Nada a Declarar

O regresso da comédia francesa aos nossos ecrãs tem sido difícil e raramente com as escolhas acertadas capazes de garantir um êxito que permita a continuação do caminho encetado. Mas «Bem-Vindo ao Norte», estreado há dois anos, foi uma das raras exceções tendo conseguido um número de espectadores capaz de justificar, agora, outro filme do mesmo autor.

Dany Boon, com uma longa carreira de ator, em boa hora passou à realização e, ao seu terceiro filme, consolida a inspiração já revelada, retomando a comédia baseada em contraste de culturas. No caso anterior tínhamos o conhecido choque entre o Norte e o Sul de um mesmo país; agora temos o confronto entre dois estados diferentes na região fronteiriça.

Não há guerra nem discordância entre estados, mas na fronteira entre a Bélgica e a França, em torno do momento da abolição de fronteiras, só os respetivos guardas se sentem ainda separados pela linha amarela traçada no chão, que marca com muito impacto onde começa a autoridade de uns e termina a de outros.

Com argumento inteligente e com excelentes ocasiões de humor, Dany Boon vai provocando a progressiva aproximação humana entre as duas nacionalidades, diluindo

rivalidades e abrindo caminho a uma colaboração humana que acaba por se manifes- tar muito para além da pequena área geográfica em que a ação decorre.

O melhor do filme é o ritmo narrativo, capaz de manter o espetador interessado e divertido com um humor muito bem construído, sem necessidade do recurso a sequências disparatadas ou com tons de farsa. Os dois atores principais – o próprio Dany Boon e Benoît Poelvoorde – formam uma parelha muito equilibrada no seu contraste e que dá perspetivas positivas quanto a trabalhos futuros, que mais facilitados serão com a experiência do primeiro como argumentista e realizador.

Os pontos comuns com o filme anterior, «Bem-Vindo ao Norte», é evidente em muitas vertentes, nomeadamente no tratamento dado a dois diferentes sotaques de uma mesma língua, que aqui se verifica entre pontos bem próximos, numa mesma povoa- ção até então cortada pela linha fronteiriça.

Francisco Perestrello

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