Missa da Ceia do Senhor
Amou os seus até ao fim!
Com esta celebração memorial da Instituição da Eucaristia damos início ao Tríduo Pascal e colocamos a nossa vida no seguimento de Cristo. Jesus amou os seus até ao fim e deixou-nos o exemplo.
A grandeza da vocação cristã está em viver a vida em comunhão e entrega ao Pai, amando e servindo os irmãos à maneira de Jesus Cristo.
Em tudo “amar e servir Jesus”, gastando a nossa vida com os irmãos, conscientes de que o serviço que prestamos aos pobres e de modo especial a todos aqueles que se encontram em provação, é feito ao próprio Cristo.
Atentos aos graves problemas do nosso mundo, de modo especial a guerra, a violência, a fome e a pobreza de meios essenciais para viver com dignidade e cuidar da família, encontrem nos discípulos de Cristo, aqueles que anunciam o Evangelho da esperança e repartem o pão particularmente aos mais pobres e abandonados da sociedade.
O amor e o serviço aos pobres que a Igreja anuncia no Evangelho das Bem-Aventuranças, cumpre-se no dinamismo do serviço da caridade, expresso de modo original nas obras de misericórdia.
“Toda a nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”, foi o cântico de entrada da nossa celebração, para que nós cristãos sintamos a alegria de perceber, o grande amor que Deus tem ao seu povo. A vida de Jesus foi entregue por nós ao Pai, mas primeiro passou pela experiência do despojamento e serviço aos outros, do lavar os pés aos discípulos, para durante a refeição se entregar à humanidade como alimento perene, que sacia a fome aos famintos e mata a sede a todos os que têm falta de água .
A Liturgia da Palavra é riquíssima nesta celebração festiva. A primeira leitura do Livro do Êxodo faz alusão à memória da libertação do Povo de Israel, descrevendo a preparação e celebração da páscoa, como momento da saída e libertação da terra do Egito. Esta celebração da páscoa judaica foi igualmente uma profecia da páscoa messiânica.
A imolação do cordeiro pascal e a libertação do povo de Israel, antecipa a ação salvífica de Cristo, que com o derramamento do seu Sangue oferece a salvação a toda a humanidade.
É durante a Última Ceia, o Banquete Pascal, que Jesus dá o sinal da sua vida entregue como dom da sua, antecipando os acontecimentos da sua paixão e morte. São Paulo na 2ª leitura apresenta o relato da Instituição da Eucaristia do seguinte modo: ”Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e dando graças, partiu e disse: “Isto é o meu corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim.” Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue”. Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, fazei-o em memória de mim”. Os discípulos repetem este gesto na Igreja celebrando a Eucaristia, “até que o Senhor venha” (1 Cor 11,26).
A Eucaristia é o pão e vinho transformado no Corpo de Cristo pela ação do Espírito Santo na transubstanciação, no momento da epiclese da Missa. Jesus faz-se alimento, dá-se como Pão Vivo descido dos Céus na comunhão Eucarística.
O gesto segundo o relato do Evangelho de São João, diz que Jesus depois de estar sentado à mesa, se levantou e depôs as suas vestes e inclinando-se sobre os seus discípulos, lava-lhes os pés, para mostrar a grandeza do amor novo, que se fez Mandamento do Senhor. Este anúncio é prefiguração da entrega e morte de Jesus na Cruz. Todo o gesto do lava-pés é sinal do grande amor de Cristo pelos seus e narra o amor de Deus pela humanidade que precisa de ser salva.
A Eucaristia, de que o lava-pés é realização existencial, é o Sacramento do ágape, do amor, do serviço realizado por Cristo, fazendo-se Servo de todos em tudo.
O gesto de Jesus que lava os pés aos seus discípulos tem valor de magistério para a Igreja: “Deixei-vos o exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também”(Jo 13,15). De Cristo Servo, passa-se à Igreja Serva. A Eucaristia torna a Igreja participante da missão de Cristo no serviço aos mais pobres e aos doentes.
A Igreja como Corpo de Cristo celebra diariamente a Eucaristia na esperança da sua vinda gloriosa. “Celebra-se a Eucaristia com o único Cristo e, portanto, com toda a Igreja, ou não se celebra de todo. Quem na Eucaristia procura apenas o seu grupo, quem nela e através dela não se insere em toda a Igreja e não ultrapassa o seu ponto de vista particular, faz exatamente o que é reprovado em Corinto“ (Cardeal Ratzinger).
Avivemos a nossa fé e devoção na presença real de Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia.
Celebremos a Eucaristia em cada domingo e em cada dia com muito amor e fé viva.
Participemos na Eucaristia como verdadeiros convidados para o Banquete do Reino.
Vivamos em Eucaristia, em ação de graças, em festa de amor e de partilha do pão dizendo: Ó Jesus, eu vos louvo e vos amo no Santíssimo Sacramento.
Alimentemo-nos do Corpo de Cristo e damos em cada dia: “Alma de Cristo santificai-me, Corpo de Cristo salvai-me, Sangue de Cristo inebriai-me…”
Diante de Jesus Eucaristia, louvemos e rezemos cantando:
“Ó Sagrado Banquete em que se recebe Cristo e se comemora a Sua Paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória”.
Adoremos Jesus, o Pão vivo descido dos Céus na Santíssima Eucaristia e levemo-lo como alimento aos doentes e Viático aos moribundos.
Como São Francisco e Santa Jacinta adoremos Jesus escondido na Eucaristia por amore digamos: Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-vos…
Com o exemplo da Beata Alexandrina, da Beata Rita e do Beato Carlo Acutis deixemo-nos apaixonar por Jesus Eucaristia e sejamos verdadeiros apóstolos adorando-O em cada dia em espírito e verdade.
Rezemos pelos pobres e doentes, pelos sacerdotes e seminaristas, pelos ministros extraordinários da comunhão, por todo o povo de Deus e pelo aumento das vocações sacerdotais, para que através do dom ministério ordenado, a Eucaristia seja sempre celebrada com fé e guardada como o verdadeiro tesouro da Igreja. Cristo está vivo na Santíssima Eucaristia. Ámen.
Viseu, 6 de abril de 2023
+ António Luciano, Bispo de Viseu