Moçambique: Missionária em Cabo Delgado alerta para «rapto sistemático de pessoas»

Vila de Macomia «está sob uma tensão muito forte» e muitas aldeias «foram atacadas», refere denúncia enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre

Lisboa, 09 fev 2022 (Ecclesia) – A fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) recebeu denúncias de missionários na Província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, que alertam para ataques armados e “o rapto sistemático de pessoas”.

“Há o rapto sistemático de pessoas que se encontram nas aldeias e nas machambas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças”, disse uma religiosa em missão em Cabo Delgado que, por questões de segurança, pede para não ser identificada.

Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da AIS, a missionária explica que vila de Macomia, sede de distrito na Província de Cabo Delgado, “está sob uma tensão muito forte”, e “muitas aldeias dos arredores foram atacadas”.

Segundo a AIS, grupos armados atacam aldeias, queimam casas, raptam e matam pessoas e o sentimento de insegurança é muito grande.

Os ataques armados no norte de Moçambique começaram em outubro de 2017, provocando mais de três mil pessoas e cerca de 800 mil deslocados internos.

A religiosa explica que o problema agora é “mais grave”, porque no início “deste absurdo conflito”, as pessoas podiam sair e “refugiar-se nas suas machambas ou em lugares escolhidos como sendo seguros”.

“Agora, os insurgentes perseguem o povo até às machambas, são despojados dos bens alimentares para a subsistência e alguns são mortos de uma maneira cruel”, acrescentou.

Em declarações à AIS, o padre Eduardo Paixão, missionário brasileiro que está na Paróquia de Santo António, em Metuge, no norte de Moçambique, explicou que a população “está com muito medo” e que tem aumentado o número de famílias em fuga.

“Esta semana, em Chiure, num dos acampamentos de deslocados, chegaram mais de 290 famílias”, que são cerca de mil pessoas, explicou.

O sacerdote lembrou que a sede de Meluco, e aldeias, “não foram atacadas em novembro e dezembro” de 2021, celebrou o Natal com a comunidade e parecia que estava “tudo muito tranquilo”.

Foto: AIS

“A 30 e 31 de dezembro, começaram os ataques à aldeia de Nangololo, de Imbada, e depois foi-se alastrando durante a primeira semana de 2022 pelas aldeias de Mariri, vizinha a Muària, e que tinha uma grande escola, a maior escola do distrito de Meluco”, referiu o responsável pela área missionária de Meluco, na Diocese de Pemba.

Segundo o missionário do Sagrado Coração, a aldeia de Mariri “foi atacada, queimaram casas”, e na semana seguinte atacaram mais cinco “aldeias em direção ao distrito de Meluco”.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre indica que há registo de ataques nos arredores da vila sede do distrito de Macomia, nas aldeias Nova Zambézia, Nova Vida, Nkoe, Nanjaba, Imbada, Bangala 2, e Iba, no limite com Meluco, e para além da violência também cortam a energia e as comunicações.

Moçambique é um “país prioritário” para a AIS que tem apoiado “projetos de assistência pastoral e apoio psicossocial”, o fornecimento de material para a construção de casas, centros comunitários, e a aquisição de veículos.

CB/OC

 

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