Mil novos rostos

Do «velho» SAI à milenar Agência ECCLESIA “O velho «SAI»… sai hoje com um novo rosto” – assim escrevia a Irmã Maria Isabel Coutinho, a 10 de Fevereiro de 1983, no número 1 do Serviço de Apoio à Informação (SAI). Para trás ficaram algumas centenas de boletins do CCI (Centro Católico de Informação) e SAI (Serviço de Apoio à Imprensa). O aspecto gráfico sofreu alterações, a periodicidade voltou a semanal e o preço de capa era de 10 escudos. O novo rosto manifestava, “de forma implícita, um desejo de maior alargamento de horizontes” – frisava a referida irmã. O primeiro número tinha oito folhas mas só utilizava a frente das mesmas. As duas últimas correspondiam, na linguagem actual, a um suplemento – resumo da Nota Pastoral sobre a Regulamentação dos Nascimentos. Ao olharmos para o conteúdo dos boletins nota-se que, nessa altura, as preocupações eram semelhantes. “150 mil jovens esperam o primeiro emprego”; “Novo Código de Direito Canónico”; “A Confederação Nacional das Associações de Família em Congresso” e “II Jornadas de Pastoral Universitária” eram alguns dos títulos do boletim de 17 de Fevereiro de 1983. Temáticas dos nossos dias mas sem a chamada linguagem apelativa tão característica das notícias actuais. Na altura, o director do Serviço de Apoio à Informação era o Pe. José Maria Reis Ribeiro. Ao folhearmos o arquivo reparamos que o corpo do boletim era ocupado com mensagens dos bispos portugueses, o Santuário de Fátima e notícias vindas de Roma. O velhinho SAI continuou o caminho mas o número 18 recebeu um novo director – Pe. Joaquim Cardozo Duarte – que faz um resumo da Mensagem dos bispos ao Povo de Deus. “Uma proposta de evangelizar a mutação que se está a dar nesta nossa sociedade portuguesa, em marcha acelerada para o ano 2000” – salienta nesse boletim. Grande parte dos boletins tinha 8 páginas mas o número aumentava se um documento do Papa ou dos bispos portugueses não era resumido. O Pe. Cardozo Duarte chegou a afirmar que “esta apresentação não dispensa a leitura” dos documentos. O SAI era o divulgador dos documentos pontifícios e da Conferência Episcopal Portuguesa. A 14 de Julho de 1983 sai o número 22 do Serviço de Apoio à Informação com pequenas alterações. O nome do director aparece pela primeira vez na capa tal como o proprietário do boletim – Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja. O preço de capa mantém-se tal como o grafismo. Ainda era «menino» mas crescia a olhos vistos: publicou durante algumas semanas um suplemento sobre o «Ano Santo da Redenção». Um extra formativo policopiado em papel de cor. Não existiam temas centrais nem comentadores mas, de tempos a tempos, publicava extractos de livros ou de artigos de revistas estrangeiras. As semanas passavam e as novidades apareciam. No número 88, publicado a 16 de Janeiro de 1985, surge a secção «editorial». A primeira página é destinada ao comentário do director. O primeiro editorial tem como tema de fundo as “Linhas de Força do PTE (Plano Trienal de Educação) para os Meios de Comunicação Social”. Na reflexão, o director afirma que “a recristianização que o PTE propõe não significa regresso ao passado nem lançamento de qualquer espírito de cruzada”. Entra na casa dos três algarismos e as preocupações tornam-se mais abrangentes porque Portugal passa a integrar a União Europeia. “O modo de vida de Portugal vai ser inevitavelmente alterado” – sublinha o editorial do número 106 que contém também a Nota Pastoral do Conselho Permanente sobre a Integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia. Esse SAI de Maio, na página 5, divulga também uma Nota do Serviço Nacional de Protecção Civil sobre “Os incêndios florestais”. Passados mais de quatro anos, 8 de Abril de 1987, o Serviço de Apoio à Informação passa a custar 20 Escudos e esse número contém 9 páginas sendo 7 delas dedicadas ao comunicado dos Presidentes das Conferências Episcopais da Europa. Apesar de não conhecer “a guerra desde há 40 anos”, a Europa “também não conhece a paz”. Diferenças étnicas, sociais, políticas ou religiosas causam graves tensões em muitos Estados Europeus” – dizem os bispos europeus, reunidos a 8 de Março desse ano, em Dieburg. Se repararmos nas datas, o SAI publica o comunicado um mês depois do encontro. As novas tecnologias ainda não tinham chegado… Ao fazermos uma análise dos temas abordados hoje e naquela altura chegamos á conclusão que estes estão interligados. Ecumenismo, Justiça Social, Pastoral Familiar e Juvenil, Papel dos Meios de Comunicação Social e assuntos do Vaticano dominam as notícias. Todos os editoriais do mês de Junho de 1987 faziam uma reflexão sobre a actualidade política: “Eleições; Política e Linguagem, Co-Responsabilidade e Eleições”. Em Julho desse ano realizavam-se eleições e um destes editoriais refere mesmo que “A Igreja não pode deixar de intervir na política”. Com o aproximar do número duzentos, verifica-se o aparecimento de comentários sobre assuntos vigentes. Um dos colaboradores mais assíduos é o cón. Carlos Paes, actual pároco de S. João de Deus, em Lisboa. Uma dessas reflexões aborda a “SIDA: o que todos devem fazer”. Ano novo vida nova. Com o primeiro número de 1988 desaparece a secção «editorial» do boletim e a primeira página passa a ser ocupada pelo sumário das notícias e pela novidade “Palavra da Semana”. Uma reflexão sobre uma citação bíblica. A última página do boletim era reservada à programação religiosa nos grandes Meios de Comunicação Social. Para antecipar o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 1988, celebrado a 15 de Maio, o SAI fez um número especial, 4 de Maio, dedicado ao tema desse ano: “As comunicações Sociais e a promoção da solidariedade e da Fraternidade entre os homens e os povos”. Esse boletim passa a contar com um novo director – José Vicente Ferreira – e com novo visual. No topo, em tom azulado, estão representadas quatro pessoas a lerem jornais. As folhas passam a ter o logotipo do SAI e utiliza-se a frente e verso das mesmas. A 4 de Outubro de 1989, boletim 284, o SAI faz nova remodelação. A primeira página tem apenas os destaques. O semanário passa a ter uma assinatura anual de mil e oitocentos escudos a 4 de Abril de 1990. José Vicente Ferreira esteve como director do Serviço de Apoio à Informação do número 232 ao 335. O ano de 1991 trouxe uma nova equipa redactorial para o SAI. O Pe. António Rego assume o cargo de director a 9 de Janeiro. Voltam os editoriais – na página 3 -, o sumário das notícias e um destaque na capa. A última página fica enriquecida com o «Cinema na Televisão». A secção das notícias nacionais começa a ganhar relevo e o semanário passa a ter 10 páginas. Com o anúncio do 2º recenseamento da prática dominical, realizado em Março de 1991, o Pe. António Rego sublinha no editorial que este “não terá uma função triunfalista ou de marketing religioso. É um indicador, entre outros, da procura e da resposta, da relação real da Igreja-mundo”. As reflexões sobre questões vigentes começam a ganhar o seu espaço e o SAI convida, regularmente, colunistas. O actual ministro da presidência, Pedro Silva Pereira, escrevia no semanário n.º345 que “os jovens parecem neste tempo de morte anunciada das ideologias, mais preocupados de facto, com a eficácia do sistema – no plano pessoal, primeiro, depois talvez, no plano social – do que com a questão do sentido”. Em Março de 1991, novo rosto do Serviço de Apoio à Informação e novo preço da assinatura anual: dois mil escudos. A 30 de Outubro de 1991 mudança de nome mas com a mesma sigla. O Serviço de Apoio à Informação dá lugar ao Serviço de Agência Informativa. “Emissora Católica em Cabo Verde” foi o destaque do semanário de 8 de Julho de 1992. Uma notícia que colocou de lado a velha máquina de escrever e aprisionou um computador na redacção. Um progresso tecnológico… hoje é uma peça de museu. Depois das férias – o SAI não se publicava no mês de Agosto – o Serviço de Agência Informativa acolheu um novo director. O Pe. João Caniço na tomada de posse – dia 15 de Setembro – como director da publicação referiu que “apercebo-me facilmente que para muitas entidades e pessoas, ele constitui o ponto de partida da informação e até formação no campo religioso e guia de comportamento individual, familiar e social”. No Natal desse ano, o Serviço de Agência Informativa utiliza pela primeira vez a fotografia. Um brinde natalício publicado no n.º 429. No número anterior, a publicação passa a ter 12 páginas. Depois de muitos anos com a cor azul, o primeiro SAI de 1993 veio para a rua com tons de esperança (verde). Lá dentro surge mais «arrumado» e com secções novas: livros e breves. A assinatura anual aumenta para os três mil escudos. Com o passar dos meses, o semanário começa a ter um tema central e os respectivos comentários. O número de páginas é reduzido novamente para as dez. Na Páscoa desse ano, o editorial passou para a parte superior da capa e o sumário na parte inferior. Alternadamente passa a utilizar imagens na capa e começa a ter publicidade, de tempos a tempos, à Rádio Renascença. No grafismo, os títulos começam a ganhar saliência em relação às notícias. A última página é dedicada ao «Cinema na Televisão». O Boletim Cinematográfico faz uma classificação estética e ética dos filmes que passam ao longo da semana nos quatro canais portugueses. O verde mantém-se mas o velhinho SAI que saiu centenas de vezes para a rua deu lugar à Agência ECCLESIA (AE). 5 de Janeiro de 1994 com o n.º 475, a AE chama para primeira página “Domingo numa sociedade em mudança” e “Grande Exposição Missionária” foi o início de mais uma caminhada que tinha na chefia do pelotão o Pe. João Caniço. Dentro do «embrulho» havia também um presente: a disposição dos textos eram a duas colunas. Anualmente, o leitor passava a desembolsar os antigos 4 contos. Como estava à venda nalgumas livrarias católicas, a AE avulso custava cem escudos. A edição especial de 14 de Abril de 1994, para comemorar os 20 anos do 25 de Abril, saiu com 20 páginas. Essa publicação histórica com o número 490 tinha apenas análises, depoimentos e comentários sobre a «revolução dos cravos». António Sousa Franco, D. Eurico Dias Nogueira, Teresa Costa Macedo, D. Manuel Martins, D. António Marcelino, Manuela Silva, Manuel Braga da Cruz, entre outros, contribuíram para enriquecer o pensamento sobre a Igreja e o 25 de Abril. Três números depois, o editorial do director passa a figurar numa coluna da primeira página. “Factos e Ideias”; “Igreja em Portugal”; “Reportagem”; “Pelas Dioceses”; “Comentários”; “Dossier”; “Notícias de Roma”; “Internacional”; “Síntese”; “Livros e Audiovisuais”; “Agenda”; “Programação religiosa nos Media” e “Cinema na televisão” constituem as várias secções da AE que tem 14 páginas. “E já lá vão 500” é o título do editorial da edição quinhentos. 22 de Junho de 1994 foi a data da efeméride. Nos vários depoimentos pedidos, D. Manuel Falcão confessou à Agência ECCLESIA que foi “atacado pelo vírus do jornalismo desde os 14 anos”. Como visionário realçou que “prevejo que, num futuro não muito longínquo, a Agência ECCLESIA passe a fornecer, além da notícia, comentário, reportagem, entrevista, material gráfico, publicidade especializada e divulgação sistemática da estatística e investigação das competentes instâncias da Igreja. E se, como é ainda de prever, ela se abra ao mundo televisivo e audiovisual, então muito mais se pode esperar dela…” Ainda nesse ano, a AE deixou o agrafo na parte superior esquerda do boletim e passou a caderno com 12 páginas. A apresentação gráfica no interior também conheceu novidades. O pagemaker – programa de paginação – entrou na redacção e a estética das páginas melhorou substancialmente. Depois de muitos anos com o azul a predominar e dois de verde, a AE aparece no início de 1995 com o logotipo vermelho. A equipa é a mesma tal como as preocupações deste órgão de comunicação social: alertar para o espírito de solidariedade. Neste Ano Internacional da Tolerância, a Agência ECCLESIA não se esquecia dos timorenses – “Timor – Leste: vinte anos de sofrimento e morte” – e dos mais desprotegidos – “Não há solução para os problemas sociais”. Manchetes do mês de Janeiro desse ano. A inflação aumentava e o preço da assinatura anual subiu 500 escudos. Em Maio desse ano, a AE publicou um suplemento de 4 páginas sobre cinema e o centenário da primeira sessão pública desta arte de comunicar. A mensagem de João Paulo II para o Dia Mundial das Comunicações centrava-se nesse tema. Apesar de muitos leitores da AE estarem a gozar as merecidas férias, em Julho desse ano dois assuntos mereciam destaque: “Eutanásia não tem justificação” e “Imigração”. Estamos em 1995 ou em 2005? Estamos ainda no século XX mas as temáticas são as mesmas. Nos últimos meses desse ano, o boletim passou a ter somente oito páginas. Durante o mês de Outubro só se publicou duas vezes. Volta azul. Estás perdoado… No início de 1996, os leitores receberam o semanário novamente em tons azulados e a assinatura anual passa para os 5 mil escudos. Não foi o voltar às origens mas à garra inicial. Em Março desse ano, D. Augusto César denuncia a “miséria encontrada” em Castelo Branco. Apesar da sede da Agência ECCLESIA estar situada em Lisboa, as notícias surgem de todos os pontos do país e do mundo. “Em 1995, a Ilha do Corvo não teve baptismos” e “ bispo do Funchal compara os donos das grandes superfícies aos faraós egípcios”. Ainda nesse ano, D. António Ribeiro, Cardeal – Patriarca de Lisboa, falou da futura “basílica de Santo António”. Apesar do bispo de Viana (na altura era D. Armindo Lopes Coelho), estar “descontente com a sociedade actual”, a AE dava um passo tecnológico. Na ficha técnica do semanário n.º 593 (17 de Julho de 1996) aparecia, pela primeira vez, o endereço electrónico da Agência ECCLESIA, assim como o respectivo email. Entrou-se no domínio cibernáutico. A 30 de Outubro de 1996, a AE noticiava que o Pe. João Caniço deixa o cargo de director. O leme da AE passa para Paulo Rocha que no primeiro semanário entra com a “Polémica deixa Núncio Apostólico às escuras”. Estamos a 20 de Novembro de 1996, e o novo director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, Pe. António Rego, escreveu no «Reflexo» – substitui o «Editorial» – “quem sabe «sarfar» nessas vagas são os jovens. Daí a aposta nesta equipa apoiada por adultos”. Numa «caixa» na parte inferior da primeira página do semanário de 29 de Janeiro de 1997, informava-se os leitores que “a Agência ECCLESIA disponibiliza em http://www.ecclesia.pt um serviço diário de informações bastante mais completo do que a edição semanal”. Um passo de gigante… Um semanário em papel e um diário on-line. Olha-se para o topo da primeira página e vemos “Comunicar o Evangelho de Jesus Cristo”. No fundo são os objectivos da Agência ECCLESIA em contraste com o tema do reflexo desse dia “O aborto do referendo”. Uns nascem e outros tentam matar… As 8 páginas mantêm-se mas o interior sofre pequenas arrumações. Títulos mais apelativos e uma orgânica na colocação das notícias porque “o Teatro é o da vida” – dizia Ruy de Carvalho, na AE de 2 de Abril de 1997. “Confiem em nós” – dizia um jovem Timorense – e “Deus está na RTP” foram manchetes do n.º 633. Com a ida do Pai para a estação pública, o nome ECCLESIA ganhou mais visibilidade. Outro passo na longa caminhada que teve o exemplo de João Paulo II – “77 viagens aos 77 anos”. O primeiro AE de 1998 avaliava o ano anterior e perspectivava o ano que começava. Portugal recebeu a Expo 98 e a AE aumentou o número de páginas (passou novamente a 12) . Mais acontecimentos eclesiais redigidos num “Ano Novo com mais informação”. O grafismo leva alguns retoques e as notícias são servidas com outra «pomposidade». Nesse ano alguns assuntos mereceram destaque e ocuparam algumas páginas da AE: falecimento de D. António Ribeiro, Expo 98, Comunicações Sociais, João Paulo II em Fátima, Timor-Leste, Bodas de Diamante do CNE e o valor da vida. “2000 anos que mudaram o mundo” – foi apenas um dos subsídios que AE ofereceu aos leitores para prepararem o Jubileu do Ano 2000. Com cerca de 40 artigos, a edição n.º 752 (21 de Dezembro de 1999) levava consigo um livro jubilar. Na Internet disponibilizava www.ecclesia.pt/jubileu. No ano seguinte, as noticias da Igreja tinham o seu alicerce no Jubileu. A Igreja portuguesa e do mundo celebrou os 2000 anos do nascimento de Jesus Cristo. A Agência ECCLESIA notou que já navegava em águas profundas e, no início de 2001, coloca um «peixe» no seu logotipo. As notícias da AE são a boca e os olhos desse “peixe cristológico». Um logotipo novo e um grafismo mais moderno. Consequência do Jubileu do ano 2000 para servir mais e melhor o leitor. Com novo rosto, a AE dava os parabéns aos cardeais portugueses (20 de Fevereiro de 2001) e divulgou muitas actividades do Ano Internacional do Voluntariado. Não existe nenhum livro que conte a história desta Agência mas uma certeza temos: muitas notícias e comentários serviram para formar e informar os cristãos. A secção «Reflexo» – escrito semanalmente pelo Pe. António Rego – já passou o «circuito» da AE e aportou no livro “Deus na cidade”, editado pela editora Paulus, em 2003. O caminho faz-se de etapas e a AE galopava até ao número 1000. Deixou de ser centenário e passou à classe milenar. 22 de Março de 2005 foi a data… Estamos no princípio, no meio ou na parte final da maratona? Luis Filipe Santos

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