LUSOFONIAS – Opção pelos últimos

Tony Neves

Hoje há um dia mundial para tudo e para todos. Mas o Dia Mundial dos Pobres, criado há três anos, tem novidade, é actual, é provocador, merece ser celebrado. São muitos milhões as pessoas que vivem sem um mínimo de condições de dignidade. As estatísticas valem o que valem, mas são indicadores que nos chamam a atenção para o mundo que somos e construímos.

O papa Francisco, vindo de uma América Latina a ferro e fogo, tem uma especial sensibilidade a questões como a pobreza, a justiça, a paz e a ecologia. E tem ajudado a mundo a reflectir melhor e a tentar mudar. Há três anos criou o Dia Mundial dos Pobres e a Mensagem para este ano (publicada em dia de Santo António) apoia-se no salmo 9 que diz: ‘a esperança dos pobres jamais se frustrará’.

Escreve: ‘passam os séculos, mas permanece imutável a condição de ricos e pobres, como se a experiência da história não ensinasse nada’. Cita, de seguida, muitas formas novas de pobreza que massacram e matam. Alerta para a instabilidade social que as desigualdades gritantes provocam. Pede-nos que olhemos para a triste realidade do nosso mundo onde os pobres são cada vez mais pobres. Faz um apelo aos cristãos: ‘a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora, é uma escolha prioritária que os discípulos de Cristo são chamados a abraçar para não trair a credibilidade da Igreja e dar uma esperança concreta a tantos indefesos’. Quase no fim da Mensagem, o Papa apela ao compromisso: ‘os pobres precisam das nossas mãos para se reerguer, dos nossos corações para sentir de novo o calor do afecto, da nossa presença para superar a solidão. Precisam simplesmente de amor…’.

Roma, como todas, é uma cidade de contrastes. Incomoda passar junto à praça de S. Pedro depois das 22h, pois vemos nas colunatas, ou protegidos junto à Sala de Imprensa, à Livraria Ancora ou à Livraria Benedetto XVI, uma grande quantidade de pessoas sem abrigo. Porque passava por ali muitas vezes quando era Cardeal de Buenos Aires, o Papa Francisco já mandou distribuir refeições quentes, fazer salas de banhos a par de outras estruturas de apoio social. Durante a Semana Mundial dos Pobres, mandou montar um ‘hospital de campanha’ na Praça. Passei por lá várias vezes e vi a quantidade de pessoas que ali faziam fila para uma consulta, um exame, um tratamento, uma vacina da gripe… No ano passado, o Posto de Saúde atendeu nessa semana cerca de 2.000 pacientes, e foram feitas, grátis, mais de 3.500 consultas médicas. Na sexta feira, dia 15, o Papa visitou o Posto, bem como o novo Centro de Acolhimento do Palácio Migliori, a poucos metros da Praça de São Pedro, com capacidade para receber 50 pessoas, ao cuidado da comunidade de Santo Egídio.

A Basílica de S. Pedro encheu-se de pobres a 17 de novembro. O Papa Francisco, na sua homilia foi simples, claro e directo ao dizer que os pobres são o maior tesouro da Igreja. Pediu que se combate o medo e o alarmismo com a perseverança e o compromisso. E lembrou que é urgente falar a mesma língua de Jesus, o Amor gratuito. Concluiu: ‘A única coisa pela qual vale a pena viver é o Amor’.

Por isso, a miséria tem de ser combatida por todos.

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