Missas do Parto preparam o Natal na Madeira

Começam na Madeira as celebrações do Novenário do Menino Jesus, vulgarmente conhecido e consagrado na tradição madeirense, como as Missas do Parto.

Muito embora a vida moderna se apresente com algumas características que trazem algumas dificuldades à prática de algumas tradições, esta porém, parece implantar-se e viver-se cada vez mais na nossa terra, embora, certamente, adaptando-se às circunstancias e aos condicionalismos da modernidade.

Não terão as Missas do Parto de hoje o encanto e o fascínio de outrora, quando à sua preparação imediata, quanto à forma de percorrer, a pé, longas distâncias de uma ou duas horas, cantando ao som dos instrumentos típicos, como o rajão, as castanholas com o garrafão às costas, ou a garrafinha no bolso, mas a devoção à Senhora do Parto, ou Senhora do Ó, essa permanece e ao que parece, cobra actualmente maior entusiasmo e participação das comunidades cristãs. Pelo menos, em anos recentes, os espaços sagrados têm sido exíguos para acolher os fiéis.

Até a paróquia da Sé que normalmente omitia estas celebrações tomou a iniciativa de as celebrar, de há uns anos a esta parte, certamente para corresponder ao modelo e guia de todas as comunidades, como se tem vindo a insistir ultimamente.

A hora habitual das Missas do Parto tem sido antes da aurora nascer. A Virgem Maria é assim interpretada como sendo a Aurora da Redenção, aquela que vem antes do Sol, mas que já vem fazer sair das trevas da noite, para entrar na luz do dia.

Hoje, porém onde há um pároco para três paróquias, será muito difícil cumprir rigorosamente este horário, pelo que em algumas Missas do Parto, o sol já terá entrado na igreja, ou, noutro caso, a noite incipiente também a acompanhará.

Aliás a mesma liturgia recorda o papel da Senhora nesta espera do nascimento do Redentor: É a semana das antífonas do Ó, que fazem classificar a Virgem como a Senhora do Ó.

«Ó sabedoria… vinde ensinar-nos o caminho da salvação»; «Ó chefe da Casa de Israel… vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço»; Ó Rebento da Raiz de Jessé… vinde libertar-nos, não tardeis mais»; Ó Chave da Casa de David… vinde libertar os que vivem nas trevas e nas sombras da morte»; Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol da justiça, vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte»; «Ó Rei das nações e Pedra angular da Igreja…. vinde salvar o homem que formastes do pó da terra»; Ó Emanuel…. vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus».

Outro fenómeno que alimenta a tradição, é a mesma estrutura da Novena, com a invocação ao Espírito Santo, o canto da Ladainha, o Retrato da Senhora e a Eucaristia, onde também são entoadas loas à Virgem, ao seu puríssimo parto, e à alegria do nascimento do Messias.

Os cânticos permanecem os mesmos de pelo menos há um século, estão muito ao gosto do povo, simples e catequéticos, feitos em verso, quanto os textos litúrgicos ainda eram saboreados por eleitos latinistas. As melodias, essas também reflectem a simplicidade da composição e, sobretudo as imensas variantes em alguns trechos, que diríamos de comunidade para comunidade paroquial.

Mais do que a tradição renovada e vivida, a preparação espiritual para o Nascimento do Menino Jesus, do Salvador do Mundo, na poesia do presépio, é o que está subjacente neste fervilhar de pessoas e comunidades durante estes dias que nos separam da Festa do Natal.

Exposição de Imagens do «Menino Jesus»

Um dos símbolos da vivência cristã do Natal, é a armação do Presépio, onde se estampa a realidade das circunstâncias em que nasceu o Messias, tal como é contado pelo evangelista Lucas. O presépio, na Madeira, também é feito em jeito de «Lapinha», dando origem a imagens, não apenas dum recém-nascido, mas também dum menino já mais crescidinho, que no alto duma escadinha, preside, como rei do universo, a tudo quanto se lhe coloca a seus pés. Estas imagens que têm uma grande profusão entre nós, de vez em quando são objecto de exposições, algumas de iniciativa particulares ou pública.

Em São Gonçalo, e por iniciativa do Conselho Pastoral, estarão expostas imagens do Menino Jesus, no presbitério da respectiva Igreja Paroquial, desde o dia 15, primeira missa do Parto, até ao dia 20. Aí estarão amostras de colecções particulares, de valor artístico e estimativo, propriedade de famílias residentes na paróquia, dignas de serem apreciadas.

Manuel Gama

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