractos das suas Cartas. Sei que hoje já não estamos habituados a ouvir falar de indulgências. No entanto, esta antiga prática da Igreja, se devidamente compreendida, pode ajudar-nos a celebrar e a viver o Ano Paulino, como momento especial de graça e de conversão. Efectivamente, com a confissão e o perdão da culpa no Sacramento da Reconciliação, não fica consumada a nossa conversão. Há toda uma caminhada de «purificação» – nesta ou noutra vida – com vista a curar as feridas, provocadas pela desordem moral: verdadeiro «padecimento», que a tradição chama «pena» do pecado, expiada precisamente pela prática da indulgência, participação nos tesouros espirituais da «comunhão dos santos». Não de forma automática. Não se trata de sobrepor a acção humana à gratuidade de Deus. O que está em causa é a resposta livre do ser humano ao amor gratuito de Deus, que exige uma real mudança de vida, um longo caminho de «purificação». Nesse sentido a prática da indulgência pressupõe boas disposições interiores e o cumprimento de determinadas condições, que as suscitam e fortalecem: Confissão Sacramental, Comunhão Eucarística e Oração segundo as intenções do Sumo Pontífice. É nesta perspectiva do mistério da graça divina, tão evidenciada por S. Paulo, que nos propomos celebrar e viver o Ano Paulino, para darmos razões da nossa esperança. Tesouro, que levamos em vasos de barro. Para que resplandeça claramente o poder de Deus e a gratuidade do Seu amor. «Como é imensa a riqueza de Deus, a Sua sabedoria e ciência! Quem poderá explicar os Seus planos e compreender os Seus caminhos? Bem diz a Escritura: “Quem é que conhece os pensamentos do Senhor? Quem pode dar conselhos a Deus? Quem é que Lhe pode dar alguma coisa, para depois receber a paga”? É que tudo veio de Deus e tudo existe por Ele e para Ele. A Deus seja dado louvor por todo o tempo. Ámen» (Rom 11, 33-36). + António, Bispo de Angra Angra, 23 de Maio de 2008 Solenidade do Beato João Baptista Machado

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