Natal é Família

Mensagem de Natal do Arcebispo de Braga A sociedade hodierna impôs o hábito, louvável em si e merecedor de algumas reservas se exagerado, da troca de presentes na época natalícia. Recordam-se os familiares e amigos; a cada um se proporciona uma prenda, um dom, como sinal de uma amizade reconhecida e que queremos estimular. Sendo tempo de dons, quero recordar um dom de valor incalculável e absolutamente indispensável para uma vida de equilíbrio e felicidade. Trata-se da família. Neste contexto e como responsável pela Família Arquidiocesana, atrevo-me a questionar: A Família para ti – e desculpa o tom de intimidade – é um dom? Reconheces, no quotidiano, o valor que ela encerra ou vives distraído ignorando esse tesouro? Nesta interpelação, parece-me ouvir alguns duvidar, pois, nem sempre lhe atribuem o valor justo. Neste caso, só diria que a família não existe se não for construída por cada um. Pretender que ela proporcione a alegria procurada sem um empenho pessoal é uma ilusão frustrante. A qualidade da Família, está nas mãos de todos os seus elementos. Mas, na contradição da sociedade hodierna que aproximou as pessoas colocando-as a viver na aldeia global, quero recordar aqueles e aquelas que não podem ou não querem experimentar este dom da Família. – Penso em quantos se afastaram dos seus lares e exprimem uma revolta gerada, quase sempre por eles, mas atribuída a outros; – Penso nos sem abrigo e que continuarão a experimentar o frio do isolamento e da marginalização; – Penso nos pais sozinhos a quem os filhos abandonaram e permitem que bebam as lágrimas dum amor não reconhecido; – Penso nos casais separados que se deixaram enrolar em problemas não os ultrapassando com o diálogo e a ajuda fraterna de casais com mais experiência; – Penso nos filhos que não saborearam a ternura dum amor oriundo dum pai e de uma mãe; e nos que sofreram a separação dos pais… – Penso na violência doméstica que destrói a alegria de caminhar juntos; – Penso na exploração infantil que marcará vidas e poderá colocar muitas crianças em situações de permanente debilidade; – Penso nas jovens que partiram dos seus países enganadas e que são aproveitadas e atiradas para a margem duma vida sem sentido; – Penso no pão que falta em muitas mesas, nos ordenados miseráveis que não permitem a festa da vida com o indispensável e necessário; Sim, penso em todos quantos lhes é negado este “dom” duma Família harmoniosa, mas, sobretudo, peço às comunidades paroquiais que acordem para ver estas situações, discernindo compromissos que dêem dignidade e valor a todos as famílias e às famílias de todos. O Primeiro Natal, no meio da pobreza, aconteceu em família. Não deixemos de oferecer a “gruta” que aconchega não só nos fugazes momentos duma noite mas sempre e coloquemos, também, Cristo para que tudo adquira sentido. Nesta linguagem muito familiar, como Arcebispo, termino manifestando os meus votos para este Natal 2007. – Que todas as família agradeçam e se consciencializem do “Dom” que a sua família é. – Que cada membro se responsabilize pela “qualidade” desse mesmo “dom” através do muito ou pouco que deve oferecer. – Que este tempo de Natal seja momento de diálogo para, com sinceridade e muito amor, verificar o que deve mudar e quem deve interpretar essa mudança para que a família seja verdadeiramente dom para todos. – Que as paróquias assumam o “compromisso” de tornar todas as famílias experiência de dom, de modo que todos os residentes na comunidade possam usufruir da graça duma família. É este Natal que desejo a todos. 13-12-07 † D. Jorge Ortiga, A.P

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