Mulher portuguesa do ano 2002 é exemplo de ajuda humanitária

As muitas missões cumpridas na área da cooperação e da ajuda humanitária em cenários das maiores dificuldades, sobretudo em África e Timor-Leste, valeram a Maria da Nazaré Santos, enfermeira voluntária da AMI – Assistência Médica Internacional -, o prémio “Mulher Activa 2002”. O prémio, promovido pela revista feminina “Activa”, visa distinguir mulheres que se destacam na sua actividade em prol da sociedade portuguesa. “Foi óptimo, porque tinha o sonho de ajudar monetariamente aqueles que auxiliava de outra maneira. O dinheiro já seguiu para Angola, para o Pe. Horácio dos Verbitas e a sua obra de rua, as Irmãs do Santíssimo Salvador que cuidam dos amputados e por aí fora”, revela em entrevista ao programa “Igrejas Lusófonas”, da Fundação Evangelização e Culturas. Nazaré Santos falou das 19 missões cumpridas em cenários de guerra, uma aventura que começou na Guiné, em 1989. Neste anos passou pelo Ruanda, na altura dos massacres, por uma Angola em tempo guerra, o sul pobre de São Tomé, o interior esquecido da Guiné e Timor Leste quando os indonésios abandonavam o território. “A AMI encantou-me desde o início por causa do seu cariz humanitário. Entre nós exerceremos um enfermagem em que falta esta vertente”, explica. As aventuras são muitas, “momentos que não saem da memória”, confessa. “As missões têm uma duração prevista, mas às vezes é preciso prolongar a missão ou fugir, como aconteceu no Ruanda.” Este momento de fuga no Ruanda foi particularmente dramático: “tinham-nos avisado que haveria um novo massacre e era preciso fugir. Eu não reagi imediatamente, mas passados 15 dias tivemos mesmo de sair à pressa porque senti que as pessoas não nos queriam lá e era uma questão de horas até sermos atacados”, recorda Nazaré Santos. Outro momento delicado foi a missão em Timor, “onde foi terrível ver tudo a arder e os militares indonésios impávidos e serenos. Nunca mais a gente esquece…” O país onde passou mais tempo foi em Angola, do qual recorda as missões ligadas às crianças. “Depois da guerra dos 95 dias foi complicado acolher os órfãos e fazer uma avaliação do estado nutritivo, porque estava eu e uma colega minha que nem podíamos olhar uma para a outra, já que cada história era pior que a anterior. Quando chegámos à missão das Irmãs do Santíssimo Salvador, por exemplo, via-se que elas nem acreditavam que tivesse chegado alguma ajuda”, relata Nazaré Santos. Como nota final fica um recado ao Governo português, “que só olha para o voluntariado e a cooperação no papel e nas palavras, porque na prática não dá apoios”.

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