Mudanças políticas na mira dos Bispos da América do Sul

Abordagem à realidade de cada país domina várias das intervenções nos primeiros dias da Conferência de Aparecida As mudanças sociais e políticas na América Latina dominaram várias das intervenções nos primeiros dias da V Conferência Geral do Episcopado católico da região, que decorre em Aparecida. Da Santa Sé, o Cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, aludiu à “fragilidade” dos regimes que se seguiram à queda das ditaduras militares, por causa de “derivas ideológicas, populistas e neoliberais, com classes dirigentes que gozam de uma fraca credibilidade e com elevados índices de corrupção”. Segundo este responsável, na América Latina faz falta uma liderança “capaz de agregar a confiança dos cidadãos nas instituições públicas”. Logo no discurso de abertura dos trabalhos, proferido por Bento XVI, o Papa dizia existirem “motivos de preocupação diante de formas de governo autoritárias ou sujeitas a certas ideologias que se acreditavam superadas na América Latina e nas Caraíbas”, no que foi entendido como uma alusão, entre outros, aos governos de esquerda da Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba. Ao apresentar a situação da Igreja Católica na Venezuela, o presidente da Conferência Episcopal local, D. Ubaldo Santana, alertou para os riscos do “socialismo do século XXI”, promovido pelo governo de Hugo Chávez, “ocupando cada vez mais espaços de poder e provocando uma grande polarização”. “Está a produzir-se uma mudança de paradigma sócio-político, cultural e religioso”, constatou o Arcebispo, para quem “o projecto liderado pelo presidente tem como meta levar a cabo uma transformação total do país”. “Os líderes deste novo modelo revolucionário, bolivariano e socialista, alentam e apoiam a sua implantação em outros países da América com vistas a criar uma nova rede de integração regional”, declarou. Este facto foi criticado pelo Cardeal boliviano D. Julio Terrazas Sandoval, para quem a “atenção, muito apelativa por parecer desinteressada, que manifestam alguns dignitários deste Continente pelo que acontece na Bolívia” suscita fundados “temores”. “Ninguém desejaria sair de uma dependência estrangeira para cair noutra”, apontou. O Cardeal Terrazas criticou o discurso de “descolonizar a Bolívia” que considera a Igreja como co-autora do colonialismo. “Neste ponto a Igreja na Bolívia não defende privilégios, a não ser o direito à liberdade religiosa para continuar a anunciar o Evangelho da vida”, explicou. O governo de Evo Morales mereceu críticas por causa da “polarização e centralismo estatal que debilita o ideal autonómico das regiões”, os quais “paralisam o país incidindo fortemente na Assembleia Constituinte e afastam a possibilidade de contar com uma nova Constituição”. Todas as notícias América Latina

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