Marchar até Fátima

Forças Armadas e de Segurança caminham até ao Santuário mariano entre a chuva e as recordações das missões ao lado dos capelães A chuva não impede que a Peregrinação militar ao Santuário de Fátima prossiga. “Estamos a ser abençoados”, afirma Jerónimo Pina, da PSP, que não vê a chuva como factor de desmobilização. A chuva não é constante, nem incomoda as conversas que pautam os três dias de caminho da VIII peregrinação que este ano juntou cerca de 200 pessoas. “Ficam sempre pessoas de fora, não podemos trazer todas”, explica à Agência ECCLESIA o Pe. Luís Morouço, responsável pela pastoral juvenil do Ordinariato Castrense. A tradicional peregrinação militar ao Santuário de Fátima junta os diferentes ramos das Forças Armadas. Uma caminhada onde “se esquecem as hierarquias. Aqui, todos somos iguais”, acrescenta o sacerdote. A organização militar é uma mais-valia na logística e no decorrer da actividade que tem de “alimentar, deitar e tratar de um grupo de 200 pessoas”, mas no convívio esquecem-se as patentes e chefias. Os postos nos diferentes ramos das Forças Armadas não são impedimento para as conversas e para as relações que se estabelecem. “É-nos natural funcionar em hierarquia, mas aqui caminhamos à civil”, acrescenta o Pe. Luís Morouço. Com pés e meias enxutas essenciais para o caminho, percorrem-se os quilómetros com muito entusiasmo. As pessoas assumem-se como família e são muitos os que repetem a peregrinação. “Antes ligaram-me para saber se eu ia participar”, explica Fernando Cardoso, da Marinha, a participar pela sexta vez. A primeira incursão nesta actividade “não gorou as expectativas, e, quando assim é, continua-se”, explica à Agência ECCLESIA. A deslocação ao santuário, a união e camaradagem entre os diferentes ramos são razões cimeiras para a sua participação. Tudo isto envolto na fé pautada nas orações e na partilha de vida. Histórias de vida desenrolam-se no caminho. Ao pé do Pe. Luís Morouço chega muita curiosidade. “Perguntam-me sobre a vida de um padre, outros contam-se a sua própria vida, e principalmente falam-me da transformação que sentem devido à participação nas diversas actividades da diocese”. Trocam-se momentos marcantes das várias experiências profissionais e ao mesmo tempo, adianta o sacerdote, “há um ir ao encontro da história pessoal”. Esta VIII Peregrinação militar tem como tema «Muitas nações, um só povo de Deus». Inseridos no Ano Paulino, a organização seleccionou alguns textos de São Paulo para conduzir os momentos de oração, de manhã e à noite. O sacerdote afirma que “sem obrigar ninguém, temos 100% de participação nos momentos de oração”, onde a partilha toma conta das pessoas. Quatro sacerdotes acompanham o grupo a tempo inteiro. “Mas outros têm-se juntado a nós pontualmente”, em alguns momentos da caminhada, mas em especial nos locais de abrigo onde o grupo descansa e reza. Os momentos de oração nocturnos são também tema recorrente durante o dia. “Alguns vêm ter comigo para realçar o quanto estão a ganhar novas perspectivas sobre o Evangelho e sobre a sua própria participação na diocese”. Fernando Cardoso explica o quanto desconhecia a figura de São Paulo, as suas pregações e actuação de apóstolo. “Estou a ganhar novas perspectivas e a enriquecer-me espiritual e culturalmente”. Mais quilómetros se percorrem entre cantorias, orações e experiências de vida, onde também o trabalho dos capelães militares entra no fogo cruzado das conversas. A instabilidade vivida entre as capelanias hospitalares e o Estado é assunto que “está de fora da caminhada”, afirma o responsável pela Pastoral Juvenil do Ordinariato Castrense. Relembram-se sim amizades com capelães, histórias, descobertas e “valoriza-se o trabalho do capelão militar”. “A presença do sacerdote nunca foi problemática nas Forças Armadas. Os militares vêem os sacerdotes como iguais, pois passamos muitas horas juntos e não estamos a celebrar sacramentos. A tropa está habituada a ver os seus sacerdotes em combate, no meio deles”. O Pe. Luís Morouço explica que este relacionamento resulta “num grande acolhimento às iniciativas do ordinariato castrense”. Jerónimo Pina afirma que os capelães são “padres e psicólogos. São peças essenciais para o equilíbrio laboral e familiar”. Este agente da PSP explica o quão importante é o trabalho de um capelão que no teatro de operações, “se desloca sempre connosco”. Os 200 participantes chegam esta Sexta-feira a Fátima. Fernando Cardoso está feliz por “estarmos a conseguir alcançar o que propusemos fazer”. Conta chegar a Fátima “mais forte espiritualmente”. Para Jerónimo Pina, chegar a Fátima será uma alegria. “É um local onde todos sentem paz, onde se abstraem dos problemas e encontram um lugar para rezar e meditar”.

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