Madeira: Alberto João Jardim sublinha papel da Igreja Católica na consolidação da democracia

Líder do Governo Regional elogia bispos que acompanhou em mais de três décadas de presidência

Lisboa, 12 set 2014 (Ecclesia) – O presidente do Governo Regional da Madeira considera que a Igreja Católica tem “papel fundamental” no regime democrático com participação nos domínios em que está “particularmente vocacionada” para atuar, como tem acontecido no arquipélago nas últimas décadas.

“Costumo dizer que tive muita sorte, trabalhei com três grandes bispos: D. Francisco Santana (1924-1982), D. Teodoro de Faria e D. António Carrilho. Foram bispos certos na altura certa”, declara Alberto João Jardim, em entrevista publicada na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, dedicada à Igreja Católica na Madeira.

O responsável recorda D. Francisco Santana como “um grande combatente político”. “A opção pela democracia que a Madeira fez logo desde o 25 de Abril deve-se a ele, sem dúvida, e eu não me envergonho de dizer que, de certo modo, sou um produto de D. Francisco Santana”, prossegue.

Em relação a D. Teodoro de Faria, bispo do Funchal entre 1982 e 2007, o presidente do Governo Regional valoriza o trabalho de “arrumar a casa” num período pós-revolucionário.

“O bispo já não precisa de interferir, politicamente, mas é um bispo muito atento, valorizando aquilo que representa a presença histórica e efetiva da diocese no território madeirense”, recorda.

Quanto a D. António Carrilho, Alberto João Jardim realça que o atual bispo diocesano chega num momento em que a democracia está mais consolidada e “pode agora, nesta terceira fase, separar mais a Igreja do Estado”.

“Seguimos caminhos paralelos, com valores semelhantes. O governo da Madeira assenta no personalismo cristão”, observa.

O responsável sustenta que a Igreja e o Estado têm uma relação “complementar” e destaca dois planos da ação católica que vão para lá da esfera religiosa.

“Nos tempos de relativismo, que alguns chamam pós-modernismo, de forma caricata, a Igreja tem um papel de formação, de fazer um esforço enorme de transmitir valores às pessoas”, começa por dizer.

“O Estado, por si só, não tem capacidade para atuar em todos os campos, no sentido do bem comum, particularmente na saúde, na cultura, na conservação do património”, acrescenta.

Segundo Alberto João Jardim, o apoio do Governo à Igreja Católica em vários campos não deve ser visto como “um favor”, mas como o cumprimento do dever democrático de responder aos “direitos” da população, como aconteceu no caso da construção de igrejas.

A esse respeito, deixa o exemplo da educação, revelando que “nos estabelecimentos que estão à responsabilidade da Igreja Católica, o custo de gestão é um terço, por pessoa abrangida, em relação aos estabelecimentos oficiais públicos”.

Nos 500 anos da criação da Diocese do Funchal, o presidente do Governo Regional diz que esta se “confunde com a história da Madeira e de Portugal, porque é a entidade religiosa que dirige a expansão, sob este ponto de vista”.

Quanto ao futuro, Alberto João Jardim defende que a Igreja tem de ser mais “atrativa” e ir ao encontro das pessoas, também através das novas tecnologias, renovando a sua Liturgia e falando “sem medo” em relação às “grandes questões sociais”.

“Sinto às vezes que a Igreja tem receio de que a confundam com qualquer proximidade a uma corrente política. Mas há princípios que a Igreja defende e que os cristãos que estão na política seguem”, conclui.

A entrevista resulta de uma colaboração entre o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e a ECCLESIA.

CLEPUL/OC

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