LUSOFONIAS – Carta Ecuménica Europeia

Tony Neves, em Roma

Foi há vinte anos em Estrasburgo. O Cardeal Miloslav Vlk (Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa) e o Metropolita Jeremie (Presidente da Conferência das Igrejas Europeias) assinaram, a 22 de abril de 2001, a Carta Ecuménica que contem as ‘linhas mestras para o aumento da colaboração entre as Igrejas na Europa. Assim, Católicos, Protestantes e Ortodoxos, deram um passo enorme no caminho de mais e melhor unidade entre os cristãos que vivem na Europa, ‘do Atlântico aos Urais, do cabo Norte ao Mediterrâneo’. Sobretudo, quiseram demonstrar que é muito mais aquilo que nos une do que o que nos separa.

Para trás, estava já percorrido um longo caminho, sempre na direcção de uma unidade que corresponda à vontade de Deus. Cristo foi claro ao dizer que quer que ‘todos sejam um’ e que ‘haja um só rebanho e um só Pastor’. Há que cumprir esta passagem da Bíblia, sem pressas nem ingenuidades, mas com grande sentido de responsabilidade cristã.

A Carta Ecuménica começa por apresentar os cristãos das diferentes confissões a bater com a mão no peito e a seguir em frente: ‘conscientes da nossa culpa e prontos para a conversão, devemos empenhar-nos em superar divisões que ainda existem entre nós, de modo a anunciar juntos, de modo crível, a mensagem do Evangelho aos povos’. Esta Carta, sem nada impor, traduz um ‘compromisso comum com o diálogo e a colaboração’, promove ‘a cultura ecuménica’ e quer levar as Igrejas a contribuir juntas para ‘a reconciliação dos povos e das culturas’.

Tem III Partes e 12 pontos. Há sempre uma breve exposição que termina com propostas de compromisso ecuménico. Na I Parte (‘Cremos na ‘Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica’’, pede-se o compromisso de uma comunhão mais visível entre todos os cristãos. ‘A caminho, rumo à unidade visível das Igrejas na Europa’ é o título da II Parte que sugere às Igrejas que partilhem mais umas com as outras, anunciem juntas o Evangelho de Cristo, que haja respeito pelas opções de pertença de cada cristão, trabalhem e rezem juntas. A III Parte é sobre ‘a nossa responsabilidade comum na Europa’. É urgente que as Igrejas deem as mãos para ajudar a construir uma Europa assente sobre os valores evangélicos’ da paz, justiça, liberdade, tolerância, participação e solidariedade’. Deve ainda ultrapassar-se ‘toda a forma de eurocentrismo e reforçar a responsabilidade da Europa em relação a toda a humanidade, em particular pelos pobres de todo o mundo’. Há um compromisso expresso de ‘contrariar toda a forma de nacionalismo e procurar uma solução não violenta dos conflitos’, e ainda ‘melhorar e reforçar a condição e a paridade de direitos das mulheres em todas as esferas da vida’. A questão ecológica também é clara: ‘queremos empenhar-nos juntos em criar condições sustentáveis de vida para toda a criação’, optando por estilos de vida simples e sustentáveis. O Diálogo inter Religioso está presente na vontade de aprofundar e cultivar relações com o judaísmo, islamismo e outras religiões e visões do mundo.

Ora, esta Carta tem 20 anos, muitas propostas e alguns desenvolvimentos. É hora de agradecer os passos dados e questionar o que não se conseguiu avançar neste caminho ecuménico. Recordo as muitas reflexões feitas e iniciativas lançadas em Portugal pela Equipa Ecuménica Jovem que, entre outros projetos, realizou anualmente, a partir de 1999, o Fórum Ecuménico Jovem.

20 anos depois, mudam as lideranças, mas o ideal mantém-se firme. Assim, o Cardeal Angelo Bagnasco (Presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa) e o Reverendo Christian Krieger (Presidente da Conferência das Igrejas Europeias) fizeram uma Declaração Conjunta para evocar a importância e atualidade desta Carta Ecuménica. Dizem: ‘Nos últimos vinte anos o continente Europeu experimentou um relativo período de paz, e simultaneamente um desenvolvimento das relações ecuménicas’. Regozijam-se ‘pela paz que experimentamos e por tudo o que fomos capazes de alcançar no movimento ecuménico global’. Mas, persistem divisões nas Igrejas e desigualdades sociais gritantes no continente e no mundo, o que mostra que a Missão das Igrejas não está concluída. Há muito que fazer…

Concluem: ‘Estamos conscientes de que a unidade dos cristãos não resulta apenas do nosso esforço humano. Ao mesmo tempo, esta unidade, pela qual Jesus orou e sofreu, deve ser percetível neste mundo. Nesse sentido, desejamos ser instrumentos dessa unidade e comprometermo-nos novamente com o fortalecimento da comunhão eclesial por meio da oração e da ação comum, e simultaneamente oferecemos ao mundo o nosso serviço na promoção da justiça e da paz’.

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