Mulher: Presença feminina na Igreja está a afirmar-se cada vez mais, diz primeira diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações

Eugénia Quaresma valoriza papel dos leigos e apela a maior trabalho em rede na Igreja para combater o preconceito migratório

Lisboa, 08 mar 2019 (Ecclesia) – A conciliação e capacidade de escuta são características femininas que a Igreja em Portugal está a valorizar, manifestando uma “abertura” ao colocar mulheres em lugares de destaque, afirmou a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).

“Penso que este pode ser o meu grande contributo, esta capacidade de escutar e de conciliar mundos aparentemente diferentes, mas que são complementares”, explica Eugénia Costa Quaresma, em entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença, a propósito do Dia Internacional da Mulher.

Desde 2014 neste cargo de direção, substituindo um sacerdote, Eugénia Quaresma afirma uma “abertura” da Igreja em Portugal para colocar mulheres em lugares de liderança mas, sublinha, que “liderança não é só estar à frente”.

Existe uma liderança à retaguarda e há muitas mulheres que, na retaguarda, vão liderando e vão servindo. Existe também o movimento de mulheres que se fazem notar e que são reconhecidas, cada vez mais, à medida que o tempo vai avançando, têm mais voz”.

A diretora da OCPM indica que o mais importante do que “ser homem ou mulher” é valorizar os “talentos naturais e as vocações naturais” concretizando a missão laical, proposta pelo Concílio Vaticano II.

“Os leigos ocuparam um papel preponderante, e graças a eles, leigos e leigas, a Igreja não morreu. Portanto, é continuar a olhar para estes exemplos. É uma questão de diálogo”, observa.

Para Eugénia Quaresma as mulheres são, no contexto migratório, simultaneamente a parte “mais fraca” e “resiliente”: “As mulheres resilientes são aquelas que não se deixam subjugar pela circunstância. Há qualquer coisa dentro delas que as faz lutar, e portanto a resiliência vem daí, dessa capacidade de não vergar, de ter consciência de que tem uma dignidade, ter consciência de que isto não pode ficar assim, que é preciso dizer ‘basta’. E é isso que faz a diferença”.

A responsável reconhece as dificuldades para responder a “necessidades específicas do ser feminino”, em contexto de acolhimento em campos de refugiados.

As meninas e as mulheres estão mais vulneráveis e são sujeitas a violações. Têm necessidades que nem sempre são contempladas, necessidades muito específicas do ser feminino, desde os cuidados de higiene, que são diferentes entre homem e mulher, a necessidade de privacidade, que nem sempre se consegue respeitar, a desocupação dentro dos campos, em que mesmo que queiram não lhes permitem sair, nem arranjar trabalho”.

Na sociedade portuguesa, Eugénia Quaresma dá conta de “fatores ‘sociocomplicativos’” relacionados com o “preconceito” que dificultam a integração, em especial, a feminina.

“Se eu tenho um preconceito em relação ao tom de pele, isso vai complicar a vida. Se eu tenho um preconceito em relação à nacionalidade – porque também existe -, isso vai complicar a vida. Se eu tenho um preconceito em relação à religião, isso vai complicar a vida”, traduz ao relembrar o relato ouvido de uma refugiada.

A próxima mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, escrita pelo Papa Francisco, vai ter como tema ‘Não se trata apenas de migrantes’ e a diretora da OCPM indica o quão importante é fazer este debate, também em Portugal, considerado um país com boas práticas de acolhimento.

“Estamos a falar de pessoas, pessoas em situação de mobilidade, e que esta situação de mobilidade pode passar e as pessoas não podem ficar rotuladas, nem marcadas por uma escolha necessária”, precisa.

A Igreja Católica tem procurado trabalhar no acolhimento, mas necessita de desenvolver a “proteção e inclusão”.

“Eu acho que se calhar temos de afinar aqui a articulação e a comunicação entre os serviços da Igreja. Este é o grande desafio de trabalharmos cada vez mais em conjunto, trabalharmos cada vez mais em rede, e penso que faremos muito mais e melhor se isso acontecer. E as propostas e as diretivas que vêm a nível da Pastoral das Migrações são essas, trabalharmos em conjunto e trabalharmos em rede”, conclui Eugénia Quaresma, convidada da entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença, publicada à sexta-feira.

Ângela Roque (Renascença) e Lígia Silveira (Agência Ecclesia)

LS/OC

Dia Internacional da Mulher: Eugénia Costa Quaresma e o destaque das mulheres na Igreja

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