Natal: Quando o «semáforo vermelho transforma a noite de consoada»

Padre Paulo Duarte, sacerdote jesuíta, dá a conhecer o seu Natal e o agradecimento que faz a cada ano

Foto: AE/MC

Lisboa, 23 dez 2019 (ECCLESIA) – O padre Paulo Duarte, sacerdote jesuíta, falou com a Agência ECCLESIA sobre o Natal, a forma como o vive, uma noite de consoada com semáforos vermelhos e o alfabeto dito na Missa do Galo.

“Houve uma noite de Natal em que a minha família não queria ir à Missa do Galo, porque estava frio e não iam… Eu estudava fora e fui de carro mas apanhei todos os semáforos vermelhos no caminho para a Igreja e isso fez-me pensar que, nesse ano, podia fazer algo de diferente”, recorda, numa entrevista que pode acompanhar no programa ECCLESIA, entre hoje e sexta-feira, pelas 22h45, na Antena 1 da rádio pública.

Naquela noite, o sacerdote repensou a decisão de ir à Missa do Galo, voltou para trás para estar junto da família, pediu-lhes licença, acendeu uma vela e leu o Evangelho daquela noite.

“Claro que não foi uma celebração, mas um momento muito bonito em família, de encontro, que ainda recordo”, afirmou.

O religioso jesuíta, atualmente a viver na casa da Torre, na arquidiocese de Braga, olha para o tempo de Natal como sossego em família mas também de preocupante desassossego.

“Um tempo agitado até enquanto familia, as questões de ‘como é este ano’, ‘onde jantamos hoje’, ‘almoçamos amanhã’, tem de haver uma gestão grande para as famílias”, remata. 

Tempo de Natal para o sacerdote é também tempo de “renascer, e devia ser mesmo” e a cada advento pergunta-se “o que pode ser diferente?”.  

Faço sempre esta pergunta, apesar de ser os mesmos rituais, interiormente ou na nossa vida, como é que pode ser diferente? Como posso permitir que algo novo brote no nosso coração, é a oportunidade de permitir uma nova vida acontecer”.

Natural de Portimão o padre Paulo Duarte antes de ser sacerdote foi comissário de bordo, duramnte três anos, nesse tempo nunca passou o “Natal no ar” mas houve uma noite que o marcou.

“Fiz um voo nesse dia, depois tinha de apanhar um voo para Faro e depois alguém me ia buscar para ir para Portimão, de onde sou. Foi um desassossego porque os voos atrasaram e estava a ver que não conseguia chegar a tempo da consoada com a família”, recorda.

Também naquela profissão o padre Paulo lembra o ambiente festivo que se sente dentro de um avião, afinal “muitos passageiros vinham passar o Natal com a família, e o ambiente é de alegria e espontaneidade”.

“Vivemos numa sociedade de tradição cristã e isso está embuído na nossa sociedade, é uma oportunidade de pensar que este tempo a todos toca”, considera.

Na noite de 24 de dezembro preside à celebração da Missa do Galo e, no momento do ofertório, faz o exercício de percorrer as letras do alfabeto.

Nessa noite, no momento de ofertório, digo o abecedário e rezo pelos nomes que vou passando, sugiro até que qualquer pessoa pode fazer este exercicio, mesmo em familia; acender uma vela e a cada letra trazer cada pessoa à oração, ao coração e à força da vida deste Menino que nasce”.

O Natal é sentido de forma especial por este sacerdote jesuíta que não descarta a ideia do Natal ser todo o ano, desde que seja vivdo pelo prisma dos valores que aumentam nesta época.

“Este tempo devia ajudar à proximidade e pode ser tempo de reconciliação, de encontrar o sossego… Se o Natal permite solidariedade então que seja em julho ou agosto, se provoca encontros pois que seja em maio ou abril, nessa lógica do sentido profundo do Natal”, aponta.

O padre Paulo Duarte lançou recentemente o seu livro “Rezar a Vida” e lá destaca uma palavra que considera também relevante para este tempo de Natal, ‘agradecer’.

“Dar graças, reconhecer a graça recebida, é das orações mais bonitas que podemos fazer; seja agradecer o dom da amizade, da vida… leva-me a tomar consciência da gratuidade e deve ser marcante na nossa condição de humanidade”, refere.

SN

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