Mundo sindical tem de mudar

Pastoral Operária diz que sindicatos estão a perder capacidade de mobilização e de protecção dos trabalhadores A Pastoral Operária da Igreja Católica no nosso país considera que os sindicatos estão a perder capacidade de mobilização, de organização e consequentemente, de protecção dos trabalhadores. Em tempo de Congresso de uma das centrais sindicais em Portugal e no início de vida da Central Sindical Internacional, os operários católicos querem lançar uma reflexão conjunta para “quebrar a presente situação de crise e encontrar novos valores”. Numa altura em que o mercado de trabalho assiste a uma “redução drástica do número de trabalhadores e à introdução de novas formas de gestão dos recursos humanos”, os sindicatos estão a perder a sua capacidade de regulação. A taxa de desemprego actual indica que 450 mil cidadãos em Portugal estão desempregados. Esta taxa baixou para 7,8% no último trimestre de 2007, um valor inferior ao dos meses anteriores, mas que não foi suficiente para impedir um agravamento no conjunto do ano, para 8%. A Pastoral Operária pretende “discutir o papel dos sindicatos e a participação dos trabalhadores nessas estruturas representativas”. Estas estruturas são “fundamentais para a protecção dos trabalhadores”, admite a Pastoral Operária porque muitas vezes, “são as únicas organizações a lutar para salvaguardar a pessoa do trabalhador nesta economia de mercado selvagem”. Num dossier enviado à Agência ECCLESIA, defende-se uma maior presença de organizações sindicais junto do sector público do que do sector privado: “Nota-se um crescente profissionalismo dos sindicatos, já que muitos dirigentes sindicais estão há muitos anos nas direcções, fazendo disso a sua profissão”. A Pastoral Operária denuncia “uma partidarização dos sindicatos”, a criação de espaços de demonstração de poder que “retira aos sindicatos a liberdade e independência”. O papel dos sindicatos não é de fazer política. “Não têm o caracter de partidos políticos que lutam pelo poder e também não deveriam nunca estar submetidos às decisões dos partidos políticos. Se assumirem tal carácter perdem facilmente o contacto com o papel específico: a garantia dos justos trabalhadores no quadro do bem comum da sociedade”. Pela “descredibilização e por serem cada vez mais questionados”, os operários católicos indicam a necessidade de os sindicatos serem transformados. “É fundamental que os sindicatos encontrem formas de funcionamento adequadas às novas realidades do mundo do trabalho e às necessidades dos trabalhadores”, necessidades estas centradas na “pessoa humana é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais”. A Pastoral Operária indica que os sindicatos devem ser “instrumentos ao serviço do bem comum” e que as duas centrais sindicais devem procurar “unir-se e ir fazendo um caminho num sentido de serem uma voz”. Os trabalhadores devem cada vez mais estar informados, “ser mais participativos e interventidos na vida das empresas e da sociedade”. O dossier apresenta o trabalho como fundamental para a inclusão social das pessoas, porque “dignifica, é defesa e garante de direitos”. Estes mesmo princípios são sublinhados na Doutrina Social da Igreja. A nível internacional a conjectura está também em mudança. “Actualmente uma grande parte das decisões já não são tomadas dentro de fronteiras de cada país mas sim em instâncias europeias e mundiais”, pois os estados nacionais “não têm condições para fazer frente ao poder das empresas multinacionais”. Nesse sentido, a Central Sindical Internacional tem por objectivo lutar por melhores condições de vida para todos, “lutando por uma globalização mais justa”. A Pastoral Operária “não vai parar a reflexão por aqui”. Américo Monteiro garante estarem disponíveis para reflectir juntamente com outras organizações, “sindicatos ou outros”. Em declarações à Agência ECCLESIA Américo Monteiro, Coordenador Nacional da Pastoral Operária, explica que as preocupações apresentadas no dossier manifestam as preocupações das organizações católicas operárias, mas também de diversas personalidades ligadas ao mundo sindical, tanto a nível nacional como internacional. “Não temos dificuldades em lançar debate porque não procuramos votos. Queremos sim lançar questões para provocar discussão e encontrar soluções”, reconhece o coordenador nacional.

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