LUSOFONIAS – Do Paraguai, um grito de Missão

Tony Neves, em San Lorenzo – Paraguai

Deixei a Roma Eterna com chuva, frio e muito trânsito, a denunciar já a aproximação comercial ao Natal. A viagem para Madrid foi curta e serena, bem como as formalidades de fronteira para entrar no grande avião que atravessou boa parte da península ibérica, cruzou o Atlântico e chegou a Assunção, a capital do Paraguai. Foi uma viagem longa, mas sem sobressaltos. O carimbar de passaportes e a recolha das bagagens, habitualmente chatos, passaram-se bem e esperava-me o abraço e a boleia do irmão Mariano Espinosa, o Mestre de Noviços de toda a América Latina.

Do aeroporto até ao bairro Reducto, nas periferias rurais de San Lorenzo, foi uma boa horinha de carro. Como o Irmão joga em casa, aproveitou todos os caminhos secundários de bairro para enganar o trânsito. Ainda bem, para nós.

Esta Casa do Noviciado é profundamente simbólica para a América Latina Espiritana. Desde há uma vintena de anos, é neste Bairro popular que os candidatos a Espiritanos fazem esta experiência de vida Religiosa que os prepara para os Votos. Este ano são oito os Noviços. Ia dizer ‘jovens’, mas arrependi-me a tempo, até porque o mais avançado na idade já conta 50 anos!

Um primeiro dia inteiro de encontro de formação deu-me à-vontade para lhes pedir três coisas: uma breve biografia, o que já perceberam ser a Missão Espiritana e o que eles gostariam de fazer no fim da Formação. Gostei muito do que ouvi e partilho, em síntese, algumas das frases que mais me marcaram.

O Bemhur Ferreira nasceu há 37 anos no Estado do Paraíba (Nordeste do Brasil). Depois de várias experiências vocacionais, acabou por ingressar no Centro de Animação Vocacional Espiritana em Contagem, Minas Gerais. O Denis Roar, 31 anos, nasceu em Assunção, capital do Paraguai e cresceu na cidade de Luque. Estudou mecânica automóvel, trabalhou em vários empregos até decidir entrar na Formação Espiritana. Conheceu os Espiritanos em 2012, tendo entrado na Formação em 2018. O Clebson Dias, de 29 anos, nasceu em Abaetetuba, no Pará, norte do Brasil. O Cláudio Jesus nasceu há 50 anos em Governador Valadares, Minas Gerais, numa paróquia confiada aos Espiritanos. Ali se empenhou pastoralmente. Estudou Direito. O Carlos Gusman é mexicano. Arquitecto de formação, nasceu há 42 anos. Sentiu-se tocado pela missão dos Espiritanos pela sua opção pelos mais pobres e abandonados. O João Lucas nasceu em Brasília há 23 anos. Entrou na Casa de Formação em 2018, vindo da Paróquia de Ceilândia, confiada aos Espiritanos. O Enzo Gabriel, natural de Assunção, tem 26 anos, cresceu em Capiatà, onde a sua familia vive. O Pedro Rafael nasceu há 28 anos em Rio Grande do Norte. Encontrou os Espiritanos no Tefé, Amazónia. Estudou Filosofia e Ciência das Religiões.

Todos sonham um futuro com Missão. O Denis sente-se chamado a trabalhar, como pede o papa Francisco, nas periferias, sejam elas geográficas, sociais ou humanas. O Bemhur quer seguir de perto as intuições e espiritualidade dos fundadores, sendo ‘como leve pena ao sopro do Espírito’. O Clebson quer viver em comunidade fraterna e está aberto ao que o Espírito Santo quiser fazer dele, mostrando uma grande disponibilidade e docilidade para partir onde for necessário e mais urgente, sendo particularmente sensível ao diálogo inter religioso. O Enzo quer ajudar a pôr em prática as decisões missionárias tomadas nos últimos Capítulos Gerais da Congregação,na sequência das intuições dos Fundadores. E é fundamental ser Bom Samaritano, ajudando quantos encontrar caídos nos caminhos por onde andar. O Cláudio gostaria de se comprometer com o diálogo inter religioso e com a realidade das migrações,  apostando na escuta fraterna, no diálogo e convivência social. O João Lucas diz estar aberto e pronto para seguir os caminhos que a Congregação lhe apontar. Quer estar disponível para a evangelização dos mais pobres, vivendo em comunidade, num só coração e numa só alma. O Pedro quer entregar a sua vida, sendo fiel às intuições dos fundadores e à história da Congregação. Gostaria de se empenhar na formação e na animação vocacional, bem como pela Justiça, paz e integridade da criação. O Carlos Gusman gostaria de trabalhar em contextos onde é urgente lutar por mais igualdade social, dando apoio espiritual a migrantes e pessoas sem abrigo.

O meu Natal será vivido no interior do país, no local onde os Espiritanos iniciaram a sua presença no Paraguai: Lima. Será um Natal cem por cento guarani. Desejo a quantos me lêem e ouvem, um Natal cheio de Paz.

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