LUSOFONIAS – Loppiano, a Cidadela-Mãe dos Focolares

Tony Neves, em Loppiano

O Movimento dos Focolares foi fundado por uma mulher leiga italiana: Chiara Lubich. A ele aderem Leigos, Padres, Pastores e Bispos. É um movimento profundamente ecuménico, com um rico diálogo interreligioso e com pessoas sem convicções religiosas. São muitos milhares, espalhados pelos quatro cantos da terra, onde vivem para semear unidade e fraternidade. Visitar Loppiano, na Toscânia, a 25kms de Florença, é entrar no coração deste movimento eclesial, marcado pela ânsia profunda da paz, da justiça social e da unidade. Este ‘espaço sagrado’ foi fundado em 1964 por Chiara com o objectivo de dar corpo ao carisma do Movimento a que ela tinha dado origem. Se o aprofundamento da Fé é algo de vital para os Focolares, esta é esclarecida através da cultura, da ciência, do compromisso social, económico e político, bem como da música, pelo que os Conjuntos multiculturais Gen Rosso e Gen Verde estão sediados em Loppiano, partindo dali para o mundo inteiro.

É inspirador visitar Loppiano, a primeira Cidadela internacional deste Movimento (que com os anos se multiplicou noutros pontos da Terra), uma aldeia rural aberta a todos, onde encontramos grandes espaços de celebração e reuniões, mas, sobretudo, pessoas com rostos felizes. São cerca de 200 as que ali vivem em permanência e trabalham na formação, mas também em empresas ligadas à agricultura, artesanato, arte (Centro Ave Arte) e outras áreas profissionais. Sempre de acordo com os princípios da Economia de Comunhão, que é imagem de marca deste movimento que, com Luigino Bruni e outros, está na origem da dinâmica da Economia de Francisco. Também ali encontrei largas centenas de pessoas, vindas do mundo inteiro, para formação e que fazem subir o número de habitantes a cerca de um milhar. Loppiano é, neste sentido, uma enorme “universidade de comunhão”.

O impacto deste Movimento na Igreja é tão forte que diversos Papas participaram em eventos focolarinos, tendo o Papa Francisco visitado Loppiano a 10 de maio de 2018.

A ‘Peregrinação’ que fiz a Loppiano teve como guia o P. António Bacelar, da Diocese do Porto, em fim de mandato como ‘responsável central dos padres e diáconos diocesanos focolarinos’ que, em todo o mundo, pertencem ou se identificam com este Movimento eclesial.

Levado pelo P. Fernando Matos, da Diocese de Vila Real, até Groteferrata, cheguei ao coração simbólico dos Focolari, pois ali bem perto, em Rocca di Papa, viveu e está sepultada Chiara Lubich e ali se encontra a sede central do Movimento. De lá, após almoço fraterno com a comunidade presbiteral, partimos os três rumo a Loppiano.

A longa viagem, de quase 300 kms, permitiu muitas partilhas e um encontro com a história rica e plural deste Movimento eclesial. Mas, se as palavras me motivaram, o que mais me marcou foi a experiência feita nesta Cidadela construída num contexto rural onde a ‘Laudato si’’ do Papa Francisco se lê em cada curva dos caminhos sinuosos que a atravessam, unindo quem lá vive e quem por lá passa.

Ficamos instalados na Casa – centro de espiritualidade – onde vivem os padres que fazem um ano de especial formação para beberem mais e melhor desta fonte carismática focolarina. O P. Daniel, de Malta, que viveu diversos anos na Líbia, é o coordenador. Atualmente vivem ali padres vindos do Brasil, Coreia, Madagáscar, Peru, Zimbabué, China, Camarões, França e Itália.

Vivi dois momentos muito marcantes: a Eucaristia dominical, no Santuário Maria ‘Theotokos’ e o tempo de ‘Collegamento’, no grande auditório. Esta iniciativa, lançada por Chiara com um simples telefone, é hoje um grande momento de ‘ligação’ entre os membros do Movimento espalhados pelo mundo e funciona como um Telejornal trimestral.  As reportagens desse sábado à noite foram sobre missões na Argentina, na Síria e Turquia (no apoio às vítimas do terramoto), em Portugal (por causa das JMJ) e no Burundi. Incluiu uma intervenção de Chiara Lubich (arquivo) e uma reflexão da actual Presidente, Margaret Karram, israelita de origem palestiniana, nascida em Haifa.

É apaixonante visitar Loppiano, a pé, tendo sempre como guia o P. António Bacelar. O tempo magnífico ajudou e fomos passando por casas, vinhedos e olivedos. Fomos até à cooperativa agrícola (‘Fattoria Loppiano’), ao Centro de Arte, à Escola Loreto (onde famílias inteiras vivem ali dois anos) e ao Istituto Universitario Sophia, que desde há diversos anos nasceu na cidadela, com uma proposta cultural original em sintonia com o carisma do Movimento e um corpo académico e estudantil internacional. Fizemos o ‘circuito Laudato si’, no meio de uma beleza fascinante e passamos na encosta onde, nos anos 60, aconteceu o primeiro GenFest, um dos eventos que terá inspirado as Jornadas Mundiais da Juventude.

A Missão dos ‘Focolares’ é espalhar fogo! Ali, em Loppiano, faz-se a experiência desta difusão do fogo do Espírito, do fogo da comunhão, do fogo da Missão. E é bom sentir que tudo acontece na vida normal de um dia a dia pacífico nesta bela colina de Loppiano, mas que esta chama se vai espalhando pelo mundo inteiro.

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