Francisco visita Bari, para encerrar encontro de bispos católicos com olhar sobre paz, migrações e diálogo entre religiões
Bari, Itália, 23 jan 2020 (Ecclesia) – O Papa visita esta manhã a cidade italiana de Bari, encerrando um encontro dedicado às migrações e aos conflitos no Mediterrâneo, alertando para os discursos populistas que alimentam o “medo” entre as populações.
“A retórica do choque de civilizações serve apenas para justificar a violência e alimentar o ódio. O falhanço ou, em todo o caso, a fragilidade da política e o sectarismo são causas de radicalismos e terrorismo”, alertou, falando no encontro promovido pela Conferência Episcopal Italiana sobre o tema “Mediterrâneo, fronteira de paz”.
Na cidade do sul da Itália, Francisco lamento o aumento do sentimento de “indiferença e até de rejeição” perante migrantes e refugiados, vítimas da pobreza e de guerras, apontando o dedo a quem promove um discurso que “leva a erguer as próprias defesas perante aquilo que, instrumentalmente, é descrito como uma invasão”.
“Não aceitaremos jamais que pessoas que procuram por mar a esperança morram sem receber socorro, nem que alguém que chega de longe acabe vítima de exploração sexual, seja mal pago ou contratado pelas máfias”, apontou.
A intervenção recordou os focos de instabilidade e guerra, quer no Médio Oriente quer em vários Estados do norte da África, além da questão Israel-Palestina, “correndo o perigo de soluções não equitativas e, consequentemente, pressagiadoras de novas crises”.
O Papa alertou ainda para as violações ao direito da liberdade religiosa, nesta região mediterrânica e no Médio Oriente, rejeitando “extremismos e fundamentalismos”.
“A perseguição de que são vítimas sobretudo, mas não só, as comunidades cristãs é uma ferida que dilacera o nosso coração e não nos pode deixar indiferentes”, indicou.
Francisco denunciou o “grave pecado de hipocrisia” dos países que falam em paz, nos palcos internacionais, mas depois vendem armas às nações em guerra, arrancando aplausos dos presentes.
A guerra é verdadeiramente uma loucura, pois é louco destruir casas, pontes, fábricas, hospitais, matar pessoas e destruir recursos, em vez de construir relações humanas e económicas”.
O Papa foi recebido pela população na Praça Cristóvão Colombo, seguindo para a Cripta da Basílica de São Nicolau, onde falou aos bispos do Mediterrâneo, denunciando a “cultura do descarte”, que trata algumas pessoas como “coisas”.
“Para que serve uma sociedade que alcança cada vez mais novos resultados tecnológicos, enquanto se torna cada vez menos solidária para com os necessitados?”, questionou.
A intervenção recordou que nas costas mediterrânicas coexistem “sociedades da abundância e outras onde muitos lutam pela sobrevivência”.
Num Mediterrâneo, “dilacerado por divisões e desigualdades, que agravam a sua instabilidade”, Francisco convidou todos a superar preconceitos e estereótipos, para promover uma “integração digna” das populações, evitando a construção de novos “muros”.
“Assusto-me quando ouço alguns discursos, de líderes das novas formas de populismo. Parece-me ouvir discursos que semeavam medo e depois ódio nos anos 30 do século passado”, referiu, numa passagem improvisada da sua intervenção.
O Papa considerou que a herança de fé e de património religioso na região deve ser preservados, ajudando a uma “viragem antropológica radical”.
“É necessário elaborar uma teologia do acolhimento e do diálogo, que reinterprete e reproponha a doutrina bíblica”, acrescentou.
A intervenção deixou apelos a um “encontro mais vivo entre os diferentes credos religiosos”, que passa pela promoção da paz, apoio aos pobres e acolhimento dos migrantes.
Em conclusão, o Papa convidou a olhar de novo para o Mediterrâneo, “que se tornou um cemitério, como lugar de futura ressurreição de toda a área”.
O debate entre os 58 bispos e patriarcas presentes em Bari teve início na última quarta-feira, com várias intervenções sobre os temas da paz, migrações e diálogo entre religiões.
OC