Associação Internacional alerta para «barbárie» e lamenta que «Portugal continua a ignorar» a comunidade «bayingyis»
Lisboa, 18 jan 2023 (Ecclesia) – A igreja de Nossa Senhora da Assunção em Mianmar, em Chan-tha-ywa, onde vive uma comunidade católica de ‘bayingyis’, descendentes de portugueses, foi destruída por soldados da Junta Militar que governa o país asiático, divulga a Fundação pontifícia AIS.
“Mais um sinal de violência contra as minorias religiosas, nomeadamente os cristãos de Mianmar”, lê-se na informação da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, enviada hoje à Agência ECCLESIA, sobre a destruição realizada no sábado, dia 14 de janeiro.
A Associação Internacional de Lusodescendentes (AILD) que acompanha a situação política e social em Mianmar, através do diretor-geral para a região Ásia Pacífico, lamentou o “silêncio” das autoridades após mais um ataque contra um símbolo religioso e cultural neste país asiático.
“A comunidade lusodescendente católica de Mianmar, os ‘bayingyis’, foi mais uma vez vítima de um ataque da junta militar; desta feita foi uma igreja centenária totalmente incendiada”, disse Joaquim Magalhães de Castro à AIS.
O investigador da História da Expansão Portuguesa assinala também que em Portugal “continua o silêncio, apesar de todos os factos”: “Dos ataques, das destruições das colheitas e das casas”.
“Portugal continua a ignorar e, mais grave ainda, continua a não reconhecer a existência desta comunidade apesar de historicamente isso estar mais do que comprovado. É lamentável”, acrescentou Joaquim Magalhães de Castro.
Este responsável da Associação Internacional de Lusodescendentes, que tem denunciado os ataques contra as comunidades católicas em Mianmar, adianta que vão tentar levar este assunto “ao Parlamento e divulgar” para que se trave “esta barbárie”.
Os ‘bayingyis’ são descendentes de combatentes portugueses que estiveram ao serviço dos monarcas birmaneses, entre os séculos XVI e XVII.
A histórica igreja de Nossa Senhora da Assunção, no vilarejo de Chan-tha-ywa, foi atacada por soldados que a “incendiaram sem razão aparente, porque não houve nenhuma luta ou confronto, nem nenhuma provocação”, bem como a casa do pároco e um convento de religiosas, também centenário, “que desmoronou depois de ser envolto em chamas”, informou a Agência ‘AsiaNews’, do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras da Igreja Católica.
“Era motivo de orgulho para os católicos do Alto Mianmar não apenas por causa de sua tradição secular, mas pelo batismo do primeiro bispo [do país] e por ter sido sede da ordenação de três arcebispos e mais de 30 sacerdotes e religiosas. O local de culto era de facto um património histórico e cultural para todo o país, incluindo os budistas, a prova disso é o clima de cooperação fraterna que foi estabelecido entre as diferentes comunidades”, contextualiza a agência asiática sobre a igreja de 1894, século XIX, lê-se na Fundação AIS.
O portal ‘Vatican News’ divulga informações da ‘AsiaNews’, segundo a qual soldados já atacaram esta área quatro vezes desde o golpe militar que derrubou o governo democrático liderado por Aung San Suu Kyi, que está na prisão, e devolveu o poder ao exército, a 1 de fevereiro de 2021.
CB/OC