LUSOFONIAS – De Lille e Nantes, pela Abadia de Langonnet

Tony Neves, em Nantes

Lille, na fronteira da Bélgica, acolheu-me numa manhã de chuva, após viagem de comboio de Paris. O famoso TGV (Train de Grande Vitesse) obrigou-me a ver de corrida as paisagens verdes do caminho. Acolhido pelos Espiritanos que ali mantêm jovens em formação e uma paróquia, tive menos de 24h para falar com cada um e partilhar a vida e a missão de Espiritanos que ali vivem e estudam. Um assalto à casa, ocorrido durante a Missa, destruiu todas as portas, derrubou os móveis e espalhou pelo chão papeis, livros, máquinas e roupa. Parecia que um furacão passara por ali. Isto diz bem da insegurança que começa a amedrontar as pessoas. Mas passemos adiante: nesta comunidade, além de três Padres e um Irmão, vivem cinco jovens em estágio de língua: dois do Vietname, um da Tanzânia, um do Gabão e um de Angola. Foi uma alegria partilhar uma missão plural tão cheia de esperança.

Novamente de TGV, parti para Rennes, cuja experiência já partilhei. Gostava só de contar a alegria que tive ao visitar a grande exposição sobre Marcel Callo, um jovem operário, activista da acção católica, que seria martirizado pelos nazis em 1945, no campo de extermínio de Mauthausen, na Alemanha, ‘por ser excessivamente católico’. Tinha 23 anos. Nascido em Rennes, é uma das figuras maiores desta cidade e foi proposto como uma dos patronos das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) de Lisboa. Outro destaque desta minha viagem por terras da Bretanha prende-se com a muita publicidade às JMJ, com muita criatividade, uma vez que o famoso ‘eléctrico’ de Lisboa consta em todos os cartazes que fui encontrando.

A viagem mais atribulada seria feita de carro, entre Rennes e a Abadia de Langonnet. Saímos cedo, mas já havia piquetes de estudantes junto à faculdade de Direito e Ciências Politicas. Estava a arder uma fogueira e queriam bloquear a rua. Pedimos, de mansinho, autorização para passar e ainda o conseguimos fazer. A estrada para o litoral estava livre mas, à saída, encontramos um piquete de grevistas que só deixavam passar um carro cada 20 minutos! Ali ficamos, numa fila de perder de vista, mais de 2h. Chegaríamos à Abadia de Langonnet quando os 25 Espiritanos anciãos que lá vivem já terminavam o almoço e avançavam para uma merecida sesta. Assim, o início da minha visita ficou adiado para o meio da tarde. Pude, entretanto, visitar a pé boa parte da Abadia e terras a ela pertencentes. Falar com estes velhos Espiritanos é percorrer quase todos os países do mundo e somar mais de 2 mil anos de vidas! Esta Abadia, que foi Cisterciense de 1136 a 1790, seria habitada por muitas gerações de Espiritanos, desde 1857 até aos dias de hoje. Muitas páginas de missão lá foram e são escritas. O P. Bernard Tenailleau, Reitor do Seminário Francês em Roma durante vários anos, fez-me uma visita guiado a boa parte dos espaços exteriores, com especial relevo ao cemitério, onde estão sepultados cerca de 800 Espiritanos! É o maior cemitério que a Congregação tem no mundo inteiro e não vejo grandes hipóteses deste record ser um dia ultrapassado! O espaço mais antigo que chegou aos dias de hoje é a Sala do Capítulo dos Cistercienses, hoje transformada numa belíssima Capela, onde os missionários celebram diariamente a Eucaristia e rezam a Liturgia das Horas.

A Abadia, situada mesmo no meio da natureza, tem como cidade mais próxima, Lorient, a 40 kms! Foi ali que me levaram para eu apanhar um comboio regional para Nantes. Lá encontraria quatro simpáticos confrades, originários da França, Angola, Camarões e Congo-Brazzaville. Ali vivem e animam a Paróquia de St. Yves, na periferia complicada da cidade, com as Igrejas de S. Michel e St. Etienne, onde tive a alegria de participar em duas festivas missas de Domingo de Ramos. Pude visitar duas Escolas da Fundação Aprentis d’Auteuil, uma instituição que acolhe e acompanha jovens com dificuldades familiares, psicológicas, físicas, sociais ou académicas.

Depois deste banho de ‘Bretanha’, o TGV devolveu-me a Paris onde vivi uma Semana Santa e uma Páscoa muito especiais. Deste fim de visita a França, falarei na próxima crónica. Desejo a continuação de uma excelente Páscoa.

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