Menos padres, mais vocações?

A Igreja Católica celebra, de 26 de Abril a 3 de Maio, a 46ª semana de oração pelas vocações, num contexto de quebra estatística no número de ordenações sacerdotais, no nosso país, que é confirmado pelo recém-publicado “guia” da Igreja Católica em Portugal confirma, na sua edição de 2009. D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministério, refere na sua mensagem para este ano que, durante décadas, a Igreja “se habituou a ver a procura numerosa de candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada. Somos, muitos de nós, do tempo de Seminários cheios e de Institutos Religiosos a crescer em número e em estruturas de serviços novos, dia-a-dia”. “Temos agora dificuldade em conviver com novas situações e diferentes realidades. E o mais grave é que perante uma envolvente cultura de crise fixámo-nos dolorosamente nas análises estatísticas e alguns sentiram-se submergidos pela tirania do medo de falar de vocação”, alerta. Por seu lado, Bento XVI, no texto que dirige a todos os fiéis, considera que há zonas do mundo com uma “preocupante carência” e pede às comunidades católicas que rezem por “todos quantos sentem o chamamento de Deus para caminhar pela senda do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada”. A Agência ECCLESIA procurou, com a ajuda do Pe. Georgino Rocha, entender o perfil de líder, na Igreja. Este responsável diz que “o líder coordenador deve ser realista, conhecer a situação da equipa e da comunidade, cultivar atitudes de serenidade e confiança, evitar o pessimismo e a ansiedade, prosseguir os objectivos traçados, dedicando especial atenção às pessoas”. Outra análise chega da boca de António Pinto Leite, vice-presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores, que na abertura do IV Congresso Nacional da Associação frisava que “os nossos padres gastam muito tempo em tarefas administrativas e de intendência. É preciso libertá-los dessas tarefas, libertá-los para a sua vocação”. “Se conseguirmos libertar mais 25% do tempo dos nossos padres para a vida pastoral e para o bem comum, havendo cerca de 4000 padres, é como se se gerassem mais 1000 padres”, disse. A melhor gestão de recursos e a predisposição para partilhar tarefas pode gerar, efectivamente, um conjunto significativo de “novas vocações”. O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. António Marto, referia nas últimas Jornadas Pastorais do Episcopado que “o melhor investimento da Igreja, hoje, é em recursos humanos: a Igreja precisa de gente intelectual e espiritualmente muito bem preparada para a sua missão no mundo novo de hoje com desafios inéditos”. Para este responsável, acabou o tempo da paróquia e do pároco auto-suficientes, que respondiam sozinhos a todas as situações e a todos os problemas. “Isto exige uma reorganização e reconfiguração das comunidades cristãs através duma pastoral integrada e integral”, defendeu. Esta pastoral integral procura integrar os vários sujeitos (pessoas, grupos, movimentos) e os vários ministérios dentro dum projecto pastoral comum, valorizando recursos e sensibilidades. Números De 2000 a 2006, o número de sacerdotes diocesanos baixou de 3159 para 2894 (menos 8,4%), enquanto que o clero religioso manteve praticamente o mesmo número. A situação de 2006 mostrava ainda que por cada dois padres que morrem (nesse ano foram 80), apenas um é ordenado (37 novos sacerdotes). Os seminaristas de filosofia e teologia também são menos, segundo os últimos dados disponíveis: de 547, entre diocesanos e religiosos, em 2000 passou-se para 475 em 2006. Apesar desta quebra no número de padres, a maioria das 4366 paróquias estão confiadas à administração sacerdotal e apenas 20 paróquias são administradas pastoralmente por diáconos, religiosas e leigos. Importa perceber se, à falta de padres para todas as paróquias, se deve responder um aumento das “outras vocações”, com redefinições do papel a desempenhar, por exemplo, pelas mulheres ou pelos homens casados na liderança das comunidades católicas. Uma figura recuperada pelo II Concílio do Vaticano, a do diácono permanente, ainda está por definir de forma conveniente, em muitos casos, junto das próprias comunidades a cujo serviço se destina. Antigos Seminaristas No âmbito do programa do I Congresso de Antigos Alunos dos Seminários de Portugal, que decorreu em Fátima, foram apresentados os resultados de um inquérito levado a cabo pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica. Sobre o papel dos seminários na vida da sociedade actual, 78% dos padres e 44% dos leigos sublinham a importância do trabalho que desenvolvem estas instituições para o discernimento vocacional dos seminaristas, e, em segundos níveis, é também reconhecido como factor de relevo o facto de os seminários proporcionarem a descoberta do sentido do outro e da missão da Igreja e possibilitarem o desenvolvimento crítico e a capacidade de realização. Em relação aos inquiridos que seguiram o sacerdócio, 81% realçam como aspectos positivos da sua experiência no seminário a camaradagem, a amizade e a vida em comunidade e também possibilidade de discernimento e crescimento da fé e da vocação. Como aspectos negativos 32% falam da disciplina, da austeridade e do rigor. Quanto aos leigos, e em relação aos aspectos negativos, 21% falam do isolamento, 18% da disciplina e austeridade, e de forma positiva sublinha a qualidade de estudo e do ensino. Os leigos antigos seminaristas inquiridos são professores (19%), gestores ou empresários (13%), advogados, juízes, magistrados, procuradores (total de 10% nesta profissões na área do Direito) e, entre outras profissões menos representadas, bancários (9%). Chamados a reflectir sobre aquilo que pensam da actual organização da Igreja, 47% dos leigos e 32% dos padres consideram-na “demasiado centralista” e 36% inadequada às realidades do mundo contemporâneo. Mais de 67 mil portugueses devem a sua formação básica aos Seminários. D. António Marto disse, no decorrer do Congresso, que esta foi uma oportunidade para homenagear uma instituição que “contribuiu para formar pastores para o Povo de Deus” e ofereceu à sociedade “gente com as mais diversas competências”, em diversos âmbitos. Para este responsável, o seminário não falha quando não forma padres, porque “forma homens, cidadãos, forma padres”. Que por ali passa leva consigo um importante “capital humano e espiritual”. 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