Padre Ricardo Marques fala dos projetos que a Paróquia de Maria Auxiliadora tem no terreno para ajudar quem mais precisa
Pemba, Moçambique, 11 abr 2021 (Ecclesia) – O padre Ricardo Marques, missionário português em Pemba, no norte de Moçambique, destacou à Agência ECCLESIA a necessidade de oferecer apoio psicossocial a quem foge da violência na província de Cabo Delgado.
“Graças à colaboração de vários voluntários, temos feito o esforço de reunir com famílias de deslocados, proporcionando-lhes um ambiente favorável à partilha e à solidariedade entre todos. Naqueles encontros partilham-se histórias, traumas e outras preocupações das pessoas”, relata o Missionário da Boa Nova.
O responsável católico considera que esta é “uma outra forma de ajudar as vítimas”, para lá dos bens de bens de primeira necessidade.
“Na situação em que nos encontramos, penso que o anúncio de Cristo ressuscitado passa, em primeiro lugar, pela nossa presença junto das vítimas. O simples facto de sentirem a presença de alguém disposto a acolhê-los e a escutar os seus traumas é uma grande ajuda”, indica.
O padre Ricardo Marques admite que este é um processo “lento, difícil e muitas vezes doloroso”.
“Fizemos recentemente uma experiência extraordinária com grupos de deslocados que, reunidos em pequenos grupos, partilharam as suas histórias e os seus traumas. Ficaram felizes de alguém ter manifestado disponibilidade para os escutar”, explica o responsável, sublinhando que neste trabalho não há distinção entre etnias ou religiões.
O sacerdote português é, desde dezembro de 2015, pároco de Maria Auxiliadora, em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, e vigário episcopal para a região urbana desta diocese, desde 2020.
A onda de violência nesta região, atingida por insurgentes do autoproclamado ‘Estado Islâmico’, provocou mais de 3000 mortos e mais de 800 mil deslocados.
“Graças aos donativos que temos recebido, temos ajudado os deslocados, essencialmente, com bens de primeira necessidade: alimentação, vestuário, entre outros. Também temos ajudado alguns jovens com apoio escolar: matriculas, uniformes, material escolar”, assinala o padre Ricardo Marques.
A paróquia de Maria Auxiliadora tem procurado responder aos desafios colocados pela violência, a fome, a pobreza e os desastres naturais que atingem a população.
Uma das respostas é a Escola de Artes e Ofícios ‘ReNascer’ que atua na promoção de jovens moçambicanos e das mulheres, desde 2019, bem como na área da educação.
“Atualmente, por exemplo, temos um grupo de seis mulheres a fabricar uniformes para as três escolinhas da nossa paróquia, as quais têm, anualmente, cerca de 400 crianças em idade pré-escolar”, indica o missionário português.
O entrevistado diz que, apesar das boas relações entre católicos e a maioria muçulmana, a província vinha assistindo a um “processo de radicalização islâmica”.
“Esta pode ser uma das causas para o fundamentalismo islâmico que está na origem destes ataques, a qual parece estar associada a outros fatores sociais, como a falta de emprego, o sistema de educação frágil, a fome”, aponta.
O sacerdote, licenciado em informática de gestão, fez uma primeira experiência em Moçambique, em 2009, na Diocese de Nampula, e desde então alimentou o desejo de regressar ao país africano.
“Hoje posso dizer, sem sombra de dúvida, que sou feliz e sinto-me muito útil aos outros. Não é uma vida fácil mas é uma vida feliz, apesar das dificuldades”, afirma.
CB/OC