Migrante: homem de paz

Contexto migratório restritivo e crise social leva I Fórum Internacional das Migrações a afirmar migrante como pessoa de desenvolvimento Os imigrantes são factor de desenvolvimento e de rejuvenescimento dos países de destino. Duas conclusões que emergem do primeiro Fórum Internacional sobre Migração e Paz, promovido pela Rede Internacional Scalabriniana de Migrações (SIMN), que juntou na cidade de Antigua, no Guatemala, cerca de 200 pessoas. O Fórum mostrou a necessidade de mudar a perspectiva sobre segurança e desenvolvimento, duas palavras que assiduamente “classificam o «problema migratório»”, mas que “carregam já uma visão distorcida”, explica o Pe. Alfredo J. Gonçalves, Superior Provincial dos Scalabrinianos de São Paulo, no Brasil, que encerrou o Fórum com as conclusões e os desafios futuros. “Mais do que falar de segurança nacional, é preciso perceber o que o Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum Progressio chamava de desenvolvimento integral – «O desenvolvimento é o novo nome da paz»”. O superior provincial de São Paulo sublinha que o conceito de desenvolvimento, “assume um duplo significado”. Os países de origem, “normalmente os países periféricos”, devem “incentivar um tipo de desenvolvimento que inclua os cidadãos, para que estes não sejam obrigados a sair”. Isso significa, aponta o sacerdote, “promover condições reais de vida. Não basta o progresso técnico e o crescimento económico, é preciso que isso conduza a uma qualidade de vida cada vez mais humana”. Por outro lado, os países de destino, precisam perceber que os migrantes, “longe de constituírem um problema, representam uma contribuição real para a economia do país”. O Pe. Alfredo Gonçalves destaca o “sangue novo em organismos muitas vezes já decrépitos e o entusiasmo juvenil nas sociedades”. “Os imigrantes são inegavelmente um factor de desenvolvimento”, mas não só. “Os seus costumes e as suas expressões culturais, quando se cruzam com a cultura local, podem trazer um enriquecimento mútuo”. O encontro decorreu nos dias 29 e 30 de Janeiro e contou com a participação de representantes de quase todos os países da América. Bispos, agentes e promotores da pastoral da mobilidade humana, representantes de outras organizações e de vários órgãos do poder público, para além da Prémio Nobel da Paz, a guatemalteca Rigoberta Menchú, estiveram juntos a debater «Fronteira: muros ou pontes». Migrações: um fenómeno histórico A História mostra que os movimentos migratórios nunca vão ser interrompidos por barreiras ou medidas restritivas. Num mundo cada vez mais interligado, as migrações são um tema recorrente na agenda internacional. O número de migrantes mais que duplicou nos últimos 30 anos, apontando, actualmente, para cerca de 200 milhões em trânsito. Apesar das políticas restritivas, controlo apertado de fronteiras e aumento das deportações, os factores de pobreza, desemprego, desastres naturais e conflitos civis, políticos e económicos vão continuar a forçar milhões de pessoas a procurar uma vida e condições melhores. Neste contexto, o primeiro Fórum Internacional sobre Migração e Paz pretendia, num alto debate, debater a relação entre o processo migratório e a construção internacional de uma coexistência pacífica. Os dois dias de trabalho incluíram amplas discussões, mas também trabalhos de equipas sobre questões de política migratória e o processo de reconciliação nas Américas, o papel da Igreja na promoção da paz entre os imigrantes e as comunidades locais e ainda sobre o papel dos imigrantes enquanto construtores de paz através do trabalho, da cultura e dos valores familiares. O Pe. Alfredo Gonçalves recorda que tema da migração emerge com “preocupação crescente nos media”. O sacerdote destaca ainda que “quando se fala de migração e paz, pressupõem-se situações de violência e guerra”. Inegavelmente os conflitos geram milhões de refugiados e exilados, todos, em maior ou menor grau, vítimas civis. Mas “as pessoas que fogem destes cenários, procuram a paz”, cenário extensível às pessoas que migram por motivos sócio-económicos. “Trabalho, respeito pelos direitos humanos e paz são os seus objectivos”. O Pe. Alfredo Gonçalves destaca que “praticamente todos os países, ricos ou pobres, têm pessoas a viver em condições difíceis, devido à sua condição de imigrante” e lembra que, em tempos de crise, “a tendência é que cada país defenda os seus próprios cidadãos, em detrimento dos estrangeiros”, numa atitude comum entre “políticos, sindicalistas e militares”. “A barreira entre os de dentro e os de fora tende a levantar muros cada vez mais altos”, sublinha. Por isso, procurando a paz, “as migrações podem conduzir a conflitos entre povos distintos”. Mas o sacerdote sublinha que num ambiente onde se “misturam pessoas e raças, línguas e bandeiras, moedas e costumes, mercadorias e preços”, “há também lugar para a criação de novas relações humanas”. Leis mais rígidas e muros, “uns visíveis outros invisíveis”, separam os países, mas isso “não impede que os migrantes construam pontes e cruzem fronteiras”, destaca. O Fórum Internacional esteve a cargo da Rede Internacional Scalabriniana de Migrações que interage com mais de 270 organizações, presentes em mais de 30 países nos cinco continentes. Através de centenas de voluntários, 700 padres e religiosas da congregação Scalabriniana, assumem a missão de salvaguarda da dignidade e dos direitos dos migrantes, refugiados, itinerantes e pessoas em trânsito.

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