Madre Teresa: Biografia oficial evoca «dolorosa escuridão interior» de quem foi «luz» de misericórdia

Responsável pela causa de canonização fala em santa «para todos», pobres e ricos

Cidade do Vaticano, 03 set 2016 (Ecclesia) – A biografia de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) distribuída pelo Vaticano para a cerimónia de canonização deste domingo evoca a “dolorosa escuridão interior” da religiosa.

“Apesar de experimentar uma dolorosa escuridão interior, a Madre Teresa foi a todo o lado, com solicitude, como Maria no episódio da Visitação, para irradiar o amor de Jesus em todo o mundo”, refere o texto, escrito para a Missa deste domingo, em que a religiosa vai ser proclamada santa pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, a partir das 10h30 (menos uma em Lisboa).

A apresentação biográfica fala da nova santa como “imagem do amor terno e misericordioso” de Deus, especialmente para com “os não amados, os não queridos e os abandonados”.

“Desde o céu, continua a acender a luz para os que vivem na escuridão aqui na terra”, acrescenta o texto do Departamento de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.

Santa Teresa de Calcutá, Gonxha Agnes Bojaxhiu, nasceu em Skopje (atual capital da Macedónia) a 26 de agosto de 1910, filha de pais albaneses; em 1928 entrou para a Congregação das Irmãs do Loreto, na Irlanda, e seguiu para a Índia no ano seguinte.

“Durante os 20 anos que passou na Índia dedicando-se ao ensino, distinguiu-se pela caridade, o zelo, a entrega e a alegria”, refere o Vaticano.

A biografia recorda que a fundação das Missionárias da Caridade, em Calcutá, começou a tomar forma a 10 de setembro de 1946, em resposta a um chamamento para “renunciar a tudo” e servir Jesus “nos mais pobres dos pobres”.

Seguiram-se outros três ramos da congregação: os irmãos Missionários da Caridade, as irmãs contemplativas e os irmãos contemplativos, para além de associações de colaboradores e um movimento para sacerdotes.

Na data da sua morte, a 5 de setembro de 1997, a congregação contava com 3842 religiosas, presentes em 594 casas de 120 países, incluindo Portugal.

O padre Brian Kolodiejchuk, superior geral dos Missionários da Caridade, foi o responsável pela condução do processo de canonização (postulador) e fala numa “santa para todos”.

“Para os pobres, para os ricos e para o nosso tempo, tão fortemente devastado pela violência e aridez do coração”, declarou, na conferência de imprensa de lançamento da canonização, no Vaticano.

A experiência de "deserto espiritual" ou de "silêncio de Deus" descrita nas cartas de Madre Teresa de Calcutá, foi apresentada mundialmente no livro ‘Mother Teresa: Come be my light’.

O padre Brian Kolodiejchuk, postulador da sua causa de canonização, explicou este ano, numa conferência em Portugal (26 de abril), a importância da ‘noite escura’ de Madre Teresa, à luz da dupla dimensão com que se vive o amor dos religiosos: em primeiro lugar, a ‘esponsal’, o seu amor a Cristo, que a leva a unir-se aos seus sofrimentos; e, em segundo lugar, o amor ‘redentor’, que leva a compartilhar a redenção, a anunciar aos outros o amor de Deus.

“Madre Teresa era uma mulher apaixonada por Jesus e a provação, o sofrimento, é que não sentia que era amada por Jesus, como se estivesse a ser rejeitada”, disse então, no Centro Paroquial do Estoril.

Quando Madre Teresa saiu da Índia, sublinhou, apercebeu-se de que a maior pobreza no mundo de hoje “não é a material, mas a sensação de não ser amado, de não ser querido, de não ser cuidado

“Por isso, percebemos que ela própria estava a experimentar o mesmo, também. Ela estava não só identificada com os pobres, materialmente, ao viver de forma pobre mas também identificada com os pobres, espiritualmente, ao experimentar a pobreza espiritual, no seu interior”, explicou.

A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é digno de culto público universal (os beatos têm culto local) e de ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.

Madre Teresa de Calcutá, vencedora do prémio Nobel da Paz (17 de outubro de 1979), faleceu em 1997 e foi beatificada por João Paulo II em 2003.

OC

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