Marrocos: Papa rejeita discursos de «supremacia étnica, religiosa e económica», em encontro com responsáveis católicos

Francisco saudou padre Jean-Pierre Schumacher, sobrevivente da comunidade de Tibhirine, massacrada na Argélia em 1996

Foto: Lusa

Rabat, 31 mar 2019 (Ecclesia) – O Papa encontrou-se hoje com os sacerdotes e religiosas que acompanham os católicos em Marrocos, país com 99% de muçulmanos, e disse que a sua ação não se mede por números, mas pela capacidade de diálogo, rejeitando qualquer manipulação das diferenças.

“Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e económica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz. Esta é a experiência vivida pela maior parte de vós”, declarou, na Catedral de Rabat, no segundo dia da sua viagem ao país do norte de África.

Perante membros do clero e dos institutos religiosos presentes nas duas dioceses marroquinas, o Papa cumprimentou e beijou a mão, em sinal de respeito, ao religioso mais idoso presente em Marrocos, o padre Jean-Pierre Schumacher, de 95 anos, um dos sobreviventes da comunidade de Tibhirine, na Argélia, onde sete monges trapistas sequestrados e mortos, em 1996; os religiosos foram beatificados em dezembro de 2018, por decisão de Francisco.

Na sua intervenção, o pontífice evocou os “irmãos e irmãs cristãos que escolheram permanecer solidários com um povo até ao dom da própria vida”.

Assim, desmascarais e conseguis pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades”.

O Papa cumprimentou ainda a irmã Ersillia Mantovani, missionária italiana, de 97 anos de idade.

Francisco comparou a minoria católica a “um pouco de fermento que a mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa se levede”.

A Igreja, precisou, quer ser “o fermento das bem-aventuranças e do amor fraterno”, capaz de “gerar e suscitar mudança, encanto e compaixão”.

Os caminhos da missão não passam pelo proselitismo. Por favor, isto não! Não passam pelo proselitismo! Recordemos Bento XVI: «A Igreja cresce não por proselitismo, mas por atração, por testemunho». Os caminhos da missão não passam pelo proselitismo, que leva sempre a um beco sem saída, mas pelo nosso modo de estar com Jesus e com os outros”.

“O problema não está no facto de ser pouco numerosos, mas de ser insignificantes, tornar-se sal que já não tem o sabor do Evangelho, este é o problema, ou uma luz que já nada ilumina”, advertiu.

O Papa sublinhou que ser cristão “não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico”, mas “um encontro” com Jesus Cristo.

O discurso destacou, em seguida, que o diálogo é central na vida da Igreja Católica, observando que o mesmo “não obedece a uma moda e, muito menos, a uma estratégia para aumentar o número dos seus membros”.

Francisco citou a figura de São Francisco de Assis que há 800 anos, “em plena cruzada”, foi ao encontro do sultão egícpio al-Malik al-Kamil, ou o Beato Carlos de Foucault, missionário do povo tuaregue, e o seu sonho de ser “irmão universal”.

O diálogo, acrescentou, torna-se “oração” que “não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo”.

“Que a vossa caridade se faça sempre ativa, tornando-se assim uma via de comunhão entre os cristãos de todas as confissões presentes em Marrocos: o ecumenismo da caridade. Possa também ser uma via de diálogo e colaboração com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos e com todas as pessoas de boa vontade”, concluiu.

Francisco cumprimentou, no final do encontro, responsáveis do Conselho Ecuménico de Igrejas Cristãs.

A primeira viagem do Papa Francisco a Marrocos, iniciada este sábado, encerra-se esta tarde, pelas 14h45, com a celebração da Missa no Estádio ‘Príncipe Moulay Abdellah’.

OC

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