Francisco evocou conflitos militares e crises humanas, na mensagem de Páscoa
Pemba, Moçambique, 13 abr 2020 (Ecclesia) – O bispo de Pemba, na região norte de Moçambique, mostrou-se hoje “muito feliz” pelo alerta que o Papa deixou este domingo para a crise em Cabo Delgado, onde há “constantes ataques violentos” desde o final do ano de 2017.
“Esperava muito este sinal dele para connosco. A palavra do Santo Padre tem um peso imenso. Vou dormir mais tranquilo”, disse D. Luiz Fernando Lisboa ao secretariado português da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Na informação enviada à Agência ECCLESIA, o bispo de Pemba adiantou que escreveu ao Papa Francisco sobre a situação que estão a viver na região norte de Moçambique e a mensagem do pontífice, durante a ‘urbi et orbi’, nos dois principais noticiários do país lusófono Cabo Delgado esteve em destaque, este domingo.
“[Os telejornais] Nunca falavam de Cabo Delgado e falaram e colocaram a palavra do Papa. É isso que eu queria. Graças a Deus aquilo que esperávamos praticamente há um mês [aconteceu] num dia tão importante… na Páscoa e na bênção Urbi et Orbi, que tem mais peso ainda”, acrescentou.
O Papa Francisco recordou os ataques terroristas perpetrados contra “tantas pessoas inocentes” em vários países da África e fez uma referência especial à “crise humana” da região de Cabo Delgado, este domingo, na Basílica de São Pedro, onde este ano proferiu a sua mensagem pascal, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’.
D. Luiz Fernando Lisboa deu como exemplo o ataque realizado há uma semana a uma igreja, na localidade de Muidume, onde “arrombaram a porta, estragaram as janelas e queimaram alguns bancos dentro da igreja e duas imagens antigas”, inclusivamente do Sagrado Coração de Jesus que é o título da Igreja”.
“É a segunda missão da diocese, que vai fazer, em 2024, 100 anos. É uma missão que tem 96 anos. É uma igreja muito grande, histórica para a diocese”, contextualizou.
Neste contexto, o bispo de Pemba observa que o ataque a igrejas “simbolicamente, quer dizer alguma coisa” e “obriga” a fazer outras leituras porque estes lugares de culto passaram a ser alvo dos grupos armados.
“Nessa missão de Nangololo, no bairro não foram queimadas casas de comércio, barracas etc. E na missão não foram à casa dos padres ou das irmãs ou à rádio. Foram à igreja e então isso é simbólico”, acrescentou.
A fundação AIS recorda que organizações como a ‘Human Right Watch’ e a Amnistia Internacional alertaram para a ações de um “grupo islâmico armado, conhecido localmente como Al-Sunna wa Jama’a e Al-Shabab”.
“Os atacantes invadem aldeias, ateiam fogo a casas, massacram aldeões com machetes e roubam a sua comida”, escreveu a Amnistia Internacional, num relatório sobre direitos humanos em Moçambique em 2019, publicado este ano.
O secretariado português da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre acrescenta que “é difícil saber o número de pessoas que perderam a vida” em consequência dos ataques armados, a Igreja Católica contabiliza “pelo menos 500 mortos” e “cerca de 200 mil deslocados”.
A Cáritas Portuguesa divulgou também na sua página da internet informações sobre a situação que se vive em Cabo Delgado, referindo que, entre outros projetos de apoio aos deslocados que está em Pemba, está a distribuir 60 toneladas de alimentos doados pelo Programa Mundial de Alimentação.
CB/OC
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