CRC contra o primado do efémero

Conferências de Maio procuram combater incompreensão dos valores fundamentais da dignidade humana O trabalho no contexto social presente é cada vez mais motivo para fazer correr. Mas foi com uma abordagem diferente que o tema “Troca, Trabalho e Dom” foi analisado na segunda conferência de Maio, da responsabilidade do Centro de Reflexão Cristã, este ano sobre “O que nos faz correr”. “Existe um peso muito grande do imediato e efémero no nosso tempo, ganhando consequências extraordinariamente negativas naquilo que podemos designar como «pecados sociais» – o egoísmo, o consumismo, a tendência para a superficialidade e a indiferença”, aponta Guilherme d’ Oliveira Martins, Presidente do Centro de Reflexão Cristã. Este «peso» a que se refere, esteve na origem da escolha do tema geral das Conferências de Maio – “O que nos faz correr”, que começaram precisamente, no dia 8 de Maio, pelo “Poder e Prazer, Força e Fraqueza”. Quisemos questionar “o peso e o fascínio que o poder exerce e que atrai a incompreensão dos valores fundamentais da dignidade humana”, explica o também Presidente do Tribunal de Contas. “Naturalmente é indispensável que possamos parar um pouco e compreender que este «corre-corre» do dia a dia só faz sentido se nós não esquecermos quem está ao nosso lado e garantirmos que esse que pede o nosso contributo, não é alguém invisível”. Nesse alguém que não é invisível “se percebe o valor do trabalho”, que sob o tema “Troca, Trabalho e Dom”, esteve em análise, contando com o contributo do sindicalista Manuel Carvalho da Silva, Isabel Pinto Correia em representação do Micro-Crédito e também Maria das Neves Jesus, responsável nacional pela Juventude Operária Católica – JOC. “O mercantilismo e fundamentalismo do mercado tem de dar lugar à dignidade do trabalho, do emprego, da formação e à compreensão que as trocas da economia têm uma componente económica, evidentemente, mas compreendem também a gratuitidade”, sublinha Guilherme d’Oliveira Martins. Daí a importância do dom e da capacidade humana, porque “o que é mais valioso não tem preço”. Num contexto social em que o mercado de trabalho é instável e onde não proliferam os valores de crescimento e valorização profissional enquanto vocação, esta análise “sobre o que é o trabalho torna-se fundamental”. O emprego e a possibilidade de ver investimentos reprodutivos devem permitam dar um sinal à sociedade, “não no sentido de satisfazer necessidades materiais, mas procurar encontrar uma dignificação das pessoas, do trabalho, no fundo da actividade humana e da formação”, esclarece. Abrindo a perspectivas para as próximas conferências, Guilherme d’Oliveira Martins refere que a terceira conferência pretende abordar o culto do corpo. “Bento XVI na sua Encíclica, chama a atenção para que o amor não esqueça também essa dimensão que complementa as tradicionais, mais espirituais”. Eduardo Sá, Laurinda Alves, Helena Marujo e Luís Miguel Neto asseguram o painel que compõe a terceira conferência, marcada para o dia 22, que pretende analisar o “encanto e desencanto para além do culto imediatista e narcísico que põe em causa os valores fundamentais da dignidade da pessoa humana”. A última conferência, no dia 29, culmina “com a grande pergunta «De que Espírito Somos?». Se temos que saber o que nos faz correr, temos de saber de que Espírito somos”, aponta o Presidente do CRC. Esta pergunta vai buscar a sua origem ao livro do Pe. Joaquim Alves Correia, que reflectiu sobre a vocação e a dignificação humana. Na última conferência estarão presentes o Pe. Anselmo Borges, o Pe. José Tolentino Mendonça e o Pe. Pe. Peter Stilwell, que se juntam a Francisco Sarsfield Cabral. Depois de “vermos o poder e o prazer, as questões do trabalho e do emprego, as relações com o corpo e a materialidade, perguntamos sobre o que tem realmente de nos preocupar”. A pergunta que dá o mote a todo o ciclo de conferência “encontra a resposta nesta última conferência”, explica o Presidente da CRC. A reflexão que o CRC propõe ao longo das conferência de Maio são uma imagem de marca que encontram na inquietação das perguntas uma forma de se ser um cristão activo. No princípio deste ano o CRC organizou um ciclo sobre Jesus “que teve um enorme sucesso”. A demonstração de que há um apelo urgente e necessário da presença de Jesus no centro da sociedade “faz-nos perspectivar esta linha orientadora que o Centro traçou”. Guilherme d’Oliveira Martins adianta que a reflexão cristã é algo essencial. No dia 22 de Maio, a par da terceira conferência, será também lançada a revista “Reflexão Cristã” a propósito da Encíclica Gaudium et Spes, cujo aniversário foi assinalado o ano passado, que conta também com o relato das conferências de Maio de 2006.

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