Nicarágua: Regime político entregou mosteiro das Irmãs Trapistas ao Instituto de Tecnologia Agrícola

Governo expulsou um sacerdote e duas religiosas, que se dedicavam «ao serviço dos mais idosos»

Foto: Fundação AIS

Lisboa, 17 abr 20223 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) alerta que “as medidas repressivas contra a Igreja parecem de facto imparáveis” na Nicarágua, denunciando que, desde 11 de abril, o regime político confiscou um mosteiro e expulsou duas religiosas.

“Estes acontecimentos ocorrem na mesma altura em que a ONU [Nações Unidas] decidiu aprovar, a 3 de abril, e por mais dois anos, a extensão do mandato dos peritos internacionais que estão a investigar a situação de direitos humanos na Nicarágua. Este grupo de peritos apresentou um relatório em que se denunciam ‘violações de direitos humanos que configuram crimes contra a humanidade’, e que estão a ser cometidos ‘contra civis’”, assinala o secretariado português da AIS, numa informação enviada hoje à Agência ECCLESIA.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre explica que o Governo de Daniel Ortega confiscou o mosteiro das Irmãs Cistercienses de Estrita Observância, em San Pedro de Lóvago, em Chontales, entregando o edifício ao Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agrícola (INTA)”, no dia 11 de abril.

As Irmãs Trapistas, que já tinham abandonado o mosteiro no dia 24 de fevereiro, e estão agora no Panamá, informaram na sua página oficial na rede social Facebook que deixavam “voluntariamente” a Nicarágua, após 22 anos, mas iam permanecer “sempre unidas na oração e na amizade” ao povo.

Um dia depois, o regime político expulsou duas religiosas da Congregação Dominicana da Anunciação que se dedicavam ao “cuidado dos mais idosos” no lar López Carazo; Isabel e Cecília Blanco Cubillo, da Costa Rica, trabalhavam neste abrigo que tem atualmente cerca de 40 utentes.

A AIS realça que a Semana Santa na Nicarágua “não ficou apenas marcada” pela proibição de procissões nas ruas, mas calculam que “cerca de duas dezenas de pessoas tenham sido detidas” por eventos relacionados com a expressão pública da fé; no dia 3 de abril, foi expulso o padre Dinanciano Alarcón, da Congregação dos Missionários Claretianos, por ter denunciado, numa homilia, a situação do bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, condenado a 26 anos e quatro meses de prisão, e por ter realizado uma procissão não autorizada.

“Eles colocaram-me numa viatura com dois polícias e levaram-me até à fronteira [com as Honduras] e disseram-me: ‘você está fora do país e não pode voltar mais’”, explicou o sacerdote à rádio Hogar, da Arquidiocese do Panamá;

Em março, as autoridades políticas decidiram encerrar as duas Universidades Católicas – de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua – a Fundação Mariana de combate ao Cancro, dois escritórios da Cáritas, e a embaixada da Santa Sé foi encerrada, com a saída do representante diplomático, no dia 17.

A Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre afirma que as “medidas repressivas contra a Igreja” parecem “imparáveis” na Nicarágua e recorda que, para além destas situações, o canal de televisão da Conferência Episcopal e mais seis estações de rádio católicas já tinham sido mandadas encerrar, e as autoridades “provocaram” a saída do núncio apostólico (embaixador da Santa Sé), D. Waldemar Stanislaw Sommertag, e das Missionárias da Caridade, a congregação da Madre Teresa de Calcutá, em julho de 2022.

CB/OC

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