Maria Imaculada – Mãe e Rainha da Igreja

Homilia do Arcebispo de Évora na Solenidade da Imaculada Conceição 1.“Conceberás e dará à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus” (Lc1,31). Estas palavras do relato de S. Lucas, respeitantes à anunciação do Anjo a Nossa Senhora, exprimem bem o sentido da íntima relação da Conceição Imaculada com a Maternidade Divina. Deus concedeu à Virgem de Nazaré o singular privilégio da Imaculada Conceição, com vista à sua sublime missão da Mãe do Filho de Deus: “Dará à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus”. O Anjo Gabriel saudou-A com a significativa expressão: “Ave, cheia de graça”, isto é, eu te saúdo, a Ti, a quem Deus Pai concedeu a plenitude dos seus favores, da sua graça, desde o momento da Conceição, desde o primeiro instante da existência. A comunhão de amor entre Deus e Maria foi total; foi desde o primeiro instante, e foi para sempre. Assim cresceu, a Santíssima Filha de Joaquim e Ana. Quando o Anjo veio anunciar-Lhe que Deus a escolhera para Mãe do Redentor, não podia encontrar palavras mais adequadas: “Ave Cheia de graça”, “Ave, Imaculada” 2.Tínhamos chegado “à plenitude dos tempos”, como escreveu S. Paulo (cf.al 4,6). O mesmo Apóstolo explica na carta aos Efésios em que consiste o grandioso plano de Deus: “N’Ele (isto é, em Jesus Cristo), nos escolheu Deus, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos adoptivos por Jesus Cristo” (Ef.1,4-5). O projecto criador de Deus tem pois como finalidade, como meta, que os homens, criados “à imagem e semelhança de Deus, se tornem “filhos adoptivos” do mesmo Deus por Jesus Cristo. Isto é, “filhos no Filho”. Este é o assombroso mistério da Encarnação. Toda a humanidade, toda a família humana terá como primogénito o próprio Filho de Deus feito homem. Maria, a jovem de Nazaré, foi escolhida precisamente para esta sublime missão; por isso, Deus A privilegiou com a graça da Conceição Imaculada. Na sua existência, na sua vida, Ela foi vencedora absoluta do mal, do pecado e do demónio. A sua vinculação ao Redentor, seu Filho, foi total. Já no início da humanidade, Deus anunciara esta associação de Maria com o seu Filho, naquela vitória sobre a “serpente” do mal (cf Gn.3,15). Maria junto à cruz é o grande sinal daquela associação vitoriosa. Ela continuará unida a seu Filho, como Mãe de todos os homens, como Mãe da Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo. “Eis o teu filho…eis a tua Mãe”. A vitória da cruz projectou-se e reflectiu-se de modo esplendoroso na manhã da Ressurreição. Cristo surgiu então na sua glória, como Senhor da História e Rei do Universo. Ao lado do Filho glorificado está a Mãe Imaculada, a Mãe da Igreja e Mãe dos homens, a Rainha do Universo. Assim se cumpria o projecto criador e salvador de Deus. Assim continua a cumprir-se hoje; e cumprir-se-á no fim dos tempos. A festa da Imaculada representa a glorificação de Maria e a certeza de que em nós se concretizará também o plano de Deus: “sermos filhos adoptivos por Jesus Cristo”. 3.A nossa querida Arquidiocese de Évora inicia hoje as comemorações do VII centenário da sua catedral. Um acontecimento transcendente que tem a alegria e a honra de inaugurar no quadro solene da Festa litúrgica da Imaculada Conceição. A sé de Évora constitui um dos mais grandiosos monumentos do nosso País. É um hino à beleza, à arte e à cultura, nas suas linhas romano-góticas, no seu apostolado, no seu claustro, na sua capela – mor joanina. No silêncio das suas pedras, o majestoso espaço sagrado fala de uma Igreja que é chamada a ser fomento de civilização, de fraternidade e de paz. Importa sublinhar este aspecto: a Catedral como igreja-mãe da Diocese, é sinal visível da própria Diocese, comunidade dos discípulos de Jesus Cristo que vivem e peregrinam nestas terras do Alentejo e do Ribatejo. Ela diz-nos que há outra catedral, outras igrejas de pedras vivas, que somos nós, os baptizados, os cristãos – católicos. Esta catedral viva é mais antiga do que o edifício de pedra e que tem como pedra angular o próprio Redentor, Jesus Cristo. Por isso, as comemorações centenárias são um convite a tomarmos uma consciência mais profunda da nossa condição de membros de uma Igreja que é sinal de salvação para as pessoas e para as sociedades e povos. À semelhança de Maria, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, demos testemunho de Cristo salvador. 4.Empenhemo-nos, com determinação e coragem, em viver e implantar na sociedade os valores do Evangelho, lutando, ao mesmo tempo, contra os ataques duma mentalidade laicista e paganizada, e de forças obscuras que pretendem reduzir o facto religioso e cristão ao domínio da consciência e ao sector privado. Esta é a forma adequada de traduzirmos na vida a verdade do mistério da Imaculada Conceição que hoje solenemente celebramos. D. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora

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