Moçambique: Bispos denunciam exploração do território por parte «dos países industrializados»

Carta pastoral refere «56 milhões de hectares de terra africana vendidos ou passados para a gestão de estrangeiros»

Cidade do Vaticano, 05 mai 2017 (Ecclesia) – Os bispos católicos de Moçambique abordaram em carta pastoral a atual situação no país e no continente africano, e alertaram para a exploração do território por parte "dos países industrializados".

No documento, publicado esta sexta-feira pela Rádio Vaticano, a Conferência Episcopal de Moçambique realça que “entre 2000 e 2013, 56 milhões de hectares de terra africana foram vendidos ou passados para a gestão de estrangeiros”.

“Os Governos dos países industrializados procuram encontrar em África uma solução para a crise energética e alimentar mundial, sem necessariamente procurar ajudar as problemáticas africanas”, referem os responsáveis católicos, que lembram “o direito” dos povos locais “à terra”, um primado que tem de ser defendido.

Caso contrário continuará a acontecer o que se tem verificado até agora, com o património e os recursos naturais de África a serem delapidados e a servirem unicamente para alimentar a engrenagem produtiva e a economia alheia, levando à “marginalização e ao empobrecimento das comunidades locais”.

“O desconhecimento do direito à terra obriga as comunidades locais a abandonar as suas terras, favorecendo assim os investidores privados”, frisam os bispos daquele país lusófono.

Ao mesmo tempo, os sistemas de “agricultura familiar” vão sendo destruídos, o que tem levado a conflitos “em todas as províncias de Moçambique, por causa da terra, conflitos causados por grandes projetos, de grandes empresas”.

Atualmente, pelo menos “70 por cento da população vive num ambiente rural, em contacto com a natureza”, e depende dela para a sua sobrevivência.

Para a Conferência Episcopal de Moçambique, é tempo de buscar “modelos locais de desenvolvimento” que sejam realmente “autênticos e justos” e estratégias que permitam fazer com que a Terra seja de facto um bem “para o benefício de todos”.

Na sua carta pastoral, entre outras temáticas, os bispos alertam ainda para a importância de combater fenómenos como “a destruição em massa” dos ecossistemas em África e em erradicar a pobreza e a desigualdade social.

Aqueles responsáveis da Igreja Católica em Moçambique exortam os cristãos a estarem na primeira linha de ação, “não sendo cegos e surdos perante a realidade social, política e económica do País, mas empenhando-se por uma solidariedade humana”.

Aos políticos cristãos é pedido que trabalhem “de forma responsável e ética, evitando qualquer forma de corrupção”.

A reflexão dos bispos moçambicanos é inspirada na encíclica ‘Laudato si, sobre o Cuidado da Casa Comum’, do Papa Francisco.

Em 2025, Moçambique vai assinalar 50 anos de independência, uma data que a Igreja Católica no país espera que marque uma nova era “capaz de corrigir os impactos negativos causados no país pelas políticas atuais".

JCP

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