Missões: Evangelização não pode ser um «exercício exterior, imposto»

Superior provincial dos combonianos é um dos oradores do Curso de Missiologia que decorre em Fátima

Lisboa, 28 ago 2014 (Ecclesia) – O Curso de Missiologia que está a ser promovido até este sábado em Fátima pelos Institutos Missionários Ad Gentes prossegue hoje com destaque para uma conferência sobre “Evangelização e culturas: Os desafios da inculturação”.

A sessão integrada no curso, que conta com cerca de 70 pessoas inscritas, entre religiosos, sacerdotes, missionários, seminaristas, estudantes de Teologia, candidatos ao laicado missionário e voluntários, vai ter como orador o superior provincial da congregação comboniana.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre José da Silva Vieira destaca a importância dos missionários atuais, consagrados ou voluntários, terem a capacidade de “desafiar” os povos a “aceitarem o Evangelho” através de um método que vá ao encontro da “realidade” concreta das pessoas e não de um “exercício exterior, imposto”.

“Oferecer a experiência de Jesus é permitir que cada comunidade faça isso sem negar a sua identidade, sem levar as pessoas como que a uma esquizofrenia religiosa, em que culturalmente são uma coisa e religiosamente são outra”, realça o superior provincial dos Missionários Combonianos.

O sacerdote dá como exemplo o tempo que viveu junto das comunidades de Juba, no Sudão do Sul.

“Hoje em dia nós vemos o povo Bari a fazer canções lindíssimas a Jesus e a cantá-las na sua língua, com aquelas danças por vezes até bastante guerreiras. O importante é conseguir fazer essa ponte” salienta.

Em termos mais abrangentes, o padre José da Silva Vieira destaca o facto de a missão ter hoje um âmbito geográfico completamente diferente, devido aos fenómenos migratórios e à globalização.

“A missão faz-se não só saindo para fora mas prestando atenção aos grupos não evangelizados que estão presentes entre nós, numa espécie de guetos, essas pessoas também têm o direito de ouvir falar de Jesus”, aponta aquele responsável.

Para isso, “as igrejas locais” têm de “abrir-se a essas realidades”, aponta o sacerdote, sublinhando um repto já lançado pelo Papa Francisco através da exortação “A alegria do Evangelho”.

Em causa está que as paróquias que acolhem essas comunidades multiculturais “assumam” a missão como “parte da sua vivência da fé”.

“Todos os católicos são missionários através do batismo”, frisa o superior provincial, reconhecendo no entanto que a boa vontade dos leigos é por vezes refém de um controlo excessivo por parte da hierarquia católica.

“A Igreja é a comunhão dos batizados, não é a comunhão dos padres, dos bispos com o Papa, os leigos têm que ter um espaço e um âmbito de trabalho maior, mais liberdade de ação, porque nota-se muita vezes que há um controlo muito grande por parte da hierarquia”, conclui.

O Curso de Missiologia está a decorrer no seminário dos Missionários da Consolata em Fátima.

Tem como docentes – além do padre José Vieira – o bispo de Lamego, D. António Couto, a teóloga Isabel Varanda, do polo de Braga da Universidade Católica Portuguesa, e os sacerdotes David Barbosa, dos Missionários do Verbo Divino e João Gonçalves, da Diocese de Aveiro.

JCP

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