Mensagem de Natal do Bispo de Vila Real

…é altura de recordar a pobreza do presépio como um apelo à contenção cristã

Natal e Sacerdócio

1 – Aí está o Natal de 2009 como a festa do nascimento de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem no seio de Maria e, por isso, Deus e homem verdadeiro.

Numa época dominada pela cultura da mera aproximação das ideias e dos factos, parecendo receosa da verdade e correndo até o perigo de nunca chegar à realidade das coisas, os cristãos devem celebrar o Natal como verdadeiros crentes.  

De facto, o culto da indefinição e da generalidade, talvez com o intuito de não magoar ninguém e de tudo fazer caber no mesmo saco, leva a falar e a celebrar as festas cristãs do Natal e até da Páscoa de um modo ambíguo, envolvendo-os numa espécie de nevoeiro religioso literário, artístico, social, assistencial: Natal é neve, é lareira, é chaminé, é permuta de correio, é azevinho, é silêncio, é paz, é amizade, é esperança, é partilha, é optimismo, e outras frases de efeito que se podem repetir acerca de festas semelhantes. Essa linguagem meramente poética e vaga vem a causar confusão e desordem na catequese da Igreja, uma nova espécie de ecletismo, acontecendo-lhe o mesmo que aos diplomas legais cuja redacção é feita numa linguagem vaga e dá azo a comportamentos desordenados e corruptos. É necessário, pois, vencer esse nevoeiro e definir claramente o cerne das festas como fez a Igreja ao longo da história.

2 – Depois dessa clarificação do núcleo específico da festa do Natal de Jesus, têm lugar os reflexos morais e sociais da festa nos comportamentos das pessoas e das comunidades. Neste ano de 2009, ano de baixa económica acentuada, é altura de recordar a pobreza do presépio como um apelo à contenção cristã e ao olhar atento aos mais carecidos que vivem a nosso lado, uns envergonhados por situações inesperadas e outros por serem imigrantes, deslocados, presos, doentes ou idosos. A nossa presença afectiva e efectiva é essencial. Quem melhor saberá descobrir, no tecido concreto da população os casos mais dolorosos são os próprios residentes na aldeia, na vila ou na cidade. Por isso, o Natal é sempre festa da boa vizinhança.  

Neste Natal, que decorre em pleno Ano Sacerdotal, um outro olhar deve voltar-se para o mistério do Padre. Estamos habituados a ligar o Sacerdócio à Páscoa e, de facto, Jesus realizou os actos centrais do novo Sacerdócio desde a Ceia ao Domingo de Páscoa. Esses actos, porém, foram a revelação plena do mistério iniciado na Encarnação. Na carta aos Hebreus podemos ler: «Sacrifícios e oblações não os quiseste, mas deste-me um corpo. Por isso aqui estou: eu venho, ó Pai, para fazer a vossa vontade» (Hebr10,5-7). A obediência e a fidelidade à vontade do Pai realizou-as Jesus desde a Encarnação, «ao entrar no mundo» (Hebr1,6). Começou aí a oferta da sua vida sacerdotal. O padre é esse homem que vive imerso no tecido real das comunidades discreto como um pastor do presépio, e, todavia, pedra essencial. Ainda hoje, não há acesso pleno ao mistério de Jesus Cristo sem o ministério sacerdotal: é ele que orienta o contacto vivo dos fiéis com o mistério da Palavra, mais que simples acto de cultura religiosa, e com os sacramentos da Eucaristia e do Perdão.

Sejam, pois, estas as duas asas da festa do Natal de Jesus neste ano de 2009. A todos os residentes e a quantos nos visitam os votos de um Santo Natal de Jesus Cristo e de Bom Ano Novo. 

D. Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real

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