D. Luiz Fernando Lisboa denuncia consequências da violência sobre a população
Pemba, Moçambique, 21 jul 2020 (Ecclesia) – O bispo de Pemba alertou hoje para a crise humana em Cabo Delgado, norte de Moçambique, onde já existem mais de 250 mil deslocados internos e um cenário de “muita destruição”.
“Em Cabo Delgado está a acontecer uma crise humana. E a essa crise responde-se com solidariedade, com partilha, com comunhão”, referiu à Agência ECCLESIA D. Luiz Fernando Lisboa.
O responsável católico falou das consequências dos ataques na província, primeiro nas aldeias mais recônditas e, desde o início de 2020, nas vilas.
“Ainda continuam, embora nestes dias tenhamos um certo silêncio, mas também isso nos preocupa: das últimas vezes, sempre que tivemos esse silêncio, depois vieram ataques muito fortes”, assinalou.
Para o bispo de Pemba, os ataques resultam da “soma de vários elementos” – como o extremismo religioso e a riqueza do subsolo – e da “situação de abandono em que esta região ficou durante muito tempo, uma situação de pobreza extrema, de falta de políticas públicas”.
Na sua mensagem da Páscoa, em abril, o Papa recordou os ataques terroristas perpetrados contra “tantas pessoas inocentes” em vários países da África, com referência especial à região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
“Cabo Delgado entrou no mapa”, assinala D. Luiz Fernando Lisboa, destacando que, deste então, o Governo “intensificou mais a presença” das forças de Segurança.
O prelado pede respostas a “longo prazo”, que vão para lá da ação militar, procurando ajudar “gente que já tem tão pouco e agora ficou sem nada”.
Os ataques são reivindicados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, atingindo várias vilas de Cabo Delgado (situadas a mais de 100 quilómetros de Pemba), no norte de Moçambique.
A ONU estima que existam 250 mil deslocados internos, num conflito que já matou, pelo menos, mil pessoas.
Os deslocados, indica o bispo de Pemba, “continuam a chegar à cidade, porque as pessoas saem porque foram atacadas ou saem preventivamente”.
Segundo o entrevistado, “praticamente todos os distritos de Cabo Delgado” que não sofreram ataques estão a acolher deslocados, com destaque para a capital, Pemba, e em Metuge, onde chegaram “aldeias inteiras” para os cinco acampamentos que as acolhem.
“Por enquanto ainda é possível dar uma resposta, mas nunca chega para todos”, adverte o responsável católico.
D. Luiz Fernando Lisboa observa que já havia fome antes fome destes ataques, porque a população não tem tido condições de segurança para a sua habitual atividade agrícola.
“Havia fome lá e a fome continua aqui”, acrescenta.
Apesar do esforço das várias organizações católicas de solidariedade, “não há alimentação que chegue, não há maneira de socorrer” todas as pessoas.
O bispo de Pemba, que no domingo visitou os acampamentos, diz que há pessoas sem tendas e a dormir ao relento.
“Dói, no fundo do coração, ver aquela situação, sem ter condições para dar a resposta que gostaríamos, a tanta gente”, confessa.
O prelado considera que o impacto da guerra vai fazer-se sentir durante “muito tempo”, mesmo após o fim da violência, “porque as pessoas saíram com muito medo, estão traumatizadas”.
Uma das prioridades, além da alimentação, é o atendimento psicossocial para as pessoas atingidas.
“Há pessoas que estão paralisadas, com toda a situação que já viveram, não têm forças”, relata.
D. Luiz Fernando Lisboa pede a oração e “solidariedade” para a população do norte de Moçambique, neste momento difícil.
O secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre lançou uma campanha de ajuda para Cabo Delgado.
PR/OC