Mensagem de Natal do bispo de Lamego

Imagem Diocese de Lamego

 

Neste Natal aposta na paz
Limpa o teu olhar de traves e de medos
De torpedos
Deita fora as velhas espingardas
Despede os guardas
Sê simples e frontal
Feliz Natal!

 

  1. Correm pelas colinas as mansas ovelhinhas como novelos de lã, de cá para lá, de lá para cá, sem nenhum afã que perturbe o seu olhar meigo e puro. Nada sabem as ovelhinhas mansas do passado e do futuro. A água que bebem é de um furo aberto no céu, que faz também germinar do chão a erva verde e a mansidão. Mas também o lobo e o cordeiro, o leopardo e o cabrito, a vaca e o urso, o boi e o leão habitam e partilham a paz desta mansão, e é um menino o pastor desta visão.

  1. Os homens, sim, são os homens que cruzam espadas, espingardas, mísseis, drones, desencadeiam ciclones, fecham os céus, brincam ao número de baixas e de balas, e deixam o chão cravado de valas e putrefação.

  1. Escuridão anterior à criação. Sem rosto de irmã ou de irmão. Só Deus pode dissipar este apagão e fazer refulgir uma luz, um clarão, como nas terras pisadas pelas guerras de Zabulão e Neftali, Estrada do mar, Galileia dos gentios. Também ali a luz rompeu tempos sombrios, e se instalou o júbilo e a alegria, e talvez também a feira e o mercado, porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado, e é sobre os seus ombros que repousa a soberania e a alegria.

  1. Isto disse o profeta Isaías, que viu a escuridão da guerra assolar a Galileia. Mas, por uma brecha, ou por uma brecha e meia, entreviu a luz que incendiou a guerra e encheu de alegria a terra inteira. Foi por uma brecha, ou por uma brecha e meia, que entreviu a luz e anteviu Jesus, o menino para nós nascido em Belém da Judeia, um menino com divina soberania, filho de Deus e de Maria, que começou na Galileia a acender a mecha da alegria.

  1. Mas nem por isso os homens deixaram de construir castelos na areia, e de disparar disparates de todas as ameias. Valham-nos as ovelhinhas mansas, as doces abelhas que constroem casulos e colmeias, os passarinhos que admiravelmente constroem os seus ninhos, as operosas formiguinhas que constroem os seus celeiros, muito melhor do que os melhores arquitetos e engenheiros. Valha-nos Deus que preparou o seu berço numa manjedoura, e nos ensinou a fazer das nossas espadas relhas de arado e outros instrumentos de lavoura.

  1. Começámos a ensaiar. E anda já pelo ar um aroma a céu acabado de lavrar.

D. António Couto
Bispo de Lamego

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