Lisboa, 26 dez 2014 (Ecclesia) – O Chefe Kiko Martins, entre a azáfama dos preparativos para a consoada, explicou a “importância e o valor” de estar à mesa e partilhar a refeição, algo essencial não só no Natal mas que tem perdido valor.
“[Natal] Acima de tudo é sinónimo de mesa. A minha vida e razão de ser cozinheiro deve-se porque sou verdadeiramente apaixonado pela mesa. Acho que vivemos num mundo acelerado em que perdemos o valor, a importância de nos sentarmos à mesa de olharmos nos olhos uns dos outros, de crescermos, de partilharmos momentos”, começa por explicar o chefe Kiko Martins.
À Agência ECCLESIA, no programa realizado na cozinha do seu restaurante, o “Talho”, o chefe revelou que a importância que atribui à mesa vai muito para além da alimentação.
“O verdadeiro valor da comida não existe nela própria mas no ser partilhada, com um conjunto de amigos, família, isso é essencial”, assinalou.
Por isso, considera que a melhor refeição de cada um nos últimos tempos pode não ter sido “a mais saborosa” mas a que foi partilhada: “O sabor da comida não está no peru, no recheio, mas na maneira como o partilhamos à mesa”, contextualizou no dia 24 de dezembro.
“Uma coisa é a memória gastronómica outra é a memória da mente e do coração que nos faz viver de forma diferente”, observou.
Para muitos portugueses, pelas mais variadas razões, a véspera de Natal “é sempre um tempo de muita azáfama” devido às “responsabilidades sociais”, como jantares, preparação da consoada e/ou compras, em que tudo fica para a última hora, e existe o desfoque “daquilo que é o essencial”, considera Kiko Martins.
Com raízes numa família católica, o entrevistado revela que o Natal significa “recentrar naquilo que é a gasolina” da sua vida, “Deus”.
Este tempo específico é um dos “muitos semáforos que existem na vida para “parar, recentrar” e “voltar a percorrer o caminho certo”, conta o Chefe que acrescentou que esta gasolina ajuda a “enfrentar o dia-a-dia”.
“Ao mesmo tempo com muita alegria celebramos um acontecimento único, celebramos a vida de alguém que nos foca naquilo que é essencial”, desenvolveu.
Antes da formação em cozinha, o interlocutor foi aconselhado pela mãe, numa família de oito irmãos em que nenhum estava nesta área, a “fazer um curso à séria” e depois logo se analisaria a vontade de continuar nesta área.
Enquanto voluntário da Comunidade Vida e Paz, numa das voltas de assistência à pessoa sem-abrigo em Lisboa, sentiu que existe “um ponto” em que afirma a vontade de “ser cozinheiro”.
“Percebi realmente que era com alimentos que queria trabalhar porque compreendi a vantagem e a capacidade dos alimentos de chegarmos uns aos outros. A capacidade de através de uma sanduiche, de um leite quente, no meio da rua, conseguir captar a atenção do outro”, conta o Chefe Kiko Martins.
Entretanto, em 2010, já depois do primeiro ano do que considera um “casamento atípico”, vivido em Moçambique, África, com a organização não-governamental Leigos para o Desenvolvimento nasceu o projeto ‘Comer o mundo’, que durou “14 meses” com “26 famílias diferentes” à mesa.
“Em 2010, senti que podia fazer mais. Eu e a Maria (esposa) queríamos estar à mesa com outras famílias pelo mundo, saber como as famílias se comportam à mesa”, explicou o Chefe que descobriu também sabores e a esposa escreveu sobre a viagem.
PR/CB