Moçambique: Sacerdote denuncia que assassinatos de «famílias inteiras» no ataque terrorista a Palma, de 2021

Padre Eduardo Roca refere-se à «enorme» responsabilidade de multinacional francesa e alerta para uma «reorganização das células terroristas»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 06 jul 2023 (Ecclesia) – O padre Eduardo Roca, um dos responsáveis da Igreja Católica pelo diálogo inter-religioso em Cabo Delgado (Moçambique), denunciou o assassinato de “famílias inteiras” no ataque terrorista a Palma, no extremo norte do país, a 24 de março de 2021.

“Mataram famílias inteiras, não restou ninguém que possa dizer-nos: estes já não estão entre nós. Foram mortes, inclusivamente espirituais, mortes sociais, não foi apenas a violência dramática do jihadismo, mas sobretudo esta morte social de pessoas que ninguém vai recordar porque não ficou ninguém para os recordar”, disse o padre Eduardo Roca ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), em informação enviada hoje à Agência ECCLESIA.

A violência jihadista na Província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, colocou o país na classificação mais grave de violações à liberdade religiosa no mundo, no relatório publicado pela fundação pontifícia, apresentado no dia 22 de junho.

“Há alguns meses que os ataques são de muito baixa intensidade, mas parece que há uma reorganização das células terroristas por todo o país. Então, temos de estar atentos porque este é o contexto de violência no qual vivemos”, adverte o padre Eduardo Roca. responsável pelo Centro Inter-Religioso para a Paz, na Diocese de Pemba.

Segundo as autoridades locais, o ataque terrorista à vila de Palma, a 24 de março de 2021, teria provocada dezenas de mortes, mas uma investigação do jornalista norte-americano Alex Perry aponta para “um verdadeiro massacre com 1357 mortos”, refere a AIS.

O padre Eduardo Roca, que está em Mahate, na Diocese de Pemba, desde 2012, referiu também a “enorme” responsabilidade da multinacional francesa que explora um megaprojeto de gás natural, acusando-a de ignorar a população durante o ataque e nos dias seguintes.

“Na hora do conflito e da violência, voltam as costas totalmente ao povo, incluindo factos que são um escândalo”, desenvolveu.

O padre Eduardo Roca lembrou que o bispo de Pemba “exige que haja um luto público, declarações, que a multinacional francesa Total assuma a sua parte de responsabilidade que é muita, é muita, é enorme”.

D. António Juliasse, a 11 de junho, fez a primeira intervenção pública de um responsável da Igreja, após a divulgação do relatório do jornalista norte-americano.

A Fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre contextualiza que os ataques terroristas nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, começaram em outubro de 2017, e, até ao momento, segundo dados oficiais, morreram cerca de 4 mil pessoas, e há mais de 1 milhão de deslocados.

Moçambique é um país “prioritário” para a AIS ,que tem disponibilizado ajuda para a Igreja local, em projetos de assistência pastoral e apoio psicossocial, mas também no fornecimento de materiais para a construção de dezenas de casas, centros comunitários e ainda a aquisição de veículos para os missionários que trabalham junto dos centros de reassentamento que abrigam as famílias fugidas da guerra.

CB/OC

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