Militante da Acção Católica há 73 anos

Maria Adriana Lima

Exibe com orgulho o bilhete de identidade da Acção Católica Portuguesa. É de 1936, três anos após o nascimento do Movimento em Portugal. E desde essa ocasião não mais deixou a militância. Hoje, com 91 anos, continua fiel à metodologia da Acção Católica, na Rural (ACR), onde é vice-presidente, e promove periodicamente reuniões com quem pertencem na ACR de Lamego. Já não em qualquer ponto da Diocese, mas na sua própria casa.

Há 73 anos que Maria Adriana Lima se dedica sem reservas à AC. Conta à ECCLESIA que não acedeu imediatamente ao convite. Foi-lhe dirigido em Lamego, de onde é natural, em 1935. Mas rejeitou. “E não sou beata como vós”, disse às colegas de liceu que a desafiavam.

Um ano depois, já em Braga no curso do Magistério, ficou espontaneamente contagiada. “Vi uma multidão de jovens, muito felizes, muito contentes…” Quando percebeu a razão de tal entusiasmo, decidiu inscrever-se. “Comecei a ir às reuniões para poder entrar bem dentro do espírito da Acção Católica”. Adriana Lima diz que esse é o autêntico “espírito da Igreja”.

E depressa o aprendeu. Recebeu o emblema do Movimento e, em Lamego, ficou com as raparigas da JOC. “As raparigas da JOC, nessa altura eram as criadas de servir, as costureiras e pouco mais”. Na turma de Maria Adriana Lima, só eram 4 raparigas a estudar, “o resto eram rapazes”, recorda.

Na atenção às raparigas, fizeram uma “grande loucura”. Assim classifica o aluguer de uma casa “a mais cara” que existia na cidade de Lamego. Aí acolheram as raparigas que tinham de se deslocar para a cidade, algumas vindas de longe, para estudar. “Nós procurávamos, então, dar-lhes o máximo que podíamos”. “Até houve algumas que chegaram a doutoras”, refere com satisfação.

Presidente Nacional da JACF

Já como coordenadora dos Movimentos Juvenis da Acção Católica, em Lamego, é convidada para Presidente Nacional da Juventude Agrária Católica Feminina. Desloca-se para Lisboa e, durante 9 anos, fica responsável também pelas publicações daquele sector. Percorreu todas as Dioceses do País. “Na Madeira foi onde demorei mais tempo, porque fui a todas as secções. Uma vez falava no adro, outra vez no armazém do açúcar… Era onde elas arranjavam espaço!”

“Na verdade nos não fazíamos só trabalho propriamente da Igreja. Fazíamos nessa altura trabalho social, mesmo sem ter dinheiro nenhum”, sublinha.

Depois dos Movimentos Juvenis, Adriana Lima continuou nos sectores dos adultos, na LOC e na ACI, sem nunca deixar de coordenar, na Diocese de Lamego, os vários Movimentos da Acção Católica. “Só há pouco tempo deixámos de fazer aqui as reuniões, ainda não há um ano”, informa.

As reuniões que ainda não acabaram foram as dos que pertencem à Acção Católica Rural. “A ACR ocupou-me todo este tempo, porque eu percorri toda a diocese várias vezes”. Adriana Lima refere-se aos últimos 20, 30 anos. E ainda nos dias de hoje promove as reuniões ACR, agora na sua própria casa. E só não continua como Presidente da ACR, em Lamego, porque já não consegue descer as escadas do seu terceiro andar, no centro da cidade.

Aos 91 anos, o mesmo entusiasmo

Aos 91 anos, recorda os muitos quilómetros percorridos por todo o País, as muitas caminhadas a pé. Também as 31 quedas dadas, as 5 operações cirúrgicas já realizadas. Nada que a impeça de falar com o mesmo entusiasmo da Acção Católica Portuguesa. E de reclamar ajudas que retirem da penumbra o Movimento que formou consecutivas gerações de católicos. Quando pensa em quem hoje decide as dinâmicas pastorais da Igreja Católica, diz lembrando os movimentos da ACP: “sim senhor, gostam, querem, mas nada de ajuda!”

O lamento de Maria Adriana Lima é tão real quanto o retrato que faz da ACP nos dias de hoje. “Eu faço aqui as reuniões, na minha casa. Mas tem sido muito difícil aguentar a ACR. Temos muita dificuldade!” O que não é motivo para resistências. Através do compromisso de um grupo de jovens, a Acção Católica em Lamego procura renovar-se.

Para esta líder dos Movimentos da Acção Católica, “a única diocese que está melhor é Braga”. Também o Porto, mas “com dificuldade”.

Ao longo dos mais de 70 anos de militância activa nos Movimentos da Acção Católica, Maria Adriana Lima recorda a presença em Roma, por ocasião da proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora, em 1950. Sobretudo o encontro do Papa com as raparigas da Acção Católica. “Quando chegou a mim, que era a segunda, disseram-lhe: é de Portugal. Ele pôs-me mão na cabeça e disse: em ti em abençoo toda a juventude de Portugal”, lembra.

Em Portugal, viu a sua disponibilidade e entrega ao Movimento muitas vezes reconhecida, tanto nos Congressos, como nas celebrações dos 25 e 50 anos. Em 1980, recebeu do Papa João Paulo II uma medalha e um diploma que evoca o mérito do seu trabalho na ACP.

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