Milhares de pessoas no Coliseu para uma Via-Sacra em tons orientais

Milhares de pessoas juntaram-se no Coliseu de Roma, na noite desta Sexta Feira Santa, para uma Via-Sacra em tons orientais, com a China sempre como pano de fundo. Nem a chuva, o vento ou as recentes ameaças vindas de um outro Oriente afastaram os fiéis de um dos momentos mais simbólicos da Semana Santa no Vaticano. As meditações escritas pelo Bispo de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-Kiun, para a Via-Sacra colocaram em primeiro plano, embora sem nunca citar a China, os sofrimentos da “Igreja do silêncio” do seu país. O Cardeal lembrou a condição dos cristãos perseguidos pela sua fé – “mártires do nosso século – a ausência de liberdade religiosa e as injustiças cometidas pelo Estado, “a traição efectuada também por homens de Igreja, que, porém, será aquela que no final ganhará a sua vitoria. Os coliseus multiplicaram-se através dos séculos, – escreve o Cardeal Zen, referindo-se ao Coliseu como lugar histórico de martírio – nos lugares onde os nossos irmãos em diferentes partes do mundo, continuando a vossa Paixão, ainda hoje são duramente perseguidos. E é este também um destino que diz respeito também à Igreja, a Esposa de Cristo que em muitas partes do mundo, está atravessando a hora tenebrosa da perseguição. Através dos séculos, reafirma mais adiante nas suas meditações – falanges de inocentes foram condenados a sofrimentos atrozes. Alguém grita que é uma injustiça, mas são eles, os inocentes, que em comunhão com Cristo, o Inocente, expiam os pecados do mundo. No momento de falar de Pilatos “imagem de todos aqueles que detêm a autoridade como instrumento de poder e descuidam a justiça, a oração afirmou: “Iluminai a consciência de tantas pessoas constituídas em autoridade, para que reconheçam a inocência dos vossos seguidores. Dai-lhes a coragem de respeitar a liberdade religiosa”. E os poderosos – explica o Cardeal Zen – são também aqueles que controlam o comércio e os mass media; mas, há também a gente que se deixa facilmente manipular pelos poderosos para oprimir os fracos. Sem fazer uma referência explícita à divisão da Igreja chinesa, entre a igreja patriótica e a “subterrânea”, as meditações falando de Judas fazem referencia à traição que surpreende sobretudo se se referem também aos pastores do rebanho de Deus. Um pensamento foi também para as mães que, sob risco de prisão e perseguição, continuaram a rezar em família, cultivando no coração a esperança de tempos melhores. A invocação proposta pelo Bispo de Hong Kong a propósito da Igreja perseguida é que o sangue dos mártires se torne semente de novos cristãos, que a certeza, de que os seus sofrimentos, embora no momento presente pareçam uma derrota completa levarão à vitória completa da Igreja. “Senhor – foi a oração dos fiéis durante a Via-sacra no Coliseu de Roma – dai constância aos nossos irmãos perseguidos. Senhor, fazei-nos perseverantes na união com a Igreja do silêncio e na aceitação da necessidade de desaparecer e morrer como o grão de trigo”. Cruz torna-nos irmãos “A Cruz torna-nos irmãos” uns dos outros, “sem distinção de raça ou de cultura”, pois “Jesus Cristo morreu para libertar toda a humanidade da ignorância de Deus, do círculo do ódio e da violência, da escravidão do pecado”: recordou Bento XVI, no final da Via Sacra. O Papa convidou todos a interrogarem-se sobre o que têm feito do dom que a Cruz de Cristo constitui: “Que fizemos nós da revelação do rosto de Deus em Cristo, da revelação do amor de Deus que vence o ódio?” Muitos são os que, na nossa época, não conhecem Deus e não O conseguem encontrar em Cristo crucificado – observou Bento XVI. “São tantos os que se encontram à busca de um amor e de uma liberdade que exclua Deus. Tantos crêem não precisar de Deus”. Ora – sublinhou – “Jesus é a Verdade que nos torna livres de amar. Não temamos!. Morrendo, Jesus salvou os pecadores, isto é, todos nós”. “É esta a verdade da Sexta-feira Santa: na cruz o Redentor restituiu-nos a dignidade que nos pertence, tornou-nos filhos adoptivos de Deus que nos criou à sua imagem e semelhança. Permaneçamos portanto em adoração diante da Cruz”. Insistente o apelo do Papa a que dirijamos para Cristo “o nosso olhar, tantas vezes distraído por interesses terrenos dispersivos e efémeros”, fixando-nos sobre a Cruz. “A Cruz é nascente de vida imortal, é escola de justiça e de paz, é património universal de perdão e de misericórdia; é prova permanente de um amor oblativo e infinito que levou Deus a fazer-se homem vulnerável como nós até morrer crucificado. Os seus braços pregados (na cruz) abrem-se para cada um dos seres humanos e convidam-nos a aproximarmo-nos d’Ele na certeza de que Ele nos acolhe e nos abraça com uma ternura infinita”. “Reconciliados e redimidos pelo sangue de Cristo, os homens de cada época tornaram-se amigos de Deus, filhos do Pai celeste”. Jesus é “verdadeiro amigo de todos” e de cada um… “Infelizmente, nem sempre os homens conseguem advertir a profundidade deste amor ilimitado que Deus nutre pelas suas criaturas. Para Ele não há diferença de raça e cultura. Jesus Cristo morreu para libertar toda a humanidade da ignorância de Deus, do círculo do ódio e da violência, da escravidão do pecado. A Cruz torna-nos irmãos e irmãs”. (Com Rádio Vaticano) FOTO: Lusa

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