Migrações/Portugal: Igreja alerta para «guetização» de estrangeiros, mas afasta cenário de Londres

Responsável da Obra Católica Portuguesa de Migrações destaca ainda aumento da emigração devido à crise económica

Fátima, Santarém, 12 ago 2011 (Ecclesia) – O diretor da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) alertou hoje em Fátima para a “guetização” das comunidades estrangeiras no país, mas disse acreditar que “nunca” se verão em Portugal imagens como as de Londres nas últimas noites.

Em conferência de imprensa, frei Francisco Sales Diniz destacou a concentração de imigrantes em “áreas metropolitanas”, o que leva a “graves problemas sociais” na integração das novas gerações.

Questionado sobre a possibilidade de se verificar em Portugal uma onda de violência nas ruas, o padre franciscano admitiu “situações pontuais”, mas não a generalização de motins, por existir no país “uma cultura completamente diferente” daquela que se verifica noutras nações.

“Nunca”, disse mesmo frei Sales Diniz sobre a potencial repetição de cenas como as de Londres e outras cidades inglesas em Portugal, apesar do que considera ser o “desenquadramento das gerações mais novas”.

Segundo este responsável, existem tensões e mesmo “gangues” nalguns bairros, referindo que é preciso “fazer um trabalho para tentar ajudar as gerações mais novas a integrarem-se”.

O sacerdote apelou à criação de “condições necessárias para que todos possam viver com dignidade”.

Frei Sales Diniz adiantou, por outro lado, que “a emigração disparou” e que as missões católicas na Europa registam a “chegada permanente de novos portugueses”.

Nesta emigração, o sacerdote contabiliza “gente muito nova, que acabou os seus cursos e não tem saída profissional” e também “famílias inteiras”, com compromissos económicos em Portugal, que perderam as suas fontes de subsistência.

O diretor da OCPM justificou a escolha da comunidade cabo-verdiana, “das mais antigas” em Portugal, para o papel de destaque na atual semana nacional de migrações, que decorre entre 6 e 14 de agosto.

Para o religioso franciscano, esta comunidade “ficou um pouco esquecida” com a “emergência de um outro tipo de imigração”, tanto de Leste como brasileira.

“Cada comunidade tem uma especificidade”, destacou aos jornalistas.

D. António Vitalino, bispo de Beja e presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, disse por seu lado que esta peregrinações internacional dos migrantes a Fátima, entre hoje e sábado, é uma “experiência forte” e o “ponto alto” da 39ª semana de migrações promovida pela Igreja Católica (6 a 14 de agosto).

Aos imigrantes cabo-verdianos, o prelado deixou uma palavra de felicitação pelo “exemplo bem sucedido da mistura de povos e raças”.

A peregrinação deste ano é presidida por D. Arlindo Furtado, bispo de Santiago (Cabo Verde), que disse ter aceitado “com muito gosto” o convite da Igreja Católica em Portugal.

O prelado convidou a “tomar consciência de que o ser humano é um ser migrante, a partir de dentro” e a viver uma vida “mais serena”, numa convivência global.

Segundo o último ‘Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo’, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a comunidade cabo-verdiana é a terceira “mais expressiva” entre a população estrangeira residente em Portugal, com 43 979 cidadãos residentes (9,98% do total de imigrantes).

OC

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