LUSOFONIAS – De Benguela ao Huambo

Tony Neves

A cidade das acácias rubras, Benguela,  acolheu-me ao entardecer. Atravessei-a para chegar ao Pópulo, a Igreja-Mãe, construída há 402 anos. Está confiada aos Espiritanos há quase 150. As manhãs acordam cedo nestas paragens e às 6.10 já estava na Igreja. O encontro sobre ‘Justiça, Paz, Integridade da Criação, Diálogo e boa Governação’ juntou centena e meia de pessoas, as forças vivas da Paróquia e os Leigos Espiritanos. O debate foi animado e feliz, como as propostas de Missão do Papa Francisco. A tarde foi no grande Seminário do Bom Pastor, onde se preparam os futuros pastores da diocese angolana com mais padres: Benguela. No auditório estavam mais de três centenas de pessoas, na sua maioria, seminaristas. Do programa, organizado pelas Academias de Filosofia e Teologia, constavam diversas intervenções que deram solenidade ao acto. Longo foi o período de debate, com questões de resposta muito difícil, a condizer com o tema em discussão.

Lobito foi a etapa seguinte. Atravessei Benguela de dia, dando para cruzar a sua beleza com muitos problemas à mistura, no que diz respeito às condições das estradas e das habitações. Mas há muita vida, sempre gente a circular.

A estrada que liga Benguela ao Lobito vive em hora de ponta contínua: muitos carros na rua, muitas paragens, muitos mercadinhos na berma, tornando perigosa a circulação. À direita estão os morros, hoje habitados na sua maioria, podendo nós ver pequenas casas a trepar pelo monte.

Entrar no Lobito e subir ao S. João é privilégio só de jeep ou de mota, tal o estado lastimoso da picada que atravessa um enorme mercado popular, cheio de barracas feitas com paus espetados na terra batida. Nos morros há hoje milhares de casas construídas durante a guerra civil pelo povo que fugiu dos combates e tentou a segurança da cidade. Foi na Igreja de S. João que aconteceu mais um momento deste Simpósio, com gente que entendia tudo o que se dizia quando o tema era a guerra, a pobreza e os seus trágicos efeitos na vida das pessoas mais pobres. A tarde foi conventual, no Mosteiro das Dominicanas, com duas dezenas de Irmãs de Vida Contemplativa, a morar mesmo em frente à Casa do Gaiato.

Subir ao planalto central é uma manhã muito cheia de paisagens belas, pequenas ou média povoações, mercados à borda da estrada…sempre a acompanhar as curvas do caminho de ferro de Benguela que atravessa todo o país. Chegar ao Huambo é entrar em casa. Fui recebido por todos os Espiritanos que trabalham na Diocese. Visitei logo o Arcebispo, o Seminário Maior e algumas Comunidades Religiosas. Mas as razões que me levaram ali foram as conferências…e tive direito a duas, de casa cheia, com o pessoal missionário, os seminaristas e muitos leigos empenhados em diversos sectores de pastoral.

Pude celebrar Missa na ‘minha’ Paróquia da Tchiva, nas periferias da cidade, bem como nas Casas das Espiritanas, Filhas d’Africa e Seminário Espiritano, as minhas habituais ‘Capelanias’ há 25 anos atrás.

O Lubango me espera, à sombra da Senhora do Monte e do Cristo-Rei.

 

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