LUSOFONIAS – Quase a aterrar em Moçambique

Tony Neves

Aterrar em Moçambique é sempre uma alegria. As malas estão feitas e o visto está no passaporte. Os Espiritanos estão a celebrar os 25 anos de chegada a este país da África oriental, banhado pelas quentes águas do Índico. Um pouco de história ajuda a refrescar a memória e a compreender uma missão que celebra bodas de prata e já está presente em cinco dioceses.

Tudo começou em 1996 com a chegada de duas equipas missionárias ao país. Uma instalou-se na Missão de Netia, em Nacala; a outra rumou à Missão de Inhazónia, no Chimoio. Duas equipas de três, com Espiritanos de Angola, Portugal e Nigéria. A guerra em Moçambique já tinha terminado, mas os sinais de violência e pobreza estavam (e estão) ainda muito evidentes. Os Espiritanos deitaram as mãos ao arado  e toca a trabalhar pela evangelização integral deste povo dos interiores abandonados. O P. Yves Mathieu, francês, lembra que Inhazónia não tinha padre residente há mais de 25 anos, quando os Espiritanos chegaram. Hoje a Missão tem 200 kms de norte a sul e de este a oeste. Além do apoio às crianças e jovens, investe-se na pastoral da saúde e carcerária, bem como em projectos de desenvolvimento e auto-sustentabilidade.

No outro canto do país, já perto do oceano, os Espiritanos chegaram a Netia, antiga missão comboniana. Ainda encontraram e partilharam missão com as Irmãs Combonianas. Investiram muito na evangelização, visitando as dezenas de comunidades espalhadas por uma ampla geografia onde os campos de mandioca, de milho, de feijão e de algodão ocupam as populações, também alimentadas pelas mangueiras e cajueiros. Um dos projetos melhor sucedidos por esta equipa espiritana recém-chegada foi a das Escolinhas Comunitárias que construíram e animaram. Mas, ao fim de alguns anos, avaliaram a sua presença com o Bispo de Nacala e decidiram abrir uma nova frente missionária, em 2004, dividindo a Missão e tomando conta da parte de Itoculo, ao todo, 79 comunidades. Ali construíram uma nova Missão, tendo as Irmãs Espiritanas fundado a sua primeira presença em terras moçambicanas. O Centro Pastoral permite fazer a formação das lideranças laicais. Construíram-se dois Lares, um para meninas e outro para rapazes, vindos das aldeias para estudar na ‘vila’. Diz o P. Raul Viana, Superior da Missão: ‘acreditamos que a formação séria e responsável dos jovens actuais é um excelente ponto de partida para o desenvolvimento integral deste povo’. A Missão, ao longo dos anos, contou com  o compromisso de Padres e Irmãs Espiritanas, Padres Diocesanos, Estagiários Espiritanos e Leigos Voluntários, mostrando o rosto de uma Igreja muito plural, no que a carismas e ministérios diz respeito.

Com o andar dos tempos, outras dioceses chamavam pelos Espiritanos. Assim se abriu a Comunidade da Beira, numa das suas periferias. Lá foi construída uma Casa que é Comunidade de Formação para jovens moçambicanos que se sentem chamados à vida missionária. A Arquidiocese confiaria aos Espiritanos a nova paróquia da Natividade, nascida nas áreas sempre alagadas dos antigos arrozais. Os tufões são frequentes na região e o tristemente célebre Idai, em março de 2019, matou e desalojou muita gente, levou o tecto da Igreja, parte do muro e edifício da Casa de Formação, bem como muitas casas da população pobre que habita este bairro periférico.

Nampula foi a frente missionária que se seguiu. Os Espiritanos são os responsáveis da Paróquia de S. João de Deus, enorme e cheia de desafios, como todas as periferias de grandes cidades. O P. Alberto Tchindemba, Superior dos Espiritanos em Moçambique, tem apostado muito na pastoral educativa, com grandes investimentos nas Escolas da Paróquia, a rebentar pelas costuras, dada a quantidade de alunos que acolhem.

O último grande desafio pastoral, talvez o mais exigente, resultou de um ‘sim’ ao pedido feito pela Conferência dos Bispos de Moçambique. Assim, desde 2 de fevereiro, os Espiritanos asseguram a direcção do Seminário Inter Diocesano de Filosofia, a funcionar na Matola, periferia de Maputo. Trata-se de um ‘sim’ arriscado que só foi dado porque os Espiritanos têm uma grande tradição histórica de ajudar a formar o clero diocesano e também de servir as Igrejas Locais nas missões que forem consideradas prioritárias…Formar os futuros padres é sempre a prioridade das prioridades de qualquer Diocese ou Instituto.

Neste quadro missionário tão desafiante, os Espiritanos preparam-se, em Capítulo, para programar o futuro da Missão neste país lusófono. E, claro, celebraremos com alegria os 25 anos de dedicação a esta Igreja e a este povo.

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