LUSOFONIAS – Os gritos que saem da Amazónia

Tony Neves

Vem aí o Sínodo para a Amazónia. Brasil, Bolívia, Peru, Venezuela, Equador, Colômbia, Paraguai, Guianas e Suriname são os países que fazem parte deste ‘pulmão do mundo’ que, desde há muito, se tornou também ‘insónia’, como canta Roberto Carlos.

Um caminho foi já percorrido nestes tempos que foram e são de preparação para um evento que se pretende profético.

O Instrumento de Trabalho foi publicado a 17 de junho e traz algumas novidades. A principal prende-se com a proposta de que a Igreja aceite a ordenação sacerdotal de pessoas casadas, que sejam idóneas, respeitadas e reconhecidas pela comunidade. O objetivo é permitir que todas as Igrejas e todos os cristãos vivam da Eucaristia. Também se pede mais vez e voz para as mulheres que devem cumprir missões de liderança nas comunidades.

A primeira parte deste Instrumento de Trabalho descreve a situação actual dos povos amazónicos. Olhemos para a grandeza e beleza da Amazónia: ali vivem povos indígenas que cuidam da terra, da água e da floresta como mais ninguém o fez até hoje, tendo uma sabedoria ancestral a partilhar com o mundo nesta lógica de uma ecologia integral. Ali estão 40% das áreas florestais da terra. E é um enorme depósito de água.

Mas, esta terra tornou-se lugar de dor e violência. São muitos os mártires na Amazónia: só no Brasil, entre 2003 e 2017, foram assassinados 1119 indígenas na defesa dos seus territórios! Os povos são marginalizados e ameaçados pelos interesses económicos e políticos de quem quer a Amazónia só para fazer dinheiro. Muitos povos ribeirinhos fogem para as periferias das cidades onde já vivem de 70 a 80% das pessoas. A violência, o caos e a corrupção parecem ter tomado conta destas terras e destas gentes que caem nas redes das máfias, do narcotráfico e do tráfico de pessoas. Os interesses económicos ligados a empresas extractivistas e à floresta estão a destruir um eco-sistema com consequências desastrosas para o planeta onde vivemos, a nossa casa comum. As alterações climáticas estão aí para dar razão aos povos indígenas.

A Igreja católica desde há séculos que partilha a sorte e a má sorte destes povos e quer continuar a amplificar os seus gritos. Tenta defender os seus direitos e as suas culturais ancestrais. Os missionários deram e dão a vida nestas terras. Mas a Igreja precisa de um rosto mais amazónico e, por isso, torna-se urgente promover vocações locais de homens e mulheres que respondam aos desafios da pastoral destes povos.

E há um pedido feito às Congregações Religiosas e Missionárias: é preciso promover uma vida consagrada mais profética com Consagradas e Consagrados, de diferentes Congregações, que aceitem formar comunidades lá onde mais ninguém quer ir e estar com o povo mais abandonado.

A procissão ainda vai no adro…diríamos. Mas o caminho já feito chama a atenção para as grandezas e problemas que se vivem entre florestas e rios, apontando linhas de futuro que serão úteis para a Igreja na Amazónia, mas que podem também abrir portas ao futuro noutras terras e com outros povos.

 

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Agência ECCLESIA

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