Migrações: Diretores da Obra Portuguesa dizem que hierarquia católica secundariza problema

Sacerdotes sublinham presença da Igreja entre as comunidades lusas na diáspora e no apoio aos imigrantes

Lisboa, 20 jun 2012 (Ecclesia) – Os três padres que desde 1984 dirigiram a Obra Portuguesa Católica das Migrações (OCPM) consideram que a hierarquia eclesial relativiza o acompanhamento às pessoas que entram e saem do país à procura de melhores condições de vida.

“O maior desafio e dificuldade que se coloca no desenvolvimento do trabalho na OCPM, encontra-se na sensibilização da própria Igreja para esta realidade”, escreve o atual diretor, frei Sales Diniz, em artigo publicado no dossier do Semanário Agência ECCLESIA desta terça-feira, dedicado às Migrações.

A “diminuição do número de sacerdotes” e as “crescentes necessidades pastorais” contribuíram para que o assunto tenha deixado de ser “uma prioridade e uma preocupação” das dioceses, observa.

O padre Rui Pedro, que presidiu à OCPM entre 2000 e 2007 e antecedeu o atual diretor, também pensa que o assunto foi relativizado: “Entre os bispos senti não ser uma realidade consensual, nem um tema maior”.

Para o padre Manuel Soares, presidente de 1984 a 2000, o final do mandato foi marcado por “uma sensação frustrante de trabalho inacabado”: “Não obtivemos um documento oficial da Conferência Episcopal sobre a Pastoral das Migrações”.

O sacerdote também aponta falhas na comunicação “de e para as comunidades na diáspora” e relata a existência de “grandes obstáculos na pastoral dos ciganos e na assistência religiosa dos aeroportos”.

Os três sacerdotes sublinham o trabalho da OCPM nos 50 anos da sua existência, que se assinalam em 2012.

O atual diretor destaca a ajuda prestada aos emigrantes lusos para que pudessem “viver a fé e a integrar-se nos países e Igrejas que os acolheram”.

Em Portugal o organismo católico acompanhou a “diversidade humana, religiosa e cultural de milhares de imigrantes”, refere o religioso franciscano, que enuncia os serviços prestados pela Igreja, como a catequese, celebração dos sacramentos, festas e devoções, preservação da língua e cultura e apoio aos pobres.

O padre Rui Pedro realça a colaboração com “Igrejas, congregações, associações, universidades e organizações cívicas – algumas com filosofias irreligiosas – empenhadas nos direitos humanos dos migrantes e refugiados”. 

Entre as parcerias o religioso scalabriniano recorda a presença em manifestações de rua realizadas em Lisboa nos anos de 2004 e 2005 a favor da legalização dos imigrantes, que lhe “trouxeram problemas com os superiores” devido ao envolvimento de um organismo do episcopado.

“Os primeiros anos de trabalho na OCPM foram dedicados quase exclusivamente às comunidades portuguesas no estrangeiro, particularmente na Europa, América do Norte, África do Sul, Marrocos, Venezuela e Austrália”, quando o número de emigrantes era estimado em 4,5 milhões, lembra por seu lado o padre Manuel Soares.

A partir do início da década 90 “a grande quantidade” de imigrantes à procura de trabalho “colocou problemas difíceis à sociedade portuguesa, sobretudo de controle na entrada e permanência no território”, refere o sacerdote.

A OCPM colaborou com o Governo nos dois períodos de legalização, “organizando as associações de imigrantes num trabalho conjunto (…) e influindo muito profundamente, em colaboração com essas associações e estruturas do governo, na legislação necessária para a imigração”, assinala.

RJM

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